Artigos de saúde
Os dentes podem ser acometidos e vir a sofrer lesões de diversas etiologias:
problemas como as cáries, a gengivite (doença inflamatória da gengiva) e a
doença periodontal; os traumas; as erosões e o desgaste, causado por atritos e
pela abrasão da superfície dentária. As doenças odontológicas, que acometem
a cavidade bucal, dentes e gengivas principalmente, mais prevalentes são as
cáries, a gengivite e a inflamação periodontal (doença periodontal). Ambas
são resultantes do desenvolvimento da placa bacteriana.
Nos últimos anos, a incidência de cáries vem apresentando um declínio
gradativo, principalmente, devido ao efeito protetor do flúor (mais
especificamente, o fluoreto, uma substância que exerce proteção aos dentes,
quando usada em baixa concentração). Entretanto, as cáries continuam ainda
mais prevalentes entre as crianças pré-escolares e a população de baixa
renda.
Um estudo publicado em junho de 2000, pelo British Medical Journal (BMJ) da
Inglaterra explicitou a importância da prevenção das cáries e outras
entidades que acometem a cavidade bucal, através de uma revisão clínica que
consiste em um ABC da saúde bucal.
O estudo
Neste trabalho, foram salientados os problemas odontológicos mais
prevalentes, suas seqüelas e sua prevenção. Os problemas odontológicos mais
comuns são: as cáries, a gengivite, a doença periodontal, os traumas, as
erosões e atritos que causam o desgaste dos dentes.
A placa bacteriana consiste em uma película envoltória, constituída por
microrganismos patológicos, que se forma sobre os dentes. Pode acometer,
também, a gengiva adjacente ao dente e evoluir para o acometimento do osso,
neste caso, se não tratada adequadamente. Quando a placa bacteriana não é
tratada (o tratamento consiste em sua remoção), sendo removida periodicamente
pelo dentista, microrganismos (denominados de flora bacteriana) a envolvem e
promovem a calcificação da placa, formando o tártaro (placa bacteriana
calcificada sobre os dentes).
As bactérias constituintes da placa, em contato com restos alimentares,
principalmente açúcar (representado neste caso pela sacarose), promovem a
fermentação desta substância, liberando, como produto final, ácido lático e
outros tipos de ácidos que causam a descalcificação do dente, corroendo-o, o
que resulta na formação de cáries.
A principal bactéria envolvida neste processo é o Streptococcus mutans.
O não tratamento da placa bacteriana, leva ao seu acúmulo e conseqüente
inflamação da gengiva, causando gengivite. Essa inflamação da gengiva, se
não tratada, pode se cronificar, levando à degradação da membrana
(denominada epitélio juncional) que envolve o dente, formando assim, uma
inflamação mais séria e difícil de ser tratada, a periodontite. A
periodontite crônica, resultante do não tratamento e da evolução da
gengivite, pode culminar na perda do dente, e até do osso (mandíbula ou
maxilar), devido à osteomielite, se não tratada adequadamente.
O trauma, uma das causas de problemas odontológicos, é de ocorrência comum em
praticantes de esportes, em acidentes automobilísticos, violência e
curiosamente, pacientes portadores de epilepsia (doença do sistema nervoso em
que o paciente apresenta, freqüentemente, convulsões). A prevalência do
trauma como causa de danos nos dentes é maior em indivíduos do sexo masculino,
e acomete principalmente, os dentes incisivos (dentes localizados no maxilar)
anteriores.
Outro problema que afeta os dentes é a erosão. A incidência de erosão
dentária tem aumentado devido ao elevado consumo de bebidas gasosas
(principalmente refrigerantes), aos quadros de regurgitação gástrica, que
ocorre em pacientes portadores de doença do refluxo gastroesofágico (também
chamada esofagite de refluxo) e vômitos repetidos, que ocorrem em doenças como
a bulimia (doença que pode ser definida como um distúrbio psiquiátrico
caracterizado pela indução de vômitos, objetivando-se o emagrecimento) e o
alcoolismo. A erosão resulta na perda do contorno fisiológico, normal do
esmalte dentário e, em casos mais graves, pode culminar no acometimento, com
destruição da dentina ou da polpa dentária.
O desgaste dos dentes pode ocorrer devido ao atrito causado pela mordida, ou
seja, o contato direto entre as superfícies dentárias; ou pelo uso de
substâncias abrasivas para a limpeza e escovação. Isso significa que a
oclusão dos dentes devido ao bruxismo (distúrbio em que o indivíduo permanece
com a superfície dos dentes encostadas, como se estivesse mordendo
incessantemente alguma coisa, porém, sem ter quaisquer objetos na boca) leva ao
desgaste precoce destes.
A abrasão causada pelo uso de escovas de dente duras ou pelo uso de cremes
dentais mais concentrados, portanto mais lesivos aos dentes, leva ao desgaste da
superfície dentária. Pode causar a exposição de partes internas do dente e,
conseqüentemente, à sensibilidade exagerada aos extremos de temperatura (frio
e calor). Apesar de haver disponibilidade de inúmeros produtos, como creme
dentais específicos para indivíduos com hipersensibilidade dentária, a
prevenção deve ser prioritária.
A principal causa de dor de dente são as cáries. Estas são lesões dentárias
ocasionadas pela descalcificação do esmalte dentário, que causa cavitação e
pode acometer a raiz do dente. A dor de dente pode ser causada por outros
fatores como: a exposição da dentina devido a trauma, a erosão e a abrasão
dos dentes.
De acordo com o The Scientific Basis of Dental Health Education, da
Universidade de Londres, Inglaterra, há quatro principais modos de manter uma
boa saúde oral: dieta, escovação sistemática dos dentes, uso de flúor e
visitas regulares ao dentista.
As cáries e a doença periodontal podem ser prevenidas pela mudança dos
hábitos de vida. Dentre estas mudanças, estão incluídas: a redução do
consumo de alimentos enriquecidos de açúcar, bebidas gasosas e bebidas
ácidas; a escovação dos dentes, que deve ser feita pelo menos duas vezes ao
dia, com o uso de dentifrício contendo flúor; a remoção efetiva da placa
bacteriana; e, finalmente, o acompanhamento de pelo menos, uma vez ao ano de um
dentista.
Segundo os pesquisadores, o uso de dentifrícios contendo flúor previne de
maneira efetiva o surgimento de cáries. A escovação é essencial à
prevenção de gengivite e doença periodontal. Dentre os antissépticos bucais
existentes, a maioria possui apenas efeito transitório na prevenção da placa
bacteriana.
Além destes métodos de prevenção, ainda há vacinas e protetores plásticos.
Em relação às vacinas, estas são aceitáveis, apesar do insuficiente número
de estudos comprovando sua eficácia. Quanto à proteção bucal, esta é
constituída por moldes plásticos, de consistência amolecida, ou por próteses
(tipo de molde que fica acomodado sobre os dentes), que são utilizados em
pacientes com o objetivo de prevenir traumas, em praticantes de esportes, ou
pacientes portadores de bruxismo. Para os pacientes portadores de doença do
refluxo gastroesofágico, bulimia ou alcoolismo, há agentes antiácidos que
diminuem a abrasão dos dentes.
Fonte: BMJ 2000; 320:1717-1719
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