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Complicações vasculares do diabetes são explicadas

NEW YORK, (Reuters Health) – O mecanismo complexo pelo qual o diabetes realiza seu efeito devastador sobre os vasos sangüíneos no corpo humano está agora perto de ser compreendido, de acordo com um novo artigo.

Os resultados podem levar a novas formas de estudar e tratar a doença arterial comum em pacientes diabéticos, incluindo má circulação e doença cardíaca.

O Dr. Jose Halperin e colaboradores da Escola de Medicina de Harvard, Hospital Brigham and Women’s e Centro Joslin de Diabetes, todos em Boston, Massachusetts, averiguaram se um componente do sangue, chamado complemento, pode ser responsável pelos problemas vasculares vistos nos diabéticos. O complemento está envolvido na destruição de células e partículas estranhas como parte da resposta imunológica. Os resultados da equipe estão publicados na edição de 9 de maio da Proceedings of the National Academy of Sciences.

Em entrevista à Reuters Health, Halperin explicou que quando ativado, o sistema complemento gera um chamado complexo de ataque de membranas (CAM), o qual toma a forma de poros ou buracos na membrana celular. “Os fatores de crescimento... são liberados através destes poros CAM e então induzem a proliferação das células,” ele disse. O efeito proliferativo do complemento também pode estar ligado à aterosclerose, o processo pelo qual as placas se formam nas paredes das artérias. Em diabéticos, as complicações a longo prazo da doença incluem aterosclerose acelerada e distúrbios proliferativos da retina e do rim. De acordo com Halperin, “a importância clínica do diabetes não é apenas a hiperglicemia (alto nível de açúcar no sangue) por si só. São as complicações da hiperglicemia... e todas elas são proliferativas.”

A atividade do complemento “é estreitamente regulada e, em parte, é regulada por proteínas que estão presentes em todas as células animais,” observam os pesquisadores. “Uma (destas) proteínas especificamente, a CD59, inibe a formação de CAM.” A equipe de pesquisadores estudou a CD59 para ver como esta proteína funciona.

Altos níveis de glicose no sangue resultam em ligação química entre a glicose e proteínas como a CD59, em um processo chamado glicosilação. Mas a glicose não se liga a qualquer parte da proteína. Para que a reação química ocorra, explicou Halperin, componentes específicos da proteína devem ser arranjados em uma configuração particular que inclui alguns aminoácidos, os blocos que compõe as proteínas. O açúcar somente pode se ligar à lisina se a mesma tiver outra lisina ou histidina muito próxima a ela. Esta configuração tem sido chamada de “motivo de glicosilação”.

“Nós descobrimos que na CD59 humana, existe um “motivo de glicosilação” ele disse. “Segundo, nós encontramos que a CD59 humana purificada exposta a altos níveis de glicose se torna glicosilada e... inativada, então a glicosilação inibe a função da CD59 humana,” ele prossegue. “Esta é a ligação molecular entre o complemento e as complicações do diabetes: a glicosilação inibe a CD59; a inibição da CD59 aumenta a deposição de CAM; isto libera fatores de crescimento e promove o crescimento das paredes dos vasos e outros tecidos,” disse Halperin. De forma curiosa, animais não desenvolvem complicações pelo diabetes da mesma forma que os humanos. “A intensidade (das complicações), particularmente a aterosclerose, não é vista em animais e assim não existem bons modelos animais para estudo das complicações crônicas,” explicou Halperin. De fato, o aminoácido histidina responsável pela ativação da glicosilação da CD59 “não está presente em qualquer outra espécie” nas quais a CD59 já foi extensamente estudada. O próximo objetivo da equipe de pesquisadores, de acordo com Halperin, é criar um camundongo que tenha histidina “inserida na posição da proteína humana e nós esperamos tornar o animal sensível à inativação da CD59 pela glicosilação.”

“Se estivermos certos,” ele concluiu, “tornar estes animais hiperglicêmicos deverá levar ao desenvolvimento de complicações mais comparáveis às do diabetes humano e se isto acontecer, este se tornará um modelo animal muito importante para estudo do tratamento e da biologia destas complicações.”

FONTE: Proceedings of the National Academy of Sciences 2000;97:5450-5456.

Sinopse preparada por Reuters Health

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