Artigos de saúde
Este é o drama central por baixo do aquecimento na Terra: a
habilidade deste planeta em manter sua civilização versus a sobrevivência das
empreitadas comerciais mais amplas da história.
Ross Belbspan
Neste Artigo:
- No Mundo da Lua
- Enquanto Isto, na Terra
- Nós e o Efeito Estufa
- Quando os Bichos se Calam
- Os Temíveis El Niños
- Os Seres Vivos em Risco
- As Soluções Possíveis
- Curiosidades
Uma baleia visitando inesperadamente nossas praias pode ser um excelente divertimento
para os olhos. Mas se elas saíram de onde habitavam, isso deve ter algum motivo. Neste
caso, o motivo pode ser o aquecimento do mar, ou o extremo resfriamento do mar em outras
regiões. Embora não pareça, a saída de um animal de regiões longínquas em busca de
sobrevivência pode ter começado na emissão de gases poluentes das chaminés de uma
fábrica, muitos quilômetros distantes dali.
Para entender o aquecimento global e tomar parte de suas soluções, é necessário ao
homem desenvolver pelo menos dois princípios: primeiro, o de estabelecer relações entre
as coisas; e segundo, o de pensar coletivamente. Sem privilegiar estas duas formas de agir
no mundo, de nada adiantará tanta tecnologia. E a vida que está em jogo quando o planeta
entra em clima de ebulição - e se este clima é causado por nós, está mais que na hora
de reverter o quadro até onde nos for permitido.
No Mundo da Lua
Talvez por isto se diga que a lua é dos namorados, cuja 'temperatura' das paixões
vai de um extremo a outro com a maior facilidade. É que não existe efeito estufa em
torno da Lua. Isto acontece porque as condições da Lua são diferentes das condições
aqui da Terra, onde existe atmosfera. Se o nosso planeta fosse como a Lua, teria hoje a
temperatura oscilando em torno de 100ºC durante o dia e chegando até -150ºC no
período da noite.
Compreender a ausência do efeito estufa na Lua é importante, pois a partir daí se
pode também compreender a função do efeito estufa que existe no planeta Terra, mantendo
a temperatura em uma faixa bem mais estreita e definida de estabilidade.
Enquanto Isto, na Terra
Aquecimento e elevação do nível dos oceanos e marés, variações climáticas,
produção agrícola afetada, danos a obras costeiras e portuárias, mudança no uso das
áreas afetadas, prejuízos aos sistemas de abastecimento d'água - estas são as
indicações do IACID para o que já está ocorrendo com o nosso ambiente.
E é fácil entender o que acontece quando o nosso planeta se torna aquecido demais. A
Terra é um corpo do sistema planetário e, assim, podemos imaginar que ela seja como um
corpo humano, e um corpo humano tomado por uma febre. Nessa situação, diante da febre
muito alta, isto é, quando a temperatura do corpo aumenta em nível acima do normal,
todos os integrantes de nosso corpo se põem a correr daqui para lá, tentando se
reorganizar e sobreviver. A quantidade de água no corpo, tão importante para o nosso
equilíbrio, se modifica. Podemos ficar desidratados, o oxigênio diminui, o sangue
enfraquece – a vida ativa de um glóbulo vermelho, que em situação normal é de 120
dias, quando então ele é substituído, pode estar contada naquele mesmo momento, se a
temperatura do corpo passar de 36ºC para acima de 40ºC.
Guardadas as devidas proporções, o mesmo se passa no corpo da Terra. Segundo a WWF -
entidade internacional que investiga os fenômenos da Natureza, o clima na Terra é
resultado de um delicado equilíbrio de seu balanço energético, e a temperatura de um
planeta é fruto da composição de sua atmosfera. Ocorre que a atmosfera terrestre é
baseada principalmente em nitrogênio e oxigênio e apenas em 0,03% de CO2. Alterações
nessa composição, em especial o aumento do CO2, só poderão provocar desequilíbrios,
afirma o WWF.
Nós e o Efeito Estufa
Os gases da atmosfera, como dióxido de carbono, oxigênio e hidrogênio, além de
vapor de água, formam uma espécie de redoma que impede que o calor absorvido através
dos raios de sol escape para o espaço exterior, mantendo diuturnamente o equilíbrio
térmico no planeta. Se não fosse por isso, a superfície da Terra seria coberta de gelo.
