Artigos de saúde
Neste Artigo:
- Introdução
- História da Intoxicação pelo
Chumbo
- Exposição Ambiental ao Chumbo
- Exposição ao Chumbo nas Crianças
- Onde Está o Chumbo no Meio Ambiente?
- Exposição Ocupacional
- Países Desenvolvidos
- Países em Desenvolvimento
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"O chumbo é o metal pesado mais abundante na crosta terrestre. Sua utilização
data de épocas pré-históricas tendo sido amplamente mobilizado desde então. A sua
exposição tanto ocupacional quanto ambiental tem levado a sérios problemas
principalmente nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, pois nos desenvolvidos
tem havido uma diminuição importante do seu uso, devido a novas legislações. A
intoxicação aguda por esse metal tem diminuído muito nesses países enquanto a
exposição crônica ainda é um problema. Nos países pobres, a parcela da população
menos favorecida economicamente tem sido a mais afetada, devido à ausência de leis a
respeito. O texto que se segue traz algumas reflexões sobre a natureza e importância da
exposição ambiental ao chumbo, indicando possíveis intervenções futuras".
Introdução
O chumbo é um elemento abundante em toda a crosta terrestre e sua utilização já
ocorria em épocas bem antigas. Ao longo do tempo, seu manuseio tem aumentado
progressivamente. Quando em grandes concentrações, o contato humano com esse metal pode
levar a distúrbios de praticamente todas as partes do organismo - sistema nervoso
central, sangue e rins – culminando com a morte. Em doses baixas, há alteração na
produção de hemoglobina (molécula presente nas células vermelhas do sangue,
responsável pela ligação dessas células ao oxigênio) e processos bioquímicos
cerebrais. Isso leva a alterações psicológicas e comportamentais sendo a diminuição
da inteligência um dos efeitos.
Uma pesquisa sobre o tema foi realizada pelo Dr. Shilu Tong e colaboradores, do Centro de
Pesquisa em Saúde Pública da Universidade de Tecnologia de Queensland, Brisbane –
Austrália. Um artigo sobre a pesquisa foi publicado no Boletim da OMS deste ano. Um
resumo desse artigo segue abaixo.
História da Intoxicação pelo Chumbo
Há uma longa história sobre a intoxicação pelo chumbo nos alimentos e bebidas. No
Império Romano era comum devido ao fato de serem os canos feitos de chumbo, assim como os
vasos onde se guardavam os vinhos e alimentos.
A intoxicação ocupacional foi primeiramente pronunciada em 370 BC. Foi comum entre
os trabalhadores do século XIX e início do século XX (como pintores, encanadores e outros). Em 1883 foi feita, na Inglaterra, a primeira legislação com
relação à proteção de trabalhadores expostos, devido à morte de diversos empregados
de empresas de chumbo em 1882.
Atualmente, a intoxicação aguda pelo chumbo em países desenvolvidos tem sido controlada
devido à melhoria das condições de trabalho. Entretanto, tem-se questionado os males
causados pela exposição a doses baixas de chumbo durante um longo período,
especialmente em crianças. Em 1943, um estudo nos EUA, com crianças expostas, levou a
resultados comprovadores de alterações neuropsicológicas na exposição crônica a
doses leves e após exposição aguda a doses altas.
Muitas pesquisas foram feitas nos últimos 30 anos avaliando as concentrações de chumbo
no sangue e seus efeitos. Assim, têm-se descoberto distúrbios com concentrações cada
vez menores.
Atualmente, o público mais afetado está localizado nos países mais pobres,
representando minorias populacionais desfavorecidas.
Exposição Ambiental ao Chumbo
A exposição ambiental ao chumbo aumentou bastante após o processo de
industrialização e o aumento da mineração. É uma exposição maior que de outros
elementos da natureza. Globalmente, calcula-se que cerca de 300 milhões de toneladas de
chumbo já foram expostas no meio ambiente durante os últimos cinco milênios,
especialmente nos últimos 500 anos. Após o advento do automobilismo, no início do
século XX, aumentou-se bastante a exposição de chumbo devido ao seu uso junto com o
petróleo.
O consumo de chumbo aumentou significativamente nos países em desenvolvimento entre 1979
e 1990. Atualmente, a contaminação de chumbo nas águas, solo e ar continua
significativa. Calcula-se que a concentração de chumbo no sangue era até 500 vezes
menor nos seres humanos da era pré-industrial.
Exposição ao Chumbo nas Crianças
As crianças são um grupo sensível aos efeitos do chumbo devido a vários fatores:
- consumo por quilo de peso é maior do que nos adultos;
- crianças colocam objetos na boca com freqüência, que levam sujeiras do solo;
- a absorção de chumbo pelo organismo das crianças é maior do que pelo adulto;
- crianças pequenas estão em desenvolvimento rápido e constante, seus sistemas não
estão completamente desenvolvidos e assim são mais vulneráveis aos efeitos do chumbo.
Como já dito anteriormente, as crianças mais pobres estão bem mais sujeitas à
intoxicação, devido ao local de residência ser perto de indústrias ou de vias de alto
tráfego e devido à desnutrição como fator agravante.
É comprovadamente sabido dos danos que a exposição contínua a baixas doses de chumbo leva a crianças pequenas – diminuição importante do desenvolvimento intelectual – efeitos esses geralmente irreversíveis. Percebe-se que para cada 10 microgramas
acima da concentração de 25 microgramas no sangue, há uma diminuição no QI de 1 a 3
pontos.
