Artigos de saúde
Se não está comprovado que a felicidade é condição de saúde, no
mínimo podemos dizer que analisa-se com freqüência que a tristeza está relacionada com
boa parte das enfermidades. Estudos e pesquisas científicas vêm relacionando doenças
graves, como o câncer, com a depressão, stress e baixa estima. Por outro lado, trabalhos
como o dos Doutores da Alegria, vem reforçando a idéia de que o riso e o bom humor
estão muito ligados ao reforço do sistema imunológico.
Em centenas de estudos que pipocam ao redor do mundo analisa-se a relação não da
felicidade com a saúde, mas da infelicidade com a doença. Esta constatação leva,
evidentemente, à conclusão de que o inverso também é verdade, e que não há política
preventiva mais eficaz do que tratar de ser feliz. As relações que a ciência, cada vez
mais amiúde, estabelece entre o bom humor, a alegria e a felicidade com a boa
recuperação de doenças, também ajudam nesta compreensão. No entanto, chama a
atenção que tanto se estude a doença e suas causas, e tão pouco se dedique pesquisas
ao bem-estar e à saúde.
Segundo o Centro de Tratamento e Pesquisa do Hospital do Câncer - Antônio Carlos Camargo
- em São Paulo, a pediatria oncológica é uma especialidade médica que evoluiu bastante
nos últimos anos. Graças ao desenvolvimento de novas técnicas diagnósticas e
terapêuticas, tanto para tumores sólidos quanto para leucemias, os especialistas podem
hoje curar, em média, cerca de 70% das crianças com câncer. Para alguns tumores, os
índices já passam dos 90%.
Doutores da Alegria
Uma das grandes novidades apontadas pelo Hospital, que mais contribuíram para os dados
acima mencionados, foi a implantação da abordagem multidisciplinar na assistência aos
pacientes. Nessa perspectiva, mais recentemente, o Hospital do Câncer passou a contar com
a participação do grupo Doutores da Alegria, acreditando na tese de que a utilização
do humor é um recurso fundamental para auxiliar nos tratamentos de canceres infantis.
Os Doutores da Alegria são atores profissionais especializados em técnicas circenses que
receberam orientações médicas para trabalharem com crianças e jovens hospitalizados.
Realizam visitas "médicas" nos próprios leitos dos hospitais, onde fazem
brincadeiras, como transplantes de narizes vermelhos, transfusões de milk-shake,
mímicas, e outras atividades, visando melhorar o ânimo e o estado de humor dos pacientes
internados.
Praticamente qualquer criança pode ser visitada pelos Doutores, a menos que exista alguma
restrição médica, e como o trabalho é regular, ou seja, as intervenções são feitas
nos mesmos hospitais, em dias específicos da semana, cria-se um vínculo sólido de
confiança. Ainda que não sejam psicólogos, os Doutores da Alegria realizam trabalhos
com essas características. Como as crianças gostam e se divertem com esses doutores,
depois o trabalho dos médicos do hospital fica facilitado, pois se criou um vínculo
positivo com a figura do médico e do próprio hospital.
Hoje em dia, é evidente a necessidade de se restituir a alegria dos pacientes, em
função da melhoria de seus estados de saúde e de seus tratamentos, possibilitando
atitudes mais positivas em relação à doença e a recuperação.
Segundo a psicóloga Morgana Massetti, "questões como as do efeito da alegria, do
humor e do riso em nossas vidas, nos recolocam diante de um mistério, de uma condição
de humildade com relação ao quanto devemos caminhar"
A psicóloga, que desenvolveu a pesquisa de avaliação do trabalho dos Doutores da
Alegria entre as crianças atendidas, seus pais e profissionais de saúde dos Hospitais
onde os Doutores atuam, ao citar os acontecimentos da Oitava Conferência da Sociedade
Internacional de Estudos do Humor, relata: "a multidisciplinaridade foi confirmada
nas apresentações: o humor foi analisado como possibilidade de compreensão de
fenômenos médicos, psicológicos, culturais, religiosos, literários. Falou-se muito das
pesquisas que existem. Ofra Nevo, do Departamento de Psicologia da Universidade de Haifa -
Israel, apresentou um levantamento das pesquisas realizadas nos últimos 20 anos no mundo
a partir do caso de Norman Cousins, que se recuperou de uma doença usando o humor como
recurso terapêutico".
Ainda citando os dados da Conferência, Morgana completa: "Ofra encontrou 17 estudos
com 1882 participantes. A maior parte dos estudos (11) avaliam a relação entre humor e
sistema imunodepressivo. 6 estudos avaliam tolerância à dor. Existem pontos que, segundo
Ofra, precisam ser revistos nos estudos: 89% dos participantes eram saudáveis, a maior
parte dos estudos utiliza vídeos, somente um permite que o sujeito escolha as suas
preferências humorísticas, poucos estudos consideram as outras variáveis presentes
além do humor".
