Artigos de saúde
A atividade sexual é um processo extremamente complexo, sendo composta de uma
interligação de vários sistemas orgânicos (neurológico, endócrino e vascular),
estados psicológicos, características sócio-culturais e religiosas. É muito
influenciada por estados mórbidos diversos, pelo envelhecimento, pelos relacionamentos e
pelas experiências anteriores. Quaisquer alterações nessa ampla gama de fatores, pode
levar a alterações nas várias fases do processo sexual.
Estima-se que 19% a 50% das mulheres têm disfunções sexuais. Este número se estende
para 68% a 75% quando são incluídas as insatisfações sexuais não relacionadas com as
disfunções sexuais propriamente ditas. Uma revisão de prontuários feita por um grupo
de médicos revelou uma incidência de apenas 2% desses problemas nas mulheres estudadas.
Tal fato ilustrou a dificuldade dos médicos generalistas em identificar tais problemas.
Daí a necessidade de uma maior educação nesse sentido. Com esse intuito, foi feita uma
revisão na literatura médica sobre esse assunto para que pudesse ser feito um maior
esclarecimento desses profissionais. A responsável por esse trabalho foi a Dra. Nancy A.
Phillips da Wellington School of Medicine da Universidade de Otago - Nova
Zelândia. O trabalho foi publicado na revista médica American Family Physician de
julho de 2000.
Classificação
As disfunções sexuais nas mulheres são classificadas em: disfunções de desejo, de
excitação e de orgasmo e as dores sexuais - dispareunia e vaginismo. Para que um médico
possa identificar o distúrbio em questão, é importante que ele possa obter um conjunto
de informações detalhadas sobre diferentes aspectos da vida da paciente. Por isso, a
importância de uma relação de confiança paciente-médico, onde haja uma abertura para
esse tipo de abordagem.
Deve-se distinguir as disfunções de acordo com seu padrão
temporal entre situacional ou global, pois pode ser que esteja havendo problemas com um
parceiro específico num momento específico ao contrário de disfunções que ocorrem
independente do parceiro. Deve-se também certificar da presença de mais de uma
disfunção devido ao fato de que muitas vezes possa haver sobreposição das mesmas.
Por exemplo, uma paciente queixando-se de diminuição do desejo sexual, pode estar tendo uma
incapacidade orgásmica o que por sua vez é a verdadeira causa do distúrbio. Assim, o
tratamento da disfunção orgásmica reestabeleceria o desejo sexual enquanto que o
tratamento da disfunção de desejo não daria resultados satisfatórios.
O exame físico realizado pelo médico visa a descoberta de alterações nos órgãos
genitais ou outras áreas que possam explicar os sintomas apresentados. Por isso, a
importância da cooperação da paciente e de suas informações no momento do exame.
Quais são as causas das disfunções sexuais?
Várias são as causas que para uma maior compreensão didática e são dividas em
vários grupos. Condições médicas em geral podem ser causas diretas ou indiretas
desses distúrbios. Doenças vasculares associadas com diabetes pode levar a uma
diminuição da excitação sexual; doenças do coração e pulmões podem dificultar a
atividade sexual devido à falta de ar que essas pode causar; incontinência urinária
pode levar a desconforto e vergonha diminuindo a atividade sexual. Tratamentos adequados
das doenças crônicas podem levar a uma melhora clínica facilitando a atividade sexual.
O uso de drogas, sejam elas ilícitas, devido à auto-medicação ou necessárias
para tratamento de alguma condição médica (antidepressivos, ansiolíticos, lítio,
digoxina, alguns anti-hipertensivos, contraceptivos orais, anti-alérgicos, etc), cigarro,
álcool também são responsáveis por distúrbios sexuais.
Problemas ginecológicos contribuem fisicamente para dificuldades sexuais: cistite, câncer de mama (diminui a simbolização sexual feminina) e outras malignidades. As mudanças ginecológicas durante
a vida de uma mulher podem mudar sua sexualidade: puberdade, gravidez, período pós-parto
e climatério.
Na puberdade, podem haver problemas quanto à identidade sexual,
imaturidade psíquica e orgânica que gera incertezas e inseguranças. A gestação e
período pós-parto estão geralmente associados com uma diminuição do desejo sexual que
pode se prolongar na lactação. O estado de hipoestrogenismo (diminuição de estrógeno
- um hormônio feminimo muito importante na regulação do ciclo menstrual dentre várias
outras coisas) desencadeado pela menopausa pode levar a alterações no humor,
ressecamento da vagina o que pode trazer além de uma diminuição do desejo sexual,
alguma dor com relação ao ato em si (dispareunia).
Abordagem Básica para o Tratamento
Educação - procure informações do seu médico sobre a anatomia, funções dos
órgãos, mudanças corporais, para que se possa entender melhor o funcionamento do seu
corpo. Peça a seu médico, informações escritas através de folhetos e discuta suas
dúvidas abertamente.
