Artigos de saúde
Neste Artigo:
- Os Hormônios Femininos
- A Pílula do Aborto
- A Conduta Francesa, Passo a Passo
- O Que Acontece a Seguir
- Estranha Teia
- O Outro Lado da Moeda
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Tema
Para aumentar a controvertida questão do aborto, chega ao mercado a pílula abortiva,
além da pílula do dia seguinte. Enquanto as discussões se concentram nas questões
paralelas de super população, nas questões econômicas e nos fabricantes da droga, as
poucas explicações dadas às mulheres sobre a droga, sobre a conduta, os resultados, o
que pode ocorrer a ela e ao bebê são bastante resumidas. Aqui damos um passo-a-passo
sobre como a droga é administrada na França, condições ideais que nem de longe
espelham a realidade da América Latina. A partir destas informações, a mulher pode
decidir se deseja ou não fazer uso da pílula abortiva.
Os Hormônios Femininos
Existem dois hormônios femininos considerados reprodutores, relata Dr. J.C.Wilke. Um
deles é o estrógeno, que dá forma ao corpo da mulher; o outro é a progesterona,
chamado também de hormônio da gravidez. A progesterona prepara o útero para receber o
embrião e se mantém durante a gravidez, pois é um hormônio nutritivo.
A progesterona só é expulsa do organismo, por vias naturais, quando o óvulo não foi
fecundado, o que ocorre na mulher uma vez por mês, nos períodos da vida em que a mulher
é fértil.
Assim, qualquer droga que bloqueie a ação da progesterona não está evitando a
gravidez, mas sim fazendo com que ela não possa continuar, uma vez que este hormônio é
vital para o desenvolvimento do bebê.
A Pílula do Aborto
Segundo a U.S. News, a droga mifepristona, também conhecida por RU-486, tem esse nome
porque as iniciais R.U. são do seu fabricante francês, Roussel Uclaf. Nos Estados
Unidos, sua subsidiária, a Hoechst Marion Roussel, diante das discussões acabou doando
os direitos para a Population Council em 1994, para que esta encontrasse um fabricante,
jogando para frente a questão da liberação do RU-486, que vem de muito antes do governo
Clinton.
O Dr. Wilke relata que o RU-486 bloqueia a ação da progesterona, cortando assim o
suprimento do bebê que, desta forma, não tem como se desenvolver. O médico enfatiza que
existe uma única função cientificamente provada para esta pílula, que é a de
interromper a vida de um bebê no útero assim que seu coração começa a bater. Ele diz
que a pílula não é um contraceptivo e que não evita a liberação do óvulo
fertilizado. Segundo Dr. Wilke, o RU-486 foi tentado como uma pílula mensal, mas acabou
se mostrando ineficaz e foi rejeitada pelas mulheres.
Existe um curto espaço de tempo, uma janela no tempo, explica, em que a pílula é eficaz
no que se propõe, isto é, em destruir o embrião. Este período está situado entre a
sexta e a sétima semana. Se ingerido após esse período, ou seja, a cada dia que passa,
o RU-486 faz cada vez menos efeito.
A Conduta Francesa, Passo a Passo
Considerando o acima, se a mulher vai ao médico para tomar a pílula depois desse
período, em geral ela deve tomar, além do RU-486, uma segunda droga que tem em seu
composto a prostaglandina. Esta tem a função de fazer o útero contrair-se, expelindo o
que ali exista.
Ainda assim, alerta o Dr. Wilke, depois de tomadas as duas drogas, a mulher muitas vezes
acaba passando por uma curetagem, para limpar os resíduos uterinos e evitar o que
acontece em alguns casos - mesmo tomando a pílula, algumas mulheres não abortam e, neste
caso, o embrião - agora já um feto – permanece, mas pode sofrer deformidades. Na
verdade, diz ele, a mulher termina por tomar a pílula e pode vir a sofrer também um
aborto cirúrgico.
Se na França o RU-496 é utilizado, lembra o médico, também na França o controle sobre
as condições da mulher é bastante rigoroso e ela não toma a pílula sem que o médico
analise todo seu histórico, ou sem prévios exames de sangue para prevenir anemia ou
tabagismo, quando a pílula é contra-indicada.
