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Neste artigo:
Introdução
O Estudo
Comentários e Conclusões
A doença de Alzheimer (DA) é a causa mais comum de demência em idosos. O
estabelecimento da doença é insidioso e geralmente ocorre após os 55 anos de idade,
aumentando a freqüência com o avanço da idade. O seu curso é marcado por uma
deterioração gradual da função intelectual, declínio da capacidade de realizar
atividades do cotidiano e de lidar com as alterações na personalidade e no
comportamento.
Introdução
A DA provoca um comprometimento da memória, afazia (distúrbio da linguagem no qual o
paciente deixa de falar), déficits visuais, espaciais (delírios, alucinações e
desorientação ambiental) e comprometimento da capacidade de fazer cálculos e
abstrações. As alterações da personalidade são um achado freqüente na DA. Os
pacientes se tornam cada vez mais passivos, mais agressivos na demonstração de emoções
e menos espontâneos. Embora os pacientes com doença de Alzheimer apresentem distúrbios
neuropsicológicos e comportamentais marcantes, as funções motoras primárias permanecem
intactas durante quase todo o curso da doença, e distúrbios, como o parkinsonismo, o
tremor e a coréia, estão ausentes.
O desenvolvimento de novos métodos de prevenção e de tratamento da doença requer a
descoberta de meios diagnósticos para a fase pré-clínica da doença, antes que os danos
no cérebro se tornem irreversíveis. A fase pré-sintomática da DA tem sido foco de
intensa pesquisa.
As áreas mais atingidas do cérebro são o hipocampo, o lobo frontal e temporal, e as
alterações incluem uma perda neuronal extensiva, com acúmulo de proteínas dentro e
fora das células. Alterações mínimas podem aparecer décadas antes do início dos
sintomas. Entre pacientes com Síndrome de Down, os sintomas da demência começam a
aparecer em torno dos 40 anos idade e pequenas alterações no cérebro já podem ser
vistas aos dez anos de idade. Mas, exatamente, quando os sintomas clínicos irão surgir
ninguém sabe.
Alguns marcadores biológicos já descobertos da fase pré-clínica incluem a alta
concentração no sangue de beta-amilóide (uma das proteínas que se acumulam nas
células cerebrais) e o achado de hipotrofia (diminuição do tamanho) do hipocampo,
através da ressonância magnética. Como há uma variação de pessoa para pessoa, do que
é normal e do que é patológico, nenhum desses sinais podem ser usados para diferenciar
as pessoas que irão desenvolver demência das que não irão. Mas o exame contínuo das
alterações desses marcadores pode ser uma melhor maneira de predizer o desenvolvimento
da doença do que uma única medida.
Sabe-se que alguns grupos apresentam um risco maior de desenvolvimento de DA: aqueles com
história familiar de Alzheimer; os portadores da síndrome de Down; ou aqueles pacientes
possuidores de um gen chamado APOE (que parece ser responsável pelo aumento do depósito
de proteínas no cérebro). Esses pacientes são constantemente submetidos aos estudos que
buscam identificar os marcadores pré-sintomáticos da doença.
Em mais uma tentativa de se buscar algum marcador pré-clínico de DA um grupo de
pesquisadores, liderados pelo Dr. Bookheimer conduziu um estudo, publicado na revista The
New England Journal of Medicine de agosto de 2000, que foi comentado pelo Dr. Ingmar Skoog
(M.D e Ph.D do Sahlgrenska University Hospital, Goteborg, Sweden).
O Estudo
Foram selecionados pacientes portadores do gene ípsilon 4 (APOE), com idade média de
72 anos, que apresentavam resultados normais nos testes de memória e na ressonância
magnética (RNM), durante o repouso mental.
Foram aplicados testes de ativação da memória aos portadores da APOE e estes foram
submetidos simultaneamente a RNM. Depois, compararam-se os resultados obtidos aos
resultados de pacientes não portadores do gene.
O que os autores puderam notar foi que os pacientes carreadores do gene ípsilon 4 tinham
uma maior ativação do cérebro do que os pacientes normais, durante os testes de
memória. Este resultado sugere que os pacientes possuidores da APOE necessitam de usar
maior quantidade de cérebro do que os pacientes que não o possuem, quando submetidos aos
mesmos testes.
Alguns pacientes foram reavaliados, após dois anos, e o que se notou foi que os pacientes
que tiveram um declínio da memória verbal apresentaram também uma diminuição da
ativação cerebral.
Comentários e Conclusões
A APOE é um gene que aumenta a susceptibilidade de seus portadores à doença de
Alzheimer e que parece afetar a idade de aparecimento dos sintomas. Contudo, a sua
presença não é suficiente para predizer se os pacientes assintomáticos irão
desenvolver a doença ou não, visto que a DA pode nunca se manifestar em pacientes que
possuem o gene. Portanto, o achado dos pesquisadores pode ser um marcador precoce da
doença, mas pode também ser um achado presente somente nos portadores da APOE. Mas o Dr.
Ingmar Skoog acha que novos estudos devem ser feitos futuramente.
Talvez as mudanças nos padrões de ativação cerebral simultânea à perda da memória
possam refletir a perda das sinapses (conexão entre os neurônios). E os atuais
tratamentos da DA (tacrine, donepezil e rivastigmine) agem evitando a queda dos níveis de
acetilcolina (neurotransmissor presente nas sinapses). Assim, ainda não está claro se
estas drogas teriam efeitos se aplicadas na fase pré-clínica da doença.
O Dr. Ingmar acredita que os resultados do presente estudo podem ser importantes na
seleção de pacientes para futuros ensaios clínicos, nos quais novas opções de
tratamentos e as características dos pacientes que os tornam responsivos ao tratamento,
possam ser analisadas.
Fonte: The New England Journal of Medicine – August 17, 2000 –
Vol. 343, Nº. 7.
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12 de Setembro de 2000
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