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Neste Artigo:
- Especialista Detalha Aspectos
da Demência Senil
- Doença de Alzheimer
- Demências Vasculares
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Especialista Detalha Aspectos
da Demência Senil
"Incompetência psicossocial" era a definição de demência no século XVIII,
quando era considerada um estado terminal e irreversível de vários transtornos mentais,
neurofisiólogicos e físicos. Este conceito foi mudando, devido aos avanços da ciência,
sendo considerados sintomas não centrais da demência os delírios, alucinações,
transtornos do humor e do comportamento. Só no início deste século o comprometimento
intelectual passou a ser considerado característica essencial da demência.
Segundo a especialista em neurologia Dra. Maria das Mercês Quintão Fróes, devemos
ressaltar a presença do "esquecimento benigno e maligno da senescência", o
último envolvendo demência e morte precoce, e o primeiro permanecendo relativamente
estático. Este conceito ganhou popularidade ao longo do tempo, e o crescente interesse
pelo idoso levou ao desenvolvimento de critérios para caracterizar um grupo de pessoas
com problemas de memória, mas que eram insuficientes para preencher critérios para o
diagnóstico de demência. O "National Institute of Mental Health" respondeu com
a formação de um grupo de trabalho, que denominou esta patologia como
"comprometimento de memória, associado à idade".
Poucos são os casos de demência que não estão relacionados à idade, sendo esta
doença considerada uma patologia senil. A prevalência da demência praticamente dobra a
cada 5 anos.
Ela acomete 5% das pessoas entre 65 e 80 anos, e 15%-20% com mais de 80 anos. De etiologia
variada, nos idosos predominam as demências degenerativas e vasculares. A importância da
demência tomou grandes proporções em nosso meio, com o envelhecimento populacional do
Brasil.
O quadro clínico, segundo a médica, reflete-se como uma síndrome de natureza crônica e
progressiva, caracterizada pelo desenvolvimento de múltiplos déficits cognitivos e
alterações da personalidade. Com a evolução, há um comprometimento sensível nas
atividades pessoais, sociais e profissionais do paciente. É essencial para o diagnóstico
clínico, acometimento da memória e ao menos um outro distúrbio de função cortical
elevada (apaxia, agnosia, afasia ou alterações de funções executivas). O início da
doença é caracterizado por esquecimento, podendo ser difícil de detectar nos primeiros
estágios. Nesta primeira fase, a memória para eventos recentes é mais comprometida do
que para fatos remotos. Também pode surgir déficit de atenção e concentração. São
freqüentes as alterações de comportamento e outros sintomas psiquiátricos.
É importante fazer um diagnóstico correto do quadro demencial, pois 15% dos casos de
demência podem ser tratados. Na avaliação de uma síndrome demencial, devemos ter uma
boa história da doença, exame físico e neurológico detalhado, exame do estado mental,
exames de sangue, de urina e tomografia computadorizada.
Cerca de 50 a 66% dos casos de demência são devidos à doença de Alzheimer, 12-18% à
demência secundária a infartos cerebrais múltiplos, 8-18% uma associação de ambas, e
8% de etiologia indeterminada.
Doença de Alzheimer
A Dra. Maria das Mercês explica que o diagnóstico desta doença é baseado na
correlação anátomo-clínica, da mesma maneira como foi feito no passado. Como não se
faz biópsia cerebral para este fim e não há um marcador biológico para a doença, seu
diagnóstico tem sido baseado na presença de demência, avaliada pelo julgamento
clínico, e excluindo-se outras causas. Dependendo da idade de início dos sintomas, pode
ser dividida em Doença de Alzheimer pré-senil (início antes dos 65 anos) e senil
(início após os 65 anos). A forma pré-senil tem curso mais acelerado e está associada
mais freqüentemente a afasias, mioclonias, história familiar da doença, e alterações
neuropatológicas mais intensas. Já a Doença de Alzheimer senil, tem início mais
tardio, evolui mais lentamente, com menor comprometimento da linguagem.
O diagnóstico de Doença de Alzheimer é feito, na maioria das vezes, por exclusão de
outras causas de demência. Os pacientes apresentam contínua deterioração mental
(alterações da capacidade de julgamento, do conhecimento da doença atual, da linguagem
narrativa com persistência apenas de jargões, da memória nominativa e da organização
espacial); degradação da personalidade (euforia, agitação, andar sem destino, perda da
higiene, perda da iniciativa e redução da atividade, emudecimento afetivo), problemas
tardios com a marcha e até sinais extra-piramidais, epilepsias e mioclonias. A sobrevida
da Doença de Alzheimer (7-10 anos) é superior à da Demência Vascular e tem aumentado
continuamente devido à evolução no tratamento de afecções intercorrentes.
A idade é, sem dúvida, um fator de risco para Doença de Alzheimer. A maior parte dos
autores concorda que há 2 formas da doença, uma esporádica e uma familiar. A
esporádica é considerada por alguns como afecção específica, por outros como uma
simples aceleração do envelhecimento cerebral. A forma familiar parece ser transmitida
por gen autossômico dominante e ocorre precocemente, entre 50-60 anos.
Existem 3 lesões fundamentais detectáveis ao microscópio: a degeneração neurofibrilar
(intraneural), as placas senis (extracelular, clássica) e a angiopatia congófila ou
amilóide, associadas a uma perda neuronal.