Estimulação e diminuição da rotina - use materiais eróticos que possam
promover uma maior excitação, a masturbação pode aumentar a familiaridade com o
parceiro e aumentar as sensações prazerosas, a comunicação durante o ato sexual pode
ter o mesmo papel, a mudança de horários e locais do ato sexual pode ser outra
alternativa.
Técnicas de Distração - fantasias eróticas ou não, contração e relaxamento
dos músculos pélvicos durante o ato sexual.
Troca de carícias não coitais - fazer massagens sensuais em locais diferentes dos
órgãos genitais com a comunicação entre os parceiros sobre como sentem durante tais
manipulações, pode promover um maior conhecimento dos desejos mútuos.
Diminuir dipareunia (dor à penetração) - pode ser feito através de pomadas a
base de lidocaína, banhos mornos antes do ato, agentes lubrificantes, posições que não
possibilitem um contato forte do pênis com o fundo da vagina.
Tratamento das Disfunções Específicas
Disfunção do Desejo Sexual
São mais difíceis de tratar por geralmente estarem relacionadas com
entediamento nas relações ou também devido a problemas conjugais. Em mulheres na
pré-menopausa, pode estar relacionado com estresses do dia a dia (crianças, trabalho),
medicamentos ou outra disfunção sexual (dor ou problemas orgásmicos). Em mulheres na
peri ou pós-menopausa a reposição hormonal pode trazer benefícios de várias maneiras,
assim, deve-se avaliar com o ginecologista a possibilidade de fazê-la. Não há
tratamento médico específico para esse distúrbio, caso não forem encontrados problemas
hormonais ou outros distúrbios sexuais, deve-se encaminhar para profissionais
especializados em terapia sexual. Não há consenso médico de que o uso da testosterona
poderia beneficiar este grupo de mulheres.
Disfunção da Excitação Sexual
O tratamento dessa disfunção tem sido a utilização de cremes lubrificantes
vaginais. Esses distúrbios podem ser devido a uma baixa estimulação, especialmente em
mulheres mais velhas. Por isso, deve-se demorar mais para a penetração sexual, para que
uma maior estimulação seja possível. A ansiedade pode também diminuir a excitabilidade
sexual. Técnicas de relaxamento são importantes para a sua diminuição.
A atrofia urogenital é a forma mais comum de disfunção de excitação sexual em mulheres
pós-menopausa (devido à diminuição do estímulo estrogênico ao epitélio uro-vaginal)
e pode ser tratada com a reposição hormonal mais o uso local de pomadas de estrogênio.
Isso deve ser avaliado pelo ginecologista. Naquelas mulheres que não podem fazer a
reposição hormonal, o tratamento fica mais difícil. Novas formas de terapia estão
sendo estudadas, mas até o momento o ViagraR não é recomendado para tal fim
apesar de haver informações do público leigo a esse respeito.
Desordens Orgásmicas
A anorgasmia é bem responsiva à terapia. É uma situação comum devido à
inexperiência sexual ou à ausência de estimulação suficiente em mulheres que nunca
experimentaram um orgasmo. Podem ocorrer também devido a inibições psicológicas
involuntárias ou causadas por medicações ou doenças crônicas.
O tratamento se resume
em aumentar a estimulação, exercícios de contração e relaxamento da musculatura
pélvica no momento máximo de estimulação, métodos para minimizar a inibição
através de diferentes formas de distração. Mulheres que não respondem a tais medidas
podem se beneficiar de um acompanhamento psicológico.
Dores do Coito
A Dispareunia (dor sexual) pode ser dividida em três tipos: superficial,
vaginal e profunda. A forma superficial ocorre na tentativa da penetração e está
relacionada com alterações secundárias a condições irritativas ou ao vaginismo.
A forma vaginal é uma dor referida como fricção ou seja é devida a problemas de
lubrificação vaginal como alterações hormonais e distúrbios de excitação. A forma
profunda está relacionada com o contato do pênis com o fundo da vagina e está
geralmente associada a distúrbios pélvicos ou de relaxamento.
O Vaginismo é a contração exagerada dos músculos da porção externa da vagina e está geralmente
relacionado com fobias sexuais e história de abuso sexual infantil. Pode ser completo ou
momentâneo, sendo possível não ser detectado ao exame físico. O tratamento se faz
através de técnicas de relaxamento muscular progressivo e dilatação da vagina
contraída.
De acordo com as informações acima, pode-se ter uma idéia se tais problemas estão
fazendo parte de sua vida sexual, o que talvez, pode-se passar como algo normal ou sem
soluções. Caso você possua alguma dessas disfunções, consulte seu clínico geral ou
ginecologista.
Fonte: Am Fam Physician 2000;62:141-142
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