Igualmente, se ela tiver problemas de circulação, asma, pressão alta, tumores fibroides
no útero, glaucoma, úlcera estomacal, colite, ou ainda infecção nos órgãos genitais,
ou se passou recentemente por uma cesária, ela não recebe a pílula. É também feito um
ultra-som para confirmar a gravidez no útero, e não nas trompas, local muito remoto para
a pílula funcionar. Então a grávida recebe um formulário onde preenche seus dados e
assina concordando em um ponto que Dr. Wilke considera muito curioso: que ela aceita tomar
a prostaglandina caso não aborte e, se mesmo assim não abortar, que concordará em
submeter-se a um aborto cirúrgico. A mulher deve declarar que, não tendo abortado, caso
se recuse a fazer aborto cirúrgico, ela não entrará na justiça contra o fabricante da
droga.
Depois disto, a lei francesa exige um período de espera de uma semana, quando a mulher
retorna a clínica e ingere a pílula na presença do médico e de seus assistentes. Ela
retorna então para uma terceira visita e, caso venha a expelir partes do feto, deve
coletá-las em um frasco e levar à clínica para exame. Caso não tenha abortado, é dado
a ela a prostaglandina e ela permanece um dia na clínica em observação. Se não abortou
até o final da tarde, é levada então ao centro cirúrgico, onde é feito o aborto. Só
depois ela volta para casa.
O Que Acontece a Seguir
O Dr. Wilke relata que a mulher retorna para uma quarta visita, quando, em condições
ideais, ela tem alta. Mas isso em geral não ocorre, diz ele, por várias razões, uma
delas é que a mulher costuma ter um sangramento muito intenso.
Há outros problemas, como dores fortes, náusea, vômitos e ainda problemas cardíacos,
com alguns casos já admitidos pelo fabricante, segundo o médico, e que fazem com que a
mulher se obrigue a constantes retornos. Por outro lado, o médico reforça a afirmação
de que mulheres que não conseguiram abortar deram à luz bebês deformados.
Isso tudo provoca um severo dano no psiquismo da mulher, afirma Dr. Wilke. Ela deseja e,
ao mesmo tempo, não deseja fazer o aborto, pois esta é uma questão em que a mulher se
vê ambivalente. No caso da cirurgia, ela ainda pode pensar "eles estão fazendo isso
comigo", mas isso não funciona no caso da pílula, pois ela própria a ingere, sem a
manipulação de terceiros.
Outra coisa que pode acontecer é a mulher tomar a droga e arrepender-se, decidindo seguir
com a gravidez até o fim. E também, caso a droga não funcione, ela toma aquilo como um
sinal.
Acontece, diz o médico, que essa é uma droga venenosa, uma vez que foi fabricada para
matar um ser humano em desenvolvimento, e isso pode provocar as deformidades tal como fez,
pouco tempo atrás, a talidomida.
Estranha Teia
- Hoechst, Marion, Roussel fazem bilhões de dólares nos Estados Unidos. Eles possuem
também a Celanese Corp, e fabricam agroquímicos, pesticidas e outras drogas, afirma o
Life Issues Institute. Há outra companhia envolvida, a G.D. Searle, localizada nos
arredores de Chicago. Há poucos anos, relata Dr. Wilke, ele próprio foi a única
testemunha contra essa fábrica, quando a FDA votava a licença para uma forma oral de
prostaglandina chamada Cytotec, que é usada para tratar atrite e tem propriedades
abortivas.
- A Searle, relata o médico, não aprovou o uso abortivo do Cytotec no Brasil, mas o
remédio está no mercado.
- David Kessler, nomeado por Bill Clinton como chefe da FDA, convidou o diretor da Roussel
Uclaf para vir à América e uma série de pressões foram feitas para que a Searle, que
por sua vez pertence à Monsanto (que entre outros químicos produz adoçantes), apoiasse
o uso do Cytotec.
- As drogas abortivas nasceram com o papel original de tratar o câncer e outras doenças
e muitas drogas correlatas estão no mercado, inclusive no mercado brasileiro. No Brasil,
por lei, o aborto é proibido, e é passível de pena tanto quem pratica como quem permite
e é conivente com a prática.
- O National Coalition of Abortion Providers preparou uma conferência em outubro, onde se
estabeleceu previamente que, ao se discutir a mifepristona, que compõe a droga abortiva,
os conferencistas não estão liberados a citar o nome dos fabricantes - "Eu mesmo
tenho que chamar o palestrante de "o homem da mifepristona", disse Ron
Fitzsimmons, diretor executivo da organização.
