Artigos de saúde
© Equipe Editorial Bibliomed
Nesse Artigo:
- Introdução
- Primeiro, definindo o amor
- Que seja eterno enquanto dure
- Fórmulas do Amor: a
paixão é uma reação química?
- O amor por cima das teorias
"Então de repente, no bar, na festa, na praia, na fila do banco - não importa
-, os olhos se encontram. Primeiro uma ansiedade, um calor no peito que logo se espalha em
calafrios que procuramos disfarçar. Um leve suor nas mãos. No primeiro encontro, os
lábios ressecam um pouco antes do primeiro beijo, as palavras tremem embaraçadas em
pensamentos confusos. Joelhos que mal sustentam o peso do corpo. Esquecemos do mundo lá
fora em eternas horas de silenciosa saudade ao telefone, perfumadas com aquela inquietude
própria dos amantes... "
Introdução
Quem nunca sentiu coisa parecida? Pois os cientistas - sempre eles! - querem nos convencer
que toda esta aua sedutora de mistério que envolve os assuntos do coração não passa
de uma meia dúzia de manifestações anatômicas e equações bioquímicas. Até onde a
ciência pode realmente traduzir em números e estatísticas aquilo que para muitos de
nós é a verdadeira essência dos céus na Terra: o Amor?
Primeiro, definindo o amor
O amor é uma experiência consumptiva. Mergulhamos euforicamente nesta deliciosa tortura
e não comemos ou dormimos direito. Freqüentemente, é difícil manter a concentração.
A Dra. Donatella Marazziti, psiquiatra da Universidade de Pisa, acredita que pessoas
"doentes de amor" estejam realmente doentes: sofrem de um distúrbio
obsessivo-compulsivo. Inegavelmente, paixão e psicose obsessiva-compulsiva compartilham
diversos aspectos comuns. E isto não é meramente uma teoria sem fundamentos: "ambos
estados associam-se a baixos níveis cerebrais de serotonina, uma substância química
fabricada pelo corpo que nos ajuda a lidar com situações estressantes", afirma a
médica.
Uma segunda descoberta do trabalho da Dra. Marazziti e não menos importante merece ser
mencionada: bebidas alcoólicas também diminuem os níveis de serotonina no cérebro,
criando a ilusão de que a pessoa do outro lado do bar é o amor da sua vida. Portanto,
cuidado com as noitadas.
Que seja eterno enquanto dure
Existe um limite de tempo para homens e mulheres sentirem os arroubos da paixão? Segundo
a professora Cindy Hazan, da Universidade Cornell de Nova Iorque, sim. Ela diz:
"seres humanos são biologicamente programados para se sentirem apaixonados durante
18 a 30 meses". Ela entrevistou e testou 5.000 pessoas de 37 culturas diferentes e
descobriu que o amor possui um "tempo de vida" longo o suficiente para que o
casal se conheça, copule e produza uma criança. "Em termos evolucionários," -
ela completa - "não necessitamos de corações palpitantes e suores frios nas
mãos".
A pesquisadora identificou algumas substâncias responsáveis pelo Amor: dopamina,
feniletilamina e ocitocina. Estes produtos químicos são todos relativamente comuns no
corpo humano, mas são encontrados juntos apenas durante as fases iniciais do flerte.
Ainda assim, com o tempo, o organismo vai se tornando resistente aos seus efeitos - e toda
a "loucura" da paixão desvanece gradualmente - a fase de atração não dura
para sempre. O casal, então, se vê frente a uma dicotomia: ou se separa ou habitua-se a
manifestações mais brandas de amor - companheirismo, afeto e tolerância -, e permanece
junto. "Isto é especialmente verdadeiro quando filhos estão envolvidos na
relação", diz a Dra. Hazan.
Os homens parecem ser mais susceptíveis à ação das substâncias responsáveis pelas
manifestações associadas ao Amor. Eles se apaixonam mais rápida e facilmente que as
mulheres. E a Dra. Hazan é categórica quanto ao que leva um casal a se apaixonar e
reproduzir: "graças à intensidade da ilusão romanceada que temos do Amor, achamos
que escolhemos nossos parceiros, mas a verdade é conhecida até mesmo pelos zeladores dos
zoológicos: a maneira mais confiável de se fazer com que um casal de qualquer espécie
reproduza é mantê-los em um mesmo espaço durante algum tempo" - que o digam os
processos de assédio sexual no local de trabalho...