As lesões encontradas na Doença de Alzheimer são também evidenciadas em idosos
normais, levando a questionar se Doença de Alzheimer é mesmo uma doença separada ou se
é um processo de envelhecimento acelerado, portanto notamos diferenças quantitativas
entre o cérebro de portadores da doença e de pessoas centenárias sem a doença.
As alterações de imagem da doença de Alzheimer são inespecíficas e refletem as
alterações patológicas, como atrofia cortical difusa com adelgaçamento dos giros
corticais e alargamento dos sulcos, na maioria das vezes simétricos. Apesar destes
achados poderem estar presentes em idosos normais, a distribuição e evolução crescente
dos mesmos são sugestivos de Alzheimer e a qualidade, ao invés da quantidade de tecido
cerebral presente, pode ser o fator mais importante na determinação da falha
intelectual. A atrofia predomina nas regiões parieto-temporais, com preferência para o
hipocampo e parahipocampo. Há uma dilatação ex-vácuo dos ventrículos, por perda
neuronal, com proeminência dos cornos temporais assim como das fissuras coroidal,
hipocampal e silvianas.
Devemos suspeitar de Doença de Alzheimer em pacientes com déficits neuropsicológicos
desproporcionais às alterações encontradas na imagem. A existência de leucoaraiose
(rarefação da substância branca por degeneração arteriolar levando a infartos
incompletos) observada em 30-50% dos casos de Doença de Alzheimer, está relacionada à
idade, mas é mais comum nos idosos dementes que nos normais, e nos portadores de
Demência Vascular do que nos com Doença de Alzheimer.
Demências Vasculares
Depois da Doença de Alzheimer, é a segunda causa de demência progressiva, representando
10-30% de todas as demências e podendo ser causada por infartos de tamanho, número e
localização diferentes. Os mais volumosos apresentam quadro clínico de déficit motor
agudo e aspecto de imagem inconfundível. Durante muitos anos, o termo "demência
arteriosclerótica" foi amplamente empregado, sugerindo que alterações patológicas
das artérias seriam responsáveis pela diminuição do fluxo sangüíneo cerebral. Este
conceito foi modificado, devido à importância dos infartos cerebrais no aparecimento da
demência.
O termo demência multi-infarto (ocasionada por múltiplos infartos - derrames -
cerebrais) acabou sendo sinônimo de todas as demências de origem vascular. Pode trazer
dificuldades no diagnóstico diferencial com as demências neurodegenerativas, porém a
história é muitas vezes positiva para múltiplos infartos e a tomografia computadorizada
cerebral mostra mais infartos corticais e subcorticais, ventrículos e sulcos corticais
alargados, e uma maior prevalência de áreas hipodensas na substância branca que nos
controles da mesma idade. A Encefalopatia arteriosclerótica subcortical (Doença de
Binswanger) é, provavelmente, uma forma de demência multi-infarto, com alterações
arterioscleróticas induzidas pela hipertensão, em artérias penetrantes medulares
longas, induzindo a lesões isquêmicas secundárias, na substância branca
periventricular. Em casos mais graves há demielinazação também da substância branca
central e infartos múltiplos nos núcleos basais, tálamos, ponte e núcleos relacionados
ao cerebelo, mas com envolvimento limitado do córtex.
Pacientes com Demência Vascular apresentam lapsos mentais caracterizados por distúrbios
de memória, manutenção da personalidade, conhecimento da doença atual até o estágio
final, com déficits neurológicos focais, emoções lábeis, sonambulismo e pequenos AVCs
(acidentes vasculares cerebrais) repetidos.
Exames complementares como a ressonância magnética, eletroencefalograma, Tomografia por
Emissão de Pósitrons (PET) e potenciais evocados visuais e auditivos podem trazer alguns
subsídios a um diagnóstico provável. Estudos, segundo a médica, mostram que 8-18% dos
casos de demência são mistos (Doença de Alzheirmer e Demência Vascular).
As principais doenças que causam demência têm sua prevalência e incidência aumentadas
nos pacientes idosos, tornando essa síndrome particularmente importante nesta parcela da
população. Os critérios diagnósticos empregados atualmente têm permitido a
identificação de grupos mais homogêneos de pacientes com demências de causas tanto
degenerativas quanto vasculares. Entretanto, um diagnóstico mais preciso destas doenças
ainda depende do desenvolvimento de critérios clínicos e neuropatológicos mais claros,
e da realização de estudos prospectivos com grupos de pacientes representativos da
comunidade.
Infelizmente ainda não podemos contar com tratamento eficaz nos casos de demência
citados neste texto, devendo-se investir na prevenção da doença. Para isto, sugere-se
vida mais saudável, com boa alimentação, distração, realização de exercícios
físicos, estímulo da atenção e aprendizado, controle das dislipidemias, da
hipertensão arterial e do tabagismo. Visitas a médicos para combate aos radicais livres
também podem retardar a instalação da demência. Anti-agregantes plaquetários e até
anticoagulantes podem ser indicados. "Medicamentos com a propriedade de retardar a
evolução da doença em fases iniciais têm sido utilizados, porém ainda precisamos de
mais pesquisa nesta área", finaliza a médica.
Copyright © 2000 eHealth Latin America 29 de Agosto de 2000.
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