- As drogas abortivas são chamadas pelos médicos contra o aborto de pesticidas humanos.
- Em biotética normativa, o uso de uma droga potente como o metotrexato, por exemplo,
requer um benefício significante que supere os riscos, ou seja, a doença deve ser de tal
gravidade que se justifique o uso da droga, o que não é o caso de uma gestação.
- Para escapar da polêmica, algumas drogas abortivas já em uso são agora denominadas
"anticoncepção de emergência", segundo J. Scalla, da imprensa argentina.
Conforme ele afirma, um consórcio de nove entidades envolvidas no controle da natalidade
em nível internacional contratou o laboratório Gedeón Richter para comercializar uma
nova pílula abortiva, utilizando essa denominação para a droga.
- No momento, diz ele, o consórcio está tentando introduzir a pílula na Colômbia,
Kênia, Indonésia, México, Nigéria e Sri Lanka, planejando ampliar suas atividades para
o Brasil, Paquistão, Tanzânia e Vietnã.
- Paralelamente a Organização Mundial da Saúde (OMS), está financiando pesquisas para
outras pílulas abortivas, na Índia, afirma J. Scalla.
- Os remédios mudam de nome em cada país, tornando quase impossível um acompanhamento.
- Na Argentina, por exemplo, relata, a pílula abortiva se denomina Imediat, fabricada
pelos laboratórios Gador e tem autorização outorgada pelo Ministério da Saúde e
Ação Social da Nação.
- Em 28 de setembro de 2000, a FDA (Agência Federal de Controle de Produtos Alimentícios
e Farmacêuticos, com sede em Nova Iorque) autorizou a fabricação e comercialização do
RU-486 nos Estados Unidos.
- Segundo Dr. B. Nathanson, foi em 1985 que Mark Bygdeman propôs acrescentar ao RU-486 a
prostaglandina para 'melhorar sua eficácia abortiva'. Mark Bygdeman pertence ao
Karolinska Institute, de Estocolmo.
O Outro Lado da Moeda
De acordo com uma pesquisa divulgada em 1999 pela Organização Mundial de Saúde,
seis milhões de mulheres praticam aborto induzido na América Latina todos os anos.
Destas, 1,4 milhão são brasileiras e uma em cada 1.000 morre em decorrência do aborto.
Como a maioria dos procedimentos abortivos são ilegais no Brasil, as mulheres que optam
por interromper uma gravidez o fazem na clandestinidade e freqüentemente em condições
perigosas. Como resultado, enfrenta-se um problema sério de saúde pública, que ameaça
as vidas das mulheres, põem em perigo a sua saúde reprodutiva e impõem uma tensão
severa nos já sobrecarregados sistemas de saúde e hospitais.
Entre os interesses econômicos da indústria farmacêutica, os interesses políticos, a
visão ética e religiosa de cada cultura, que influencia nas legislações, como
encontrar a solução para o importante problema de saúde pública por trás do aborto e
que envolve, diretamente, a "pílula do dia seguinte"?
Antes que a critiquem ou que a tomem por tábua de salvação, há que considerar as
muitas mulheres que, por falta de opções, interrompem uma gravidez sem nenhuma
assistência médica, e morrem com agulhas de tricô enfiadas no colo do útero. Não se
pode deixar de levar em conta o importante debate sobre a natureza do aborto, se a pílula
do dia seguinte é ou não abortiva, se seus efeitos colaterais compensam ou não o seu
benefício – e se de fato este benefício é assim tão benéfico, como abordado no
início deste artigo. Ainda é preciso considerar os casos em que o aborto é legal:
quando a gravidez é originada de um estupro, por exemplo, ou quando a mãe corre risco de
vida em levar a gravidez adiante.
Há quem arrisque que já é tempo de oferecer mais informação aos homens e mulheres
atingidos pela gravidez não planejada, para que tenham de fato ciência de suas opções,
para que tomem iniciativas preventivas, para que realmente tenham em suas mãos – e
não nas mãos do Governo ou da indústria - o futuro de suas vidas e famílias.
Copyright © 2000 eHealth Latin America
14 de Novembro de 2000
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