Com base em pesquisas da Dra. Helen Fisher, antropologista da Universidade Rutgers e
autora do livro The Anatomy of Love, pode-se fazer um quadro com as várias
manifestações e fases do amor e suas relações com diferentes substâncias químicas no
corpo:
Manifestação: Luxúria
Conceito: Desejo ardente por sexo
Substância mais associada: Testosterona
Manifestação: Atração
Conceito: Amor no estágio de euforia, envolvimento emocional e romance
Substância mais associada: Altos níveis de Dopamina e norepinefrina / Baixos níveis de serotonina
Manifestação: Ligação
Conceito: Atração que evolui para uma relação calma, duradoura e segura
Substância mais associada: Ocitocina e vasopressina
Fórmulas do
Amor: a paixão é uma reação química?
Os cientistas conhecem a Feniletilamina (um dos mais simples neurotransmissores) há cerca
de 100 anos, mas só recentemente começaram a associá-la ao sentimento de Amor. Ela é
uma molécula natural semelhante à anfetamina e suspeita-se que sua produção no
cérebro possa ser desencadeada por eventos tão simples como uma troca de olhares ou um
aperto de mãos.
O affair da feniletilamina com o Amor teve início com uma teoria proposta pelos médicos
Donald F. Klein e Michael Lebowitz, do Instituto Psiquiátrico Estadual de Nova Iorque.
Eles sugeriram que o cérebro de uma pessoa apaixonada continha grandes quantidades de
feniletilamina e que esta substância poderia responder, em grande parte, pelas
sensações e modificações fisiológicas que experimentamos quando estamos apaixonados.
A Dra. Helen Fisher demonstrou que a inconstância, a exaltação, a euforia, e a falta de
sono e de apetite associam-se a altos níveis de dopamina e norepinefrina, estimulantes
naturais do cérebro.
Alguns pesquisadores afirmam que exalamos continuamente, pelos bilhões de poros na pele e
até mesmo pelo hálito, produtos químicos voláteis chamados Feromônios. Atualmente,
existem evidências intrigantes e controvertidas de que os seres humanos podem se
comunicar com sinais bioquímicos inconscientes. Os que defendem a existência dos
feromônios baseiam-se em evidências mostrando a presença e a utilização de
feromônios por espécies tão diversas como borboletas, formigas, lobos, elefantes e
pequenos símios. Os feromônios podem sinalizar interesses sexuais, situações de perigo
e outros. Se realmente existirem na espécie humana e sua percepção se der de maneira
inconsciente, estaríamos permanentemente emitindo informações acerca de nossas
preferências sexuais e desejos mais obscuros sem saber?
Os defensores da Teoria dos Feromônios vão ainda mais longe: dizem que o "amor à
primeira vista" é a maior prova da existência destas substâncias controvertidas.
Os feromônios - atestam - produzem reações químicas que resultam em sensações
prazerosas. À medida em que vamos nos tornando dependentes, a cada ausência mais
prolongada nos dizemos "apaixonados" - a ansiedade da paixão, então, seria o
sintoma mais pertinente da Síndrome de Abstinência de Feromônios.
Com ou sem feromônios, é fato que a sensação de "amor à primeira vista"
relaciona-se significativamente a grandes quantidades de feniletilamina, dopamina e
norepinefrina no organismo. E voltamos à questão inicial: até que ponto a paixão é
simplesmente uma reação química ?
O amor por cima das teorias
Apesar de todas as pesquisas e descobertas, existe no ar uma sensação de que a
evolução, por algum motivo, modificou nossos genes permitindo que o amor não-associado
à procriação surgisse - calcula-se que isto se deu há aproximadamente 10.000 anos. Os
homens passaram realmente a amar as mulheres, e algumas destas passaram a olhar os homens
como algo mais além de máquinas de proteção.
A despeito de todos os tubos de ensaio de sofisticados laboratórios e reações químicas
e moléculas citoplasmáticas, afinal, deve haver algo mais entre o céu e a terra...
Copyright © Bibliomed, Inc. Publicado em
20
de Junho de 2002, revisado em 11 de junho de 2013.
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