Artigos de saúde

De que morrem os médicos

Neste artigo:

- Que podem fazer os médicos para melhorar esta situação?
- Karoshi, morte por excesso de trabalho
- Referências

"Os Médicos também morrem" diz um provérbio popular. É óbvio. E provavelmente morrem antes de muitos de seus pacientes.

As estatísticas demonstram que os médicos não vivem muito, ocupam o sexto lugar mundial em longevidade no mundo.

A historia também demonstra isso. Frederick Bauting, o descobridor da insulina, morreu aos 49 anos de idade. Claude Bernard pai da fisiologia moderna, morreu aos 65 anos. Albert Calmette, o descobridor da vacina da tuberculose, aos 59 anos.

O medico é o profissional que mais se expõe ao stress.

A razão é óbvia: lida com o mais valioso que tem o homem: sua saúde e sua vida.

O médico divide com seu paciente sua doença e seu sofrimento. Este stress faz com que ele, em muitas ocasiões, tenha tendência para abusar do álcool e não poucos caem nas redes das drogas.

A síndrome que em inglês recebe o nome de "Burn out" ("queimar se"), é mais comum entre os médicos do que entre os advogados, engenheiros, arquitetos ou farmacêuticos. Consiste em uma exaustão extrema psíquica e física. Ocorre quando o médico se sente incapaz para cumprir as funções que a sua profissão exige.

Na literatura, encontramos descrições de síndromes associadas às atividades profissionais dos médicos. A síndrome do "Burn out" ou síndrome do estresse profissional tem sido reconhecida como uma condição experimentada por profissionais que desempenham atividades em que está envolvido um alto grau de contato com outras pessoas. Esta síndrome tem sido definida como uma resposta ao estresse emocional crônico intermitente.

A síndrome do "Burn out" em profissionais da área de saúde é composta por sintomas somáticos, psicológicos e comportamentais.

Os sintomas compreendem: exaustão, fadiga, dor de cabeça, distúrbios gastro-intestinais, insônia e dispnéia. Humor depressivo, irritabilidade, ansiedade, rigidez, negativismo, ceticismo e desinteresse são os sintomas psicológicos. Um profissional que está "burning-out" tende a criticar tudo e todos que o cercam, tem pouca energia para as diferentes solicitações de seu trabalho, desenvolve frieza e indiferença para com as necessidades e o sofrimento dos outros, tem sentimentos de decepção e frustração e comprometimento da auto-estima (RODRIGUES, 1998).

Na Residência Médica, o estresse atinge o seu ápice. Os desencadeantes são vários: período de transição aluno-médico, fadiga, sobrecarga de trabalho, pavor de cometer erros e estão associados a diversas expressões psicológicas que incluem: estados depressivos, consumo excessivo de álcool, adição a drogas, raiva crônica e o desenvolvimento de um amargo ceticismo e um irônico humor negro.

Os médicos emocionalmente desajustados revelam algumas características comportamentais, das quais se destacam as seguintes (NOGUEIRA-MARTINS, 1991):

  • Uma dureza e frieza no contato com os pacientes e com as pessoas de um modo geral. O convívio familiar é interrompido ou postergado em função dos chamados e da agenda profissional.
  • O isolamento social faz com que o profissional se afaste do mundo não médico.
  • A negação dos problemas inerentes à profissão propicia ao desenvolvimento de atitudes arrogantes e aparentemente insensíveis.
  • A ironia e o humor negro que os médicos desenvolvem, em especial durante os anos de treinamento, é outra expressão de uma inadequada adaptação aos rigores da profissão.
  • Uma outra característica que revela desadaptação pode ser observada na atitude do profissional frente aos cuidados com a própria saúde
  • Uma variante do mesmo tema pode ser encontrada no profissional que, além de médico de si mesmo, se transforma em médico da própria família, dos amigos e conhecidos. Estes profissionais estão profundamente desconfortáveis e necessitando de ajuda.

Há uma preponderância do transtorno nas mulheres, possivelmente devido à dupla carga de trabalho que concilia a prática profissional e a tarefa familiar.

Com relação ao estado civil, tem-se associado a síndrome mais com as pessoas sem parceiro estável. Algo diferente do estresse genérico, a Síndrome de "Burn out" geralmente incorpora sentimentos de fracasso. Seus principais indicadores são: cansaço emocional, despersonalização e falta de realização pessoal.

