Artigos de saúde

01 - Introdução

Em todo o mundo, pelo menos uma em cada três mulheres já foi espancada, coagida ao sexo ou sofreu alguma outra forma de abuso durante a vida. O agressor é, geralmente, um membro de sua própria família. Cada vez mais, a violência de gênero é vista como um sério problema da saúde pública, além de constituir violação dos direitos humanos.

A violência tem resultados devastadores para a saúde reprodutiva da mulher, além de afetar seu bem-estar físico e mental. Além das lesões físicas, a violência aumenta o risco, a longo prazo, de que a mulher tenha outros problemas de saúde, incluindo dores crônicas, incapacidade física, abuso de drogas e álcool, e depressão. As mulheres com histórico de agressão física ou sexual também correm maior risco de ter uma gravidez indesejada, de contrair uma infecção sexualmente transmitida e de sofrer um resultado adverso em sua gravidez. No entanto, as vítimas de violência que buscam atendimento de saúde têm necessidades que os profissionais de saúde não reconhecem, não investigam e não sabem como abordar.

A violência contra as mulheres adultas e jovens inclui a agressão física, sexual, psicológica e econômica. É conhecida como violência “de gênero” porque resulta, em parte, da condição subordinada que a mulher ainda tem na sociedade. Muitas culturas mantêm crenças, normas e instituições sociais que legitimam e, portanto, perpetuam a violência contra a mulher. Os mesmos atos que seriam punidos se perpetrados contra um empregador, vizinho ou conhecido, com freqüência permanecem impunes quando perpetrados contra as mulheres, especialmente dentro de uma mesma família.

Duas das formas mais comuns de violência contra a mulher são a agressão de seu parceiro íntimo masculino e a coerção ao sexo, seja na infância, adolescência ou idade adulta. A agressão do parceiro íntimo—também conhecida como violência doméstica, maus-tratos ou espancamento da esposa—é quase sempre acompanhada de agressão psicológica e, de um quarto a metade das vezes, também de sexo forçado. A maioria das mulheres que são agredidas por seus parceiros são violentadas repetidamente. Na verdade, os relacionamentos abusivos desenvolvem-se geralmente em um ambiente permanente de terror.

Como os profissionais de saúde podem ajudar

Os profissionais de saúde podem fazer muito para ajudar suas clientes vitimas da violência de gênero. Mas, com freqüência, perdem as oportunidades de ajudar por se manterem desinformados, indiferentes ou preconceituosos. Quando recebem treinamento e contam com o apoio dos sistemas de saúde, os profissionais e os serviços de saúde podem fazer muito mais para responder às necessidades físicas, emocionais e de segurança de mulheres adultas e jovens que são agredidas.

Primeiramente, os profissionais e serviços de saúde devem aprender a abordar a questão da violência com as mulheres de uma forma que as ajude ao mesmo tempo, demonstrando compreensão e oferecendo apoio. Eles podem prestar atendimento médico, documentar os ferimentos sofridos e encaminhar tais clientes aos serviços de assistência legal e social.

O planejamento familiar e outros serviços de saúde reprodutiva têm, particularmente, a responsabilidade de ajudar, porque:

• assédio tem um impacto muito forte—apesar de pouco reconhecido—na saúde reprodutiva das mulheres e no seu bem estar sexual;
• Os profissionais de saúde só podem fazer um bom trabalho quando entendem que a violência contra a mulher e a falta de poder destas afetam sua saúde reprodutiva e sua capacidade de tomar decisões;
• Os profissionais de saúde reprodutiva estão em posição estratégica ideal para identificar as vítimas da violência e encaminhá-las a outros serviços comunitários de apoio.

Os profissionais de saúde podem mostrar às mulheres que a violência é inaceitável e que nenhuma mulher merece ser espancada, sofrer abuso sexual ou padecer de sofrimentos emocionais. Como disse uma paciente (379): “Só a compaixão abre as portas. Quando nos sentirmos seguras e capazes de confiar, as coisas começarão a mudar.”

Respostas da sociedade

Sozinhos, os profissionais de saúde não podem transformar o meio social, cultural e jurídico que gera e tolera a violência generalizada contra a mulher. Para acabar com a violência física e sexual é preciso que todos os segmentos da sociedade se empenhem e tenham estratégias de longo prazo. Muitos governos se comprometeram a acabar com a violência contra as mulheres aprovando e executando leis que asseguram a elas o cumprimento de seus direitos legais e punem os culpados. Também existem estratégias comunitárias que buscam dar mais poderes às mulheres, trabalhar também com os homens e mudar os tipos de crenças e atitudes que permitem o comportamento abusivo. Somente quando as mulheres conquistarem uma posição de igualdade com os homens na sociedade, a violência contra elas deixará de ser uma norma invisível e passará a ser vista como uma aberração inaceitável.


Population Reports is published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health, 111 Market Place, Suite 310, Baltimore, Maryland 21202-4012, USA