Essa característica benéfica da camada de ar em volta do planeta recebe o nome de
"efeito estufa". Na verdade, a Terra é uma exceção à regra das condições
existentes nos outros planetas, por isso é habitável.
Em condições normais, o efeito estufa é então, de certo modo, nossa camada de
proteção e tem um lado positivo a considerar. Na atmosfera, como ele torna difícil que
os raios solares se dissipem no espaço externo, termina mantendo a Terra aquecida, o que
é benéfico para as plantações. Na Terra, a temperatura se mantém constante, não
oscila tanto como na Lua.
Mas se esse aquecimento aumenta, as coisas mudam de figura. A partir de certo ponto, o
efeito estufa pode se tornar prejudicial, pois o calor na Terra acaba tornando
impraticável a vida como ela é agora.
Conforme as indicações do IACID - Inter-American Council for International Development,
"o efeito estufa é representado pela elevação da temperatura na superfície do
globo, sendo seus principais resultados tufões, enchentes, desequilíbrios climáticos em
geral". Esse efeito é provocado, principalmente, pelo aumento das concentrações de
dióxido de carbono – CO2 - e outros gases na atmosfera, afirma o IACID, quando a
Terra acaba se aquecendo além do normal. A temperatura da Terra tem aumentado pouco a
pouco ao longo dos anos, elevando-se em um grau Celsius entre 1880 a 1980.
Além de estar mais quente, o nível dos oceanos está subindo devido ao aumento do efeito
estufa.
Praias inteiras tendem a desaparecer, inclusive no Brasil, e seus habitantes são
forçados a se mudar de região.
O efeito estufa começou a acelerar-se quando começaram a existir as indústrias, que
despejam vários tipos de poluentes no ar. Até que mecanismos anti-poluentes fossem
aperfeiçoados, esse efeito já era considerável. E mesmo depois disto, na prática, a
proliferação das indústrias e a falta de cuidado e atenção destas para com o meio
ambiente continua provocando estragos.
O relatório do IACID afirma que desde o início da revolução industrial a humanidade
tem acelerado a queima de combustíveis fósseis, jogando seus gases na atmosfera.
Já a WWF relata que os Estados Unidos são os primeiros a contribuírem para o
agravamento do efeito estufa, muito embora os próprios ambientalistas norte-americanos
alertem para o fato.
As conseqüências do superaquecimento na Terra são as secas, novas doenças e o
agravamento de doenças já existentes, enchentes e pragas. A agricultura sendo atingida,
também acarretará o aumento da fome. As geleiras tendem a derreter, as tempestades se
tornam cada vez mais fortes e o nível dos mares, elevando-se, fazem com que os mares
avancem por sobre as áreas habitadas da orla marítima.
O WWF adverte: "As alterações na camada de ozônio provocam ainda problemas
climáticos, como alterações na temperatura terrestre e na circulação da atmosfera. A
gravidade do problema é tal que as soluções têm que ser encontradas a curto prazo, sob
pena dos danos causados se tornarem irreversíveis".
Ainda segundo o WWF, os tratados internacionais já assinados mostram uma efetiva
preocupação com a destruição da camada de ozônio e também indicam as medidas que se
deve adotar. "Somente a eliminação do uso de gases nocivos na produção industrial
trará efeito significativo à proteção da camada que filtra os raios ultravioletas
antes que eles atinjam a Terra", concluem os dirigentes do WWF.
Para os especialistas da Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos -
NOAA, o clima rigoroso, as chuvas torrenciais e os invernos mais severos em certas
regiões são provenientes do efeito estufa no planeta.
Quando os Bichos se Calam
No interior do Brasil, é possível observar o comportamento das aves e até conhecer
as espécies sem sair de casa. Pela manhã, elas chegam em bandos e fazem uma algazarra
nos telhados e nas árvores - são bem-te-vis, beija-flores, pardais. Mas, de dois anos
para cá, esta população está mudando. Outras aves têm vindo pousar nos limoeiros,
algumas espécies maiores que em geral não são facilmente encontradas na cidade. Em
certos dias, é possível pressentir a chegada de tempestades ou de alguma mudança no
clima pelo barulho que elas fazem - ou pelo seu desaparecimento, logo em seguida. Alguns
insetos também marcam presença em determinadas épocas e desaparecem em outras, como as
abelhas, as formigas, aranhas e uma infinidade de outros pequenos seres. Essa observação
doméstica é muitas vezes aprimorada pelos estudos dos biólogos, ornitólogos e
botânicos, que estudam esses seres mais próximos do seu habitat natural - os bosques e
as florestas.
Esses estudiosos têm observado que algumas florestas (especialmente nos Estados Unidos)
estão mais silenciosas. Ou seja, os bichos saíram dali para algum lugar, independente de
sua época de migração.
A observação das abelhas e das borboletas é muito importante para se medir as mudanças
climáticas. Onde elas estão, o ar ainda está propício à vida.
A migração das baleias e golfinhos também é um fenômeno que vem sendo cada vez mais
observado. Até mesmo pingüins têm sido encontrados em regiões fora de seu habitat
original.
Nos lugares onde eles antes estavam, possivelmente, houve o degelo, as correntes aéreas e
marítimas sofreram mudanças e esses animais, aves e insetos foram obrigados a partir.
Eles também não são mais indicadores das estações, pois as estações igualmente têm
se modificado.
O aquecimento global, com o surgimento dos El Niños, tem deixado plantas, homens e
animais literalmente confusos. O primeiro resultado disto, por enquanto, é apenas o
silêncio da floresta.
Nas palavras do IACID, "A biosfera necessita de um perfeito equilíbrio entre os seus
componentes para prover habitat adequado ao desenvolvimento de todas as formas de
vida. Qualquer ação excessiva sobre um ou outro componente poderá comprometer a vida na
terra".
Os Temíveis El Niños
Marcelo Gleiser, físico brasileiro que leciona nos Estados Unidos, lembra que o sol
não deve ser motivo de preocupação - pois alguns estudiosos dizem que o calor é devido
às crescentes explosões solares. Ele diz que "o sol ainda produzirá, docilmente,
energia para nós durante 5 bilhões de anos".
Mas, quando se trata de fenômenos como o do aquecimento da Terra, o físico trata de
explicar que existe uma interação entre a dinâmica dos oceanos, por exemplo, e a da
atmosfera. Significa que determinados problemas não podem ser estudados isoladamente, mas
considerando-se uma série de fatores. Como, para entender as variações de clima na
Amazônia, lembra Gleiser, é preciso observar também muitos outros fatores globais que
estão ligados a essas variações, e não estudar apenas a Amazônia.
Marcelo Gleiser denomina o El Niño "o regulador climático do planeta". Este
nome, segundo ele conta, foi inventado pelos pescadores peruanos que sofriam com o
aquecimento do mar na costa do Pacífico, na época do Natal.
O fenômeno do El Niño acontece a cada quatro anos, sendo um super aquecimento no
Pacífico Tropical, cujo fenômeno contrário, fora desta época, é o resfriamento que
acabou sendo chamado de "La Niña".
Segundo Gleiser, a importância do El Niño é tamanha que suas oscilações térmicas no
Pacífico Tropical "podem causar tempestades e enchentes no Equador ou nos Estados
Unidos, como secas na Indonésia ou na Amazônia".
Gleiser explica ainda que o fenômeno do El Niño não ocorre sozinho, mas está ligado a
variações na pressão atmosférica e que, nos últimos anos, um sinal de que a
temperatura na Terra não está 'regulada' é que isto tem acontecido com o dobro de
freqüência do que o previsto. Novamente, todas as evidências levam a crer que o vilão
da história, segundo Gleiser, seja o efeito estufa.
Marcelo Gleiser define bem claramente o que se passa, dizendo: "A Terra não é um
sistema finito e não pode reciclar sozinha a imensa quantidade de detritos produzidos por
uma sociedade altamente industrializada. A 'loucura' do clima, portanto, não é um mero
acidente".
Os Seres Vivos em Risco
No mar, os corais são considerados pelo Comitê Oceanográfico da ONU como
termômetros vivos da saúde marítima. Mas desde a década de 1980 se vem observando que
os corais estão perdendo a cor e a causa tem sido atribuída ao crescente aquecimento do
mar. Esse fenômeno já foi observado em várias regiões do Brasil e no Caribe.
A flora e a fauna também estão sofrendo e tentando adaptar-se ao novo clima. Algumas
espécies de plantas começam a surgir, enquanto que outras estão desaparecendo.
Segundo o IACID, em relação aos seres humanos, cada 1% de redução da camada de ozônio
poderá elevar de 4 a 6% os casos de câncer na pele.
O calor, afirma Belbspan, está aumentando o número de insetos portadores de doenças
infecciosas, inclusive modificando para mais as altitudes em que usualmente podem voar os
mosquitos. Estima-se que as regiões tropicais terão um aumento duplicado de doenças por
este veículo. Os insetos estão espalhando malária, dengue e febre amarela até mesmo em
populações que antes nunca tiveram essas doenças. Sem contar as epidemias de cólera e,
em muitas regiões do planeta, a crescente falta de água potável.
Soluções Possíveis
Diminuir o desmatamento indiscriminado e aumentar o reflorestamento, pois as árvores
aspiram dióxido de carbono e produzem oxigênio.
Suprimir o uso de aerosóis, já proibidos em alguns países.
Os aviões, que lançam poluentes em altitudes acima de dez mil metros, também contribuem
para agravar o problema. A possibilidade de reverter esse quadro pode existir, desde que
os aviões voem a uma altitude de no máximo nove mil metros.
Conter a produção industrial desenfreada, a emissão de gases tóxicos no ambiente e, se
possível, reduzir a zero o consumo dos gases danosos à camada de ozônio (Protocolo de
Viena).
Como consumidor, dar preferência a produtos cujos rótulos informem que esses produtos
não contêm gases nocivos à camada de ozônio.
A WWF indica que é muito acentuado o emprego de fontes energéticas de origem fóssil,
que são as que mais desprendem gás carbônico durante a combustão. As fontes
renováveis, hidrelétricas e biomassa, embora ambientalmente mais limpas, ainda são
pouco utilizadas, enquanto as fontes alternativas ainda têm um emprego insignificante.
Diminuir a emissão de dióxido de carbono na atmosfera, eliminando as queimadas de
florestas e de combustíveis fósseis é uma das opções.
De acordo com o IACID, o dióxido de carbono é uma molécula estável, com tempo médio
de permanência na atmosfera de 2 a 4 anos. Na Conferência sobre as Alterações na
Atmosfera e suas conseqüências, realizada em Toronto, em 1988, foi sugerido um corte de
20% nas emissões de dióxido de carbono até o ano 2025. Reduções maiores, de 50 a 80%,
seriam desejáveis, mas irrealistas, tendo em vista a dependência dos transportes, dos
processos industriais e da geração de energia em relação aos combustíveis
responsáveis pela emissão daquele gás. Caso seja atingida ao fim deste século, uma
redução de 10% nas emissões, é possível imaginar reduções maiores ao longo do
próximo século, talvez mais de 50% no ano 2050, informa o IACID.
Esse órgão lembra ainda a utilização da energia nuclear (esta, contando com os
riscos), da energia solar, da energia dos ventos, do gás natural e da biomassa, que podem
minimizar o efeito estufa e o aquecimento do planeta. Lembra ainda a utilização das
hidrelétricas, não se perdendo de vista que para cada hidrelétrica existe também o
desmatamento e o desequilíbrio ecológico nas áreas onde as usinas são construídas, se
não for feito um estudo prévio bastante eficaz e consciente, pois elas são especiais
por estarem sempre no curso dos rios, que devem ser preservados.
Em resumo, até onde está ao alcance do homem para manter o planeta em condições
climáticas habitáveis, soluções existem. O problema é saber se os governos irão se
lembrar delas.
Curiosidades
1. Segundo Ross Belbspan, a Global Climate Coalition - um dos grupos que representa os
interesses da indústria pesada, da indústria automotiva e de combustíveis fósseis, tem
sido muito ativa em espalhar informações que desviam as pessoas da real crise sobre o
clima na Terra.
2. Segundo ele, também, os céticos dizem que os satélites desmentem a noção do super
aquecimento, pois a leitura que enviam demonstra o contrário.
Copyright © 2000 eHealth Latin America
31 de Outubro de 2000
Veja também