Infelizmente a síndrome do "Burn out" vem aumentando entre os médicos. A sociedade exige-lhe um padrão de vida elevado. Mas sua profissão não lhe produz rendimento suficiente e obriga o a cumprir jornadas exaustivas de 12 ou 14 horas ao dia.

Em resumo, há na literatura evidências sugestivas de que uma parcela da população médica - 8% a 10% - seja um grupo de risco em relação a distúrbios emocionais, com maior vulnerabilidade psicológica.

A insalubridade psicológica inerente à tarefa médica pode ser um importante fator desencadeante de distúrbios emocionais em estudantes, residentes e médicos predispostos ou mais vulneráveis (NOGUEIRA-MARTINS, 1989/90).

Que podem fazer os médicos para melhorar esta situação?

Diversos recursos têm sido propostos para prevenir as conseqüências do trabalho médico. A mais importante medida é a inclusão da Psicologia Médica nos cursos de medicina, orientando desde o inicio os estudantes para os contratempos da profissão.

Algumas medidas preventivas podem ser citadas e colocadas em prática:

- modificar determinados comportamentos que o prejudiquem

- Comer alimentos saudáveis

- Realizar exercícios físicos e de relaxamento

- Administrar o tempo de maneira gratificante

- Aprender a dizer NÃO

- Delegar tarefas

- Não se deixar vencer pela frustração

- Cultivar atitudes positivas

- Manter uma vida social ativa

- Não faltar aos encontros familiares ou com amigos

Os médicos continuam sendo os únicos trabalhadores especializados que têm de estar dispostos a atender seus pacientes 24 horas por dia.

São escravos de sua profissão e os escravos não são longevos.

Karoshi, morte por excesso de trabalho

Uehata T
School of Humanity, Section of Human Nutrition, Seitoku University.

Karoshi (morte por excesso de trabalho) é um termo médico usado para designar pacientes sobreviventes de ataques cardíacos súbitos, doenças cardiovasculares como patologia coronariana isquêmica, infarto agudo do miocárdio e falho cardíaco súbito.

O primeiro caso registrado sobre KAROSHI (KARO= excesso de trabalho e SHI = Morte) deu-se em 1969, no Japão, quando da morte de um trabalhador de 29 anos, empregado da área de distribuição de jornais da maior empresa japonesa do ramo, por infarto.

A notícia popularizou o termo KAROSHI, o que em parte significou alívio para muitas viúvas, filhos e familiares, os quais até então não sabiam o por que da morte súbita destes pacientes.

As autoridades japonesas resistiram a princípio, ao reconhecimento desta patologia como sendo de origem ocupacional, mas a grande pressão social e o crescente número de viúvas e filhos que impetraram processos indenizatórios contra as empresas e o governo, fizeram com que a 1a indenização fosse concedida já nos anos 70.

Em Dezembro de 2000, passou se a admitir e associar a fadiga crônica em trabalhadores a ataques cardiovasculares. Como resultado da analise de 300 casos conclui se que 80 deles se enquadravam no quadro de Karoshi.

O ministério da Saúde Japonês concluiu ser a patologia resultante de várias horas de trabalho continuo, por vários meses, especialmente sem recebimento de um salário, desta maneira, o ministério do trabalho propôs a diminuição de horas extras para um máximo de 45 horas mensais para cada trabalhador.

Nippon Rinsho.  2005; 63(7):1249-53 (ISSN: 0047-1852)

Referências

1 - Psychiatry On-line Brazil (7) Abril 2002

2 - Part of The International Journal of Psychiatry - ISSN 1359 7620 - A trade mark of Priory Lodge Education Ltd

3 - NOGUEIRA-MARTINS, L.A. - Saúde Mental dos Profissionais de Saúde. In: BOTEGA, N.J. (org.) Prática Psiquiátrica no Hospital Geral: Interconsulta e Emergência__. Porto Alegre, Artmed Editora, 2002, pags.130-144

4 - Universidade nacional de Colômbia. Fundação Santa Fé de Bogotá Cirurgia Plástica Americana Ibero-Ibero-Latin - Vol. 31 - Nº 1 de 2005 157, Bogotá, II-05

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