Onde está o Chumbo no Meio Ambiente?
Diferente da intoxicação aguda que geralmente tem sua fonte facilmente detectável,
a exposição prolongada deve-se a várias fontes – petróleo, processos industriais,
tintas, soldas em enlatados, canos de água, ar, poeira, sujeira das ruas e vias, solo,
água e alimentos.
O chumbo proveniente do petróleo é o maior contribuinte para a exposição corpórea e a
maior forma de distribuição do metal no meio ambiente. Daí contamina-se o solo, ar e
água. É um grande problema ambiental que somente recentemente tem sido valorizado pelos
países em desenvolvimento.
Exposição Ocupacional
É ainda algo comum, manifestando-se de diversas maneiras. Algumas profissões têm um
risco muito maior: montagem de veículos, montagem e recuperação de baterias, soldagem,
mineração, manufaturação de plásticos, vidros, cerâmicas e indústrias de tintas,
oficinas de artesanato. Há várias situações em que o local de trabalho é a própria
casa o que leva a exposição às crianças e vizinhança. Legislações rigorosas têm
sido seguidas nos países ricos há algum tempo, o que não ocorre nos países do terceiro
mundo, onde várias regiões podem estar sendo expostas devido a fábricas sem uso de
proteção ambiental.
Exposição Ambiental
Países Desenvolvidos
Nesses países, tem-se conseguido uma diminuição no uso de chumbo principalmente no
petróleo, nos últimos anos. A concentração sangüínea de chumbo nos cidadãos
diminuiu drasticamente nos últimos 20 anos. Nos EUA, essa diminuição foi de 78%.
Programas de prevenção à exposição ao chumbo estão tendendo a focalizar em crianças
moradoras de casas antigas, provenientes de minorias de baixa renda. Outros países onde
também houve essa diminuição foram a Alemanha, Bélgica, Nova Zelândia, Suécia e
Inglaterra.
Países em Desenvolvimento
O chumbo continua a ser um importante problema de saúde pública nesses países, com
várias formas de exposição. Na América Latina, a exposição é pequena através de
tintas, mas é grande através de cerâmicas. A exposição por diversas fontes parece ser
até mais importante do que pelo petróleo, especialmente na população pobre –
mineração, fábricas de baterias, artesanato, fundições.
Países como Jamaica e Albânia tiveram suas populações expostas (residentes de áreas
perto de fábricas) estudadas tendo sido demonstrado uma concentração sangüínea duas
vezes maior do que as pessoas não expostas. A China também contribui com dados
parecidos, sendo que houve grande número de crianças com taxas sangüíneas altas mesmo
morando longe de fábricas, o que sugere ser devido à exposição ao petróleo
(combustíveis) que tem grande quantidade de chumbo naquele país. No México, o risco de
exposição ao chumbo esteve relacionado com o tipo de cerâmica utilizada para o preparo
da alimentação, concentração de chumbo do ar devido à emissão por veículos e na
sujeira e poeira com as quais as crianças têm contato. A África tem um petróleo com as
maiores concentrações de chumbo do planeta. O nível de chumbo no solo também é
grande. A exposição às crianças é um problema sério de saúde pública, que está
relacionado com o nível cultural dos pais e a situação sócio-econômica. Na
Tailândia, após a retirada do chumbo dos combustíveis, houve uma melhora importante nas
concentrações atmosféricas locais.
Conclusão
Devido à dificuldade de se acabar com as exposições globais de chumbo a curto e
médio prazo, muito deve ser feito para localizar populações de risco e assim, alterar
ciclos de poluição que por ventura possam estar se perpetuando. Dentre as várias
intervenções internacionais que podem diminuir a utilização do chumbo e assim sua
exposição estão:
- Remoção do chumbo do petróleo e aditivos, tintas, vasilhas de estocagem de alimentos,
cosméticos e medicamentos.
- Diminuição da dissolução de chumbo nos sistemas de tratamento e distribuição de
água.
- Melhora do controle nos locais de trabalho, através de fiscalizações mais sérias.
- Melhora da identificação de populações de risco.
- Melhora de procedimentos preventivos através da educação populacional.
- Promoção de programas que visem a diminuição da desnutrição e de outros fatores
que agravem a intoxicação ao chumbo.
- Desenvolvimento de monitorização internacional através de programas de controle de
qualidade.
Cerca de 100 países, a maioria desenvolvidos, ainda utilizam o chumbo no petróleo.
Evidências de pesquisas demonstraram ser a retirada do chumbo presente no petróleo um
dos meios mais eficientes para a sua diminuição atmosférica. Muitos países em
desenvolvimento já começaram sua luta contra o chumbo: Bangladesh, China, Egito, Haiti,
Honduras, Hungria, Índia, Kuwait, Nicarágua, Malásia e Tailândia. O sucesso desse
movimento está dependente do compromisso sério dos governos, incentivando políticas
favoráveis para que um amplo consenso seja atingido. Não se pode deixar de enfatizar, em
última análise, a importância da união de diversos grupos de países nesse objetivo.
Fonte: Bulletin of The World Health Organization, 2000, 78 (9)
Copyright © 2000 eHealth Latin America
05 de Outubro de 2000
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