Artigos de saúde

O Rio da Vida

Neste Artigo:

- Cada um em seu Lugar
- Ambientalistas no Rio da Vida
- Não Apresse o Rio
- Um Peixe-Operário – A Hemoglobina
- Leitos Iguais, Rios Diferentes
- O Rio está Doente
- Quem Pode Salvar os Rios?
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"No corpo humano, o sangue representa cerca de um vigésimo de seu peso e sua parte líquida é denominada plasma. É no plasma que estão os gases, sais e outras substâncias, inclusive alimento. Além da parte líquida, existem as células isoladas denominadas glóbulos brancos e vermelhos. O número de glóbulos varia conforme o estado de saúde da pessoa, sendo que, normalmente, os vermelhos predominam em grande parte sobre os brancos. Estudar o sangue é uma atividade a que se dedicam as clínicas de hematologia. E tratar de suas várias manifestações é parte da hemoterapia, que vamos conhecer a seguir".

Cada um em seu Lugar

Correr por entre vales e montanhas, contornar obstáculos, subir e descer, indo e voltando aos mesmos lugares, ele se ramifica, se expande, se comprime e segue dando voltas. Esta é a rotina do rio da vida, o nosso sangue. Sua função, entre outras coisas, é conduzir o oxigênio e nutrientes obtidos do alimento. É o rio mais espetacular de que se tem notícia no mundo, responsável pela nossa saúde.

Há uma certa confusão entre um laboratório de análises e um laboratório que desenvolve a prática da hemoterapia. Os primeiros fazem todo e qualquer tipo de análise, seja do sangue, com alguns tipos de exame, seja da urina, fezes e assim por diante. Os segundos, em geral combinando duas atividades, a hemoterapia e a hematologia, desenvolvem um sem número de atividades relacionadas tanto ao estudo quanto ao tratamento especificamente do sangue.

Os laboratórios que se incumbem de todo e qualquer tipo de análise, portanto, também fazem exame de sangue, mas não só. Os departamentos de hematologia combinados com hemoterapia, por sua vez, cuidam apenas do estudo e do tratamento do sangue, com um maior número de exames específicos, além de promoverem a prática da doação de sangue.

Ambientalistas no Rio da Vida

Pesquisar e desenvolver todas as técnicas e procedimentos para cuidar do nosso rio é uma tarefa bastante delicada e difícil. Ela não pode ter erros. De cada passo dado, de cada doação sanguüínea, de cada transfusão pode depender uma vida.

O Centro de Atendimento Hemoterápico da Unicamp, em Campinas, SP, que é um centro modelo, desenvolve um trabalho para vários hospitais da cidade e também para outros da região.

Para se ter uma idéia de sua abrangência, esse centro hemoterápico, segundo suas próprias fontes, atende a uma população de seis milhões de habitantes, os quais estão distribuídos em cerca de 120 municípios. Além disso, presta assistência médico-hematológica aos pacientes da região, por meio de atendimento ambulatorial, hospitalar (Hospital de Clínicas da Unicamp), quimioterápico, odontológico e laboratorial especializados, atendendo a mais ou menos 200 pacientes por mês. Para esse centro hemoterápico da Unicamp são encaminhados casos não só da região, mas também de outros Estados do Brasil.

Não Apresse o Rio

O ritmo do rio da vida é mais suave quando estamos bem de saúde e também quando estamos relaxados. Ele é mais acelerado quando estamos com algum problema de saúde ou quando estamos emocionalmente perturbados. Em situações de emergência, que provoquem emoções como indignação, raiva, revolta, dizemos que o sangue ‘ferve’. Do outro modo, em situações de susto, medo, pânico, o sangue ‘desaparece’ ou ‘foge’ para dentro do corpo, como que para se proteger – e proteger assim o nosso corpo. É quando percebemos que a pessoa fica pálida, sem cor. Como essas reações são extremamente rápidas, e como vemos a reação pelo ‘lado de fora’, é praticamente impossível determinar quantos milhões de células entram em ação em frações de segundos, terminando em um rosto corado ou pálido.

Conduzir-se com serenidade diante de fatos surpreendentes ou chocantes – que, a rigor, acontecem quase que diariamente – é uma arte que nosso sangue agradece, relata Dra. Dalva Mesquita, psicoterapeuta especializada em relaxamentos, pois assim o rio pode seguir seu fluxo normal, sem ser estancado de repente ou ter que correr demais.

Um Peixe-Operário – A Hemoglobina

Nosso bem estar, devido ao fluxo sangüíneo, está ligado, entre outras coisas, com o oxigênio que passa pelo corpo e especialmente pelo nosso cérebro. O oxigênio, que retiramos do ar, é conduzido por todas as partes pela hemoglobina, que vai buscá-lo sempre nos pulmões.

Nem todas as partes do sangue têm essa capacidade, mas sim, apenas os glóbulos vermelhos porque eles contêm a hemoglobina, que tem a propriedade de se combinar com uma molécula de oxigênio. Assim, quando faltam glóbulos vermelhos, falta também hemoglobina e a pessoa então sente seus efeitos, sofrendo com isso. Como a hemoglobina está ligada ao ferro, é por essa razão que os exames de sangue podem, por exemplo, detectar anemia, que é, a grosso modo, a falta de ferro no organismo.

O papel da hemoglobina é tão importante que podemos imaginá-la como um peixe-operário dentro de um rio, fazendo várias tarefas para que o corpo se mantenha forte e com saúde.

Quando ela falta, é hora de repor – e aí entram as transfusões, os tratamentos com dieta ou com medicamentos.