Doença: uma metáfora da tristeza
Não resta dúvida sobre a importância do estado de humor dos pacientes nas doenças
físicas. Segundo analisa a escritora Susan Sontag, no livro A doença como metáfora:
"Apoiando a teoria sobre as causas emocionais do câncer há uma florescente
literatura e um exército de pesquisadores. E raramente se passa uma semana sem que
apareça um novo artigo anunciando ao público a ligação científica entre o câncer e
os sentimentos dolorosos. São mencionadas as investigações científicas em que, entre,
digamos, algumas centenas de cancerosos, dois terços ou três quintos declaram ter estado
deprimidos ou insatisfeitos com suas vidas, ter sofrido perda de um parente, amante,
cônjuge ou amigo íntimo".
A mesma escritora cita a célebre frase de Kafka a Milena, datada de 1920, comentando
sobre seu estado físico: "Estou mentalmente enfermo, a doença dos pulmões nada
mais é que um transbordamento da minha doença mental".
Muitas são as pesquisas e os artigos sobre as influências da felicidade sobre o sistema
imunológico, assim como os que comparam a depressão e os estados melancólicos aos
estados de deficiências das defesas orgânicas, seja nos pacientes de AIDS, ou nos de
câncer.
O papel da depressão
Segundo dados obtidos do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, a depressão é uma doença e é
resultado da alteração da ação de neurotransmissores no cérebro, diagnosticada caso
os sintomas persistam por, pelo menos, duas semanas. Atingindo aproximadamente 24 milhões
de pessoas na América Latina e Caribe, apenas um em cada quatro deprimidos procura
tratamento. Para cada homem que sofre de depressão, há duas mulheres e estima-se que
entre 40 e 60% dos casos de suicídio tenham relação com a doença.
Ainda conforme informações do Hospital Santa Lúcia, a depressão tem seu início entre
os 15 e os 24 anos de idade, por causas endógenas, como se tudo levasse à alegria mas,
mesmo assim, a pessoa fica deprimida, ou por fatores externos, como estresse, morte de
ente querido, doença grave, etc. Dentre os principais sintomas, encontram-se, a perda de
interesse, prazer e energia, o cansaço, a falta de concentração, o humor deprimido, a
auto-estima reduzida, baixo apetite, insônia. Como forma de tratamento, sugere-se a
psicoterapia e as drogas antidepressivas, que demoram até quinze dias para surtirem
efeito.
Sobre a esperança
Elisabeth Kübler-Ross, escritora americana, autora do livro Sobre a morte e o morrer,
relata sua experiência, de vários anos, no atendimento de pacientes de câncer em fase
terminal e a importância da esperança na vida dessas pessoas: "Ouvindo nossos
pacientes em fase terminal, o que sempre nos impressionou foi que até mesmo os mais
conformados, os mais realistas, deixavam aberta a possibilidade de alguma cura, de que
fosse descoberto um novo produto, ou que tivesse 'êxito um projeto recente de pesquisa'.
O que os sustentava através dos dias, das semanas ou dos meses de sofrimento é esse fio
de esperança. É a sensação de que tudo deve ter algum sentido, que pode compensar,
caso suportem mais algum tempo".
Comentando sobre a atuação dos médicos e a importância dessa relação com os
pacientes, a autora relata que "quando um paciente não dá mais sinal de esperança,
geralmente é prenúncio de morte iminente". Para ilustrar esta fala, podemos citar,
no 4º Educaids, realizado em São Paulo, o Padre Júlio, que abriga crianças órfãs e
portadoras da AIDS. Ele participou de um painel sobre a importância da esperança na vida
dos doentes de AIDS. "Como esperançar enquanto a esperança não vem?", ele se
perguntou, falando do papel do educador nestes casos. "Nós estamos sempre esperando
a felicidade em momento logo mais adiante do que estamos", diz, reforçando a idéia
de que a vida deve ser vivida, mesmo com suas limitações, no momento em que está
acontecendo, embora nunca possa ser desprovida de esperança, uma vez que é exatamente
esta esperança que mantém as pessoas vivas. Daí se conclui o quanto, para os
profissionais de saúde, é essencial que aprendam e pratiquem o "esperançar"
como método de trabalho e técnica terapêutica.
Também Mário Rudolf, escritor brasileiro, figura pública nas lutas pelos direitos dos
portadores de HIV/AIDS, em seu livro dedicado ao público infantil (Bravo. Pai da
Esperança. Mãe do Sorriso. Discípulo da Solidariedade. Namorada do Amigão. Que viveu
com AIDS.), indica inúmeras vezes a importância dos aspectos emocionais na luta pela
vida dos doentes de AIDS. Os personagens do livro possuem nomes como Esperança,
Solidariedade, Amigão, Sorriso, o que, evidentemente, é um indicador da importância do
bem estar psíquico, da esperança e da solidariedade, para se conviver com o vírus
causador da AIDS.
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