Artigos de saúde
Neste Artigo:
- Introdução
- O estudo
- Antes, durante e depois do tratamento
- Conclusão
- Veja Outros Artigos Relacionados ao Tema
Há muito já se sabe da relação entre os processos depressivos e alterações
sexuais, dentre as quais, mais comumente a diminuição do apetite sexual, também chamada
de libido. Essa relação pode passar despercebida pelo fato de haver uma melhora do
quadro sexual ao se tratar a depressão. Para se ter uma idéia, uma pesquisa nacional nos
EUA em 1994, revelou que cerca de 30% das mulheres e 17% dos homens, entre 18 a 59 anos de
idade, tinham uma diminuição do interesse sexual naquele ano. Pessoas com problemas
depressivos ou distúrbios de humor bipolar têm tais índices ainda maiores. Um estudo
feito com pacientes deprimidos demonstrou que mais de 70% deles tinham diminuição de
libido sendo esse um dos piores sintomas do distúrbio. Outro estudo demonstrou um aumento
na prevalência de distúrbios afetivos em pessoas com desejo sexual reprimido.
Introdução
Independente de sua relação causa-efeito, depressão e diminuição da libido estão
associadas. No intuito de se definir uma conduta mais objetiva nessas situações, os Drs.
Robert L. Phillips e James R. Slaughter, da Escola de Medicina da Universidade de Columbia
– EUA, desenvolveram um estudo a respeito do tratamento e da abordagem da depressão
relacionada com diminuição do desejo sexual. Um resumo desse estudo foi publicado na
revista médica American Family Physician deste ano.
O Estudo
É comum as pessoas terem dificuldades para transcorrer sobre seus problemas e
insatisfações sexuais (diminuição da libido, impotência, incapacidade de obter
orgasmo) com o médico se esse não for direto à questão. Os efeitos sexuais de diversos
remédios prescritos pelos médicos também são muitas vezes ocultados. Algumas vezes,
tais alterações não são percebidas enquanto os parceiros não as queixam, ou com
freqüência, são responsabilizadas pela racionalização com bases em problemas, valores
ou práticas sociais e, assim, passam por um longo tempo sem serem questionadas ou
resolvidas. Por isso, percebe-se que um importante fator de dificuldade diagnóstica é o
não questionamento dos médicos sobre tais problemas. Num estudo com pacientes em uso de
um antidepressivo específico, houve uma chance quatro vezes maior dos pacientes falarem
sobre problemas sexuais se indagados pelos médicos. Há uma estreita relação entre a
gravidade da depressão e da diminuição da libido.
Antes, durante e depois do tratamento
Antes de começar o tratamento para depressão, é importante que o médico tenha uma
idéia real das funções sexuais do paciente o que necessitará ao mesmo tempo, que o
próprio paciente esteja atento a isso. Assim pode-se perceber com maior facilidade,
alterações na função sexual após o início da terapia medicamentosa.
Todas as pessoas que vão ser tratadas e que obtêm uma melhora da depressão após o
tratamento, mas que mantém as alterações sexuais, devem expor ao médico as seguintes
informações, caso sejam elas verdadeiras:
- uso de outras medicações: drogas antipsicóticas (haloperidol, thioridazine,
risperidone); cimetidina; drogas para diminuir a pressão arterial; em fim, quaisquer
outros medicamentos em uso;
- contraceptivos orais hormonais em mulheres no fim do período reprodutivo; mulheres sob
o uso de reposição hormonal pós-menopausa;
- fatores estressantes psicológicos e sociais;
- uso de álcool e drogas ilícitas como cocaína, narcóticos e quaisquer outras drogas.
Um importante número de medicamentos antidepressivos pode levar a uma diminuição da
libido apesar da melhora do quadro depressivo. Em um estudo, cerca de metade dos pacientes
relataram tais alterações quando utilizando um grupo específico de drogas (Fluoxetina,
Paroxetina, Fluvoxamina, Celexa e Sertralina). Mesmo com a descoberta de novas drogas mais
específicas contra a depressão, as drogas já utilizadas têm sido também usadas para o
tratamento de alguns tipos de dor, podendo levar a tais efeitos na função sexual desses
pacientes.
Quando a libido continua diminuída mesmo com o tratamento do processo depressivo, pode-se
tentar uma diminuição da dose do antidepressivo utilizado. Tem-se percebido uma
ausência de alteração no quadro depressivo quando essas doses são abaixadas. Não há
grandes evidências de que a retirada da droga por um ou dois dias possa melhorar tais
problemas podendo ao contrário, piorar o quadro depressivo. Caso a redução da dosagem
dos antidepressivos não mantenha o tratamento adequado para a depressão, deve-se pensar
em outra droga aliada à já utilizada, ou no lugar dessa.
Conclusão
É importante lembrar que diante de um quadro depressivo, seja ele devido a
distúrbios sexuais ou o oposto ou ainda sem essa relação causa-efeito, diversas
abordagens podem ser propostas de acordo com cada caso e com a experiência do médico ou
terapeuta em questão, antes que sejam indicados medicamentos antidepressivos. A vida por
si só proporciona momentos de tristeza, desânimo, introspecção, em fim, diminuição
de energia vital como um todo. As drogas antidepressivas podem agir, muitas vezes, como
aliviadoras de sintomas, não agindo na raiz do problema, que assim, pode retornar com
diversos outros sintomas, não necessariamente psíquicos (especialmente em crianças,
adolescentes e idosos). Existem situações, no entanto, que estão relacionadas com
alterações bioquímicas cerebrais que diminuem certos neurotransmissores (partículas
que levam informações cerebrais para as diversas áreas do cérebro) levando a quadros
depressivos mais intensos e irresponsivos a terapias não medicamentosas, quando então
estão indicadas as drogas. Essas também estão prescritas no caso de depressões graves
associadas com risco de vida (suicídio). Todas as situações graves devem ser familiares
aos terapeutas não-médicos para que os mesmos possam encaminhar tais pacientes aos
médicos, em tempo hábil. Da mesma forma, é importante que os médicos interpretem o
quadro depressivo como um todo, colocando-o dentro da história de vida da pessoa. Somente
dessa forma, poderá ele, diferenciar uma depressão reacional a situações estressantes,
de uma doença mais grave e que necessitará de uma intervenção mais proeminente. Deve
ser lembrado também, que por vezes, as próprias pessoas demandam o uso de remédios pelo
fato de não estarem dispostas a descobrir e enfrentar as situações estressantes da vida
naquele momento.
Entretanto, há várias correntes de estudo, cada qual com sua teoria e sua abordagem
terapêutica, o que transforma tal assunto nos mais complexos em se tratando de saúde
mental, física e social, nessa época histórica de tantas mudanças de valores culturais
e individuais. Assim sendo, parece ser de extrema importância, uma boa relação entre o
médico/terapeuta e seu paciente, aí está calcada a semente do sucesso terapêutico.
Fonte: Am Fam Physician 2000; 62:782-6.
Copyright © 2002 Bibliomed, Inc. 19 de Dezembro de 2002.
Veja também