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Terapias Alternativas Podem Prejudicar Tratamento Anticâncer

CHICAGO (Reuters Health) - Pacientes com câncer que têm reações inesperadas ou inexplicáveis durante a quimioterapia podem estar recorrendo a terapias alternativas que não haviam mencionado, disse Roger Dean, oncologista pediátrico no Children's Hospital da Universidade de Chicago, durante um encontro no domingo.

Durante sua participação no encontro anual do American College of Clinical Pharmacology, Dean observou que estudos revelam que 80 por cento dos doentes de câncer apelam para tratamentos com ervas, vitaminas e outros produtos na esperança de que possam minimizar os efeitos colaterais da quimioterapia.

Esses produtos, no entanto, podem produzir interações perigosas ou interferir na absorção das drogas de combate ao câncer.

De acordo com Dean, não são apenas os adultos que recorrem a métodos alternativos ou complementares para combater o câncer ou a perda de cabelos, náusea ou emagrecimento causados pela quimioterapia.

As crianças e os adolescentes também acabam usando esses produtos, por influência de seus pais, parentes ou amigos. O oncologista estima que cerca de 10 por cento das crianças que sofrem de câncer são tratadas também com terapias alternativas, mas a maioria dos pais não informa aos médicos sobre seu uso.

Dean citou um caso de seu hospital que ilustra o potencial de risco dessa prática. Uma menina de 7 anos com osteosarcoma (um tipo de câncer ósseo) apresentou uma súbita erupção cutânea avermelhada cobrindo a maior parte do corpo quando era tratada com um quimioterápico chamado doxurrubicina. A administração de doxurrubicina foi suspensa e a menina passou a tomar um anti-histamínico para combater a coceira e a irritação da pele.

No segundo dia após o reinício da quimioterapia, sofreu outra erupção semelhante. Quando a menina foi questionada, mencionou que tinha tomado algumas pílulas "para combater o câncer" e "parar os efeitos ruins da quimio" dadas pela avó pouco antes de recomeçar o tratamento.

Os médicos pediram à família para levar todas as vitaminas e medicamentos que estavam dando à menina e descobriram que ela estava recebendo uma dose alta de uma vitamina chamada niacina.

Dean disse que, baseado nos dados sobre adultos, a equipe concluiu que a niacina provavelmente era a causa da erupção cutânea.

De acordo com o especialista, não se deve desencorajar os pacientes interessados em recorrer a terapias alternativas ou complementares, já que algumas realmente podem ajudar o doente.

Mas, como há poucos estudos sobre os efeitos conjuntos das terapias alternativas e quimioterapia convencional, os clínicos precisam saber o que seus pacientes estão tomando, evitando os juízos de valor, recomendou Dean.

O oncologista explicou que os médicos já aceitam o uso de algumas dessas substâncias, como a raiz de gengibre, que age contra a náusea, a cava-cava que reduz o estresse e a ansiedade, hipérico para depressão branda, raiz valeriana para a insônia e "lactobacillus acidophilus" para ajudar a reduzir a diarréia.

Todas essas substâncias, no entanto, apresentam possibilidade de interação. O hipérico, o mais estudado, parece interferir com a ação de uma enzima hepática importante, o citocromo P-450.

Os pacientes que tomam hipérico sofrem queda na eficácia dos contraceptivos orais, do indinavir contra a Aids e da ciclosporina, imunossupressor administrado a transplantados.

Segundo Dean, estudos indicam que o hipérico pode reduzir a concentração sanguínea de alguns quimioterápicos metabolizados pela mesma enzima do fígado.

Segundo o oncologista, há também a possibilidade de o hipérico tornar os tumores resistentes a algumas classes de drogas empregadas na quimioterapia.

Finalmente, Dean explicou que algumas ervas medicinais podem ter uma ação hormonal que complica o tratamento dos tumores sensíveis a essas substâncias.

Sinopse preparada por Reuters Health

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