Leitos Iguais, Rios Diferentes

A corrente sangüínea tem sua disposição praticamente igual no corpo de todos os indivíduos. No entanto, em cada uma delas pode passar um tipo diverso de sangue, seja O, A, B e AB, que também são divididos em fator Rh positivo e fator Rh negativo. Por isso, quando uma pessoa necessita de transfusão de sangue, este deve ser analisado e comparado com o sangue do doador, para ver se há compatibilidade. Em geral, o tipo O é o mais comum e o mais generoso, porque este tipo sangüíneo pode doar para qualquer pessoa, enquanto que ele só pode receber sangue do mesmo tipo O. O papel da hemoterapia é o de estudar e prover o correto tipo de sangue para que a pessoa não sofra sérios transtornos com uma simples transfusão. Também ela analisa o sangue do doador para ver se ele é portador de alguma doença, caso em que a transfusão não pode ser feita.

Para a doação de sangue, todo material deve ser descartável, tornando essa uma técnica segura, sem riscos para o doador ou para o receptor.

O Rio está Doente

Um rio pode estar contaminado, cheio de entulhos ou com pouco oxigênio. Pode também estar obstruído por pedras no caminho. A hemoterapia, neste aspecto, faz sempre o papel de ambientalista, tratando do rio com a consciência de que ele é a vida do corpo. Tantas são as interferências que a hemoterapia estuda caso a caso para decidir sobre o tratamento mais indicado. O Centro Hemoterápico da Unicamp, por exemplo, conta com vários laboratórios para auxílio diagnóstico e pesquisa, atendendo na região casos de pacientes com hemopatias tais como: anemias adquiridas e hereditárias, linfomas e leucemias (oncohematologia) e distúrbios de hemostasia. O Centro também investiga doenças hematológicas hereditárias e adquiridas como leucemias, linfomas, anemia falciforme, talassemias, doenças da coagulação como hemofilia, doença de von Willebrand, doenças trombóticas e outras.

Além de atuar como centro de referência nacional ao caracterizar defeitos moleculares básicos em anemias hereditárias e doenças hemorrágicas e trombóticas, o Hemocamp também dirige o centro de transplante de medula óssea da Unicamp.

A equipe de hemoterapia do Centro também realiza coletas de sangue de doadores voluntários (no local e em outros municípios, com uma equipe móvel), usando técnicas e padrões internacionais.

Além disso, realiza a separação do sangue em componentes, testa a qualidade do sangue doado e realiza exames de compatibilidade antes de transfusões. É atribuição de um centro hemoterápico como este também desenvolver campanhas sobre a doação voluntária de sangue entre a comunidade, manter estoques seguros de sangue e promover o ensino a médicos e paramédicos.

Quem Pode Salvar os Rios?

Nem todas as pessoas podem ser doadoras de sangue. Mas a necessidade de um hospital, em geral, é muito grande e é importante saber que a maioria das pessoas tem condição de doar, sem problemas. Basta se informar nos postos de coleta.

Os critérios para doação não diferem muito de um centro hemoterápico para o outro e o doador tem direito a ser informado sobre todo o procedimento e sobre a importância do ato de doar.

No Centro de hemoterapia da Unicamp, os critérios para ser um doador incluem:

  • Ser saudável.
  • Ter entre 18 e 60 anos.
  • Pesar mais de 50 kg.
  • Não ter comportamento de risco para doenças sexualmente transmissíveis ou transmitidas pelo sangue.
  • Não fumar 2 horas antes ou após a doação.
  • Não estar em jejum.
  • Evitar alimentos gordurosos 4 horas antes da doação.

Na Hemoclin – Clínica de Hemologia e Hemoterapia em Pelotas, RS, são os seguintes os requisitos para doação:

  • Estar em boas condições de saúde;
  • Ter entre 18 e 60 anos;—ter peso igual ou superior a 50 Kg;
  • Vir alimentado evitando alimentação pesada;
  • Ter dormido pelo menos seis horas;
  • Trazer documento de identidade ou equivalente.

Os impedimentos temporários também são explicados nas instruções da Hemoclin, a um doador:

  • Estar gripado ou com febre;
  • Estar grávida, 3 meses após o parto ou amamentando;
  • Ter ingerido bebida alcoólica no dia da doação.

Há também os impedimentos definitivos, adiantados pela Hemoclin:

  • Ter tido hepatite após 10 anos de idade, doença de chagas, malária ou sífilis.
  • Pertencer ao grupo de risco para AIDS, ou seja, homossexualismo, bissexuais, usuários de drogas ou tóxicos. Heterossexuais com vários parceiros ou hábitos promíscuos.

Esta clínica também publica o intervalo ideal entre uma doação e outra que é:

  • Homens, 60 dias.
  • Mulheres, 90 dias.

Segundo o Centro de Hemoterapia da Unicamp, o procedimento de doação é seguro e todo o material é descartável. Mesmo assim, é direito do doador certificar-se, em qualquer local de doação para onde se dirija, e também é direito fazer perguntas para que nenhuma dúvida seja levada para casa. Em geral, após a doação, é oferecido ao doador um suco ou lanche, e este deve esperar um curto período de tempo ainda dentro do centro de hemoterapia para ter certeza de que está bem disposto. O doador recebe do posto de coleta de sangue uma carteirinha contendo seu tipo sangüíneo, que por sua vez deve conservar consigo como um documento.

Embora o doador quase nunca venha a saber quem foi o alvo de seu gesto, ele pode ter algumas certezas:

Primeiