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Gêmeos: o desafio de alcançar a própria individualidade

Neste artigo:

- Por que alguns gêmeos são idênticos e outros não?
- Alguns mitos
- Desenvolver a própria identidade


Os irmãos gêmeos não somente têm sido protagonistas de antigas lendas, como também alimentam alguns mitos modernos. Na mitologia grega, os gêmeos Castor e Polux, filhos de Zeus, eram inseparáveis. Participaram juntos de múltiplas façanhas, e quando Castor foi morto em uma disputa, seu irmão ficou desconsolado. Em resposta a suas preces, Zeus os reuniu e os permitiu estarem sempre juntos. Posteriormente foram transformados na constelação de Gêmeos.

Outros gêmeos famosos foram Rômulo e Remo, filhos de Marte, deus da guerra. Haviam sido lançados ao rio Tibet em uma cesta e logo resgatados e alimentados por uma loba. Finalmente Rômulo coverteu-se no fundador e primeiro rei de Roma.

Dar a luz a mais de uma criança de uma vez, tem causado fascinação e também gerado algumas interrogações nas famílias. Uma das preocupações de muitos pais de gêmeos é que seus filhos possam ter vidas independentes.

Por que alguns gêmeos são idênticos e outros não?

Se no momento da concepção são fecundados dois óvulos diferentes, ambos zigotos desenvolvem-se no útero de maneira independente. Se bem que cada um dos embriões terá em suas células a metade da informação hereditária de sua mãe, e a outra metade de seu pai, essa informação não será exatamente a mesma nos dois irmãos. De fato, uma das crianças poderá ser morena e outra loura, ou ter diferente sexo.

Porém há situações em que um único zigoto divide-se em dois nos primeiros dias de desenvolvimento, dando lugar a dois zigotos com a mesma informação genética. Este é o caso dos gêmeos univitelíneos, que são irmãos idênticos e possuem, necessariamente, o mesmo sexo. "No geral, fala-se de gêmeos dizigótico, os gêmeos, quando os embriões formam-se a partir de zigotos diferentes; e gêmeos monozigóticos, quando trata-se de um mesmo zigoto. Enquanto os gêmeos monozigóticos possuem a mesma informação genética em suas células, os dizigóticos compartilham somente 50%, como qualquer irmão nascido da mesma mãe e do mesmo pai", explica a Dra. Beatriz Literat de Katz, médica especialista em ginecologia.

Além do mais, os gêmeos dizigóticos possuem distintas placentas, enquanto os monozigóticos, em geral a compartilham. Ainda que haja casos em que os gêmeos monozigóticos possuam cada um a sua placenta, o que pode gerar confusão. Quando há duas placentas, os pais podem pensar que seus filhos são dizigóticos.

Alguns mitos

Existe uma crença de que nos casos de partos múltiplos, uma mãe não pode amamentar a seus filhos porque não terá leite suficiente. O problema é que este mito desestimula as mães de amamentar. E, em geral, as crianças que nascem em um parto múltiplo possuem baixo peso e têm uma maior necessidade de alimentar-se com o leite materno, que lhes oferece nutrientes de melhor qualidade e aumenta as defesas do organismo.

Outro problema vinculado com os gêmeos é que seus pais, muitas vezes, têm a preocupação de que seus filhos não possam desenvolver personalidades diferentes. Existem casos de gêmeos adultos que vivem juntos, vestem-se da mesma forma e nunca tiveram vidas independentes. Por esta razão, muitos pais tentam evitar que isto aconteça com seus filhos gêmeos.

De fato, nos primeiros meses de vida das crianças nascidas de um parto múltiplo, os pais sentem que não podem oferecer a seus filhos um cuidado individualizado. Porém os especialistas salientam que, durante o período que vai dos 18 meses aos 3 anos, é a etapa em que as crianças estão formando suas identidades individuais, os pais podem contribuir para que as crianças desenvolvam sua personalidade.

Desenvolver a própria identidade

Um dos conselhos dos especialistas é que cada criança disponha de sua própria roupa e que não estejam sempre vestido do mesmo modo. Está claro que muitos pais não podem resistir a tentação de vestir a seus gêmeos de maneira similar. Talvez isso não seja prejudicial quando são pequenos, porém com o tempo, contribui para que muitas pessoas que os rodeiam não possam diferienciá-los.

Também é importante que seus objetos tenham etiquetas com seus nomes, ou que estejam guardados em lugares diferentes, de maneira que cada uma saiba qual é sua roupa e possa diferenciar o que lhe pertence.

Assim mesmo, os especialistas ressaltam a importância de que cada um disponha de seus brinquedos. Se tudo pertencer a ambos, é difícil que os gêmeos possam pensar em si mesmos como pessoas diferentes.

Outro fato para levar-se em conta é chamar a cada criança pelo seu nome, e não referir-se a eles como os gêmeos. É importante que, na escola, tanto as professoras como os colegas, possam diferenciar pela roupa, pela cor da mochila ou de seus objetos.

Nos aniversários, também aconselha-se a preparar dois bolos, cantar "feliz aniversário" duas vezes e dar dois presentes diferentes. Também convém alertar a família e os amigos para que procedam da mesma forma. Não há nada mais frustrante para os gêmeos que ter de compartilhar o presente de aniversário.

Com respeito à necessidade que as crianças tenham experiências em separado, nem sempre é fácil ou possível, como planejar férias diferentes para cada um. Porém, se é possível que o pai, por exemplo, vá passear com um dos filhos e que o outro fique com a mãe. Ou que esta ou o pai compartilhem momentos em separado com cada um dos filhos, seja pela manhã ou na hora de dormir.

A possibilidade de cada uma das crianças possam compartilhar um breve período com um adulto ou com outras crianças, sem a ajuda, a interferência ou a competência do irmão gêmeo é algo que pode ser de grande ajuda para o desenvolvimento individual dos irmãos. Especialmente, nos casos em que um dos gêmeos é mais falante ou é o que sempre expressa a vontade do irmão mais tranquilo e calado.

De todos os modos, os especialistas reforçam que a separação física não é o que promove a individualidade. O importante, afirmam, é que os pais estabeleçam relações individuais com cada um dos filhos.

Por outro lado, o desejo de promover a individualidade dos gêmeos pode levar os pais a impor a seus filhos diferenças que não existam na realidade. Se as crianças possuem inquietudes e interesses similares, não é conveniente que os pais neguem a possibilidade de desenvolver os mesmos esportes ou as mesmas atividades, se for isso que eles desejam.

Em suma, afirma a Dra. Katz, o desafio de conseguir a individualidade e converterem-se em adultos independentes pode ser mais complicado para os gêmeos do que para a maioria das crianças que vêm ao mundo sem companhia. Porém, as formas mediante as quais os pais podem ajudar neste difícil processo devem ser muito sutís, sem violar os fortes laços que existem entre os gêmeos.

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Publicado em 18 de setembro de 2000
Revisado em 18 de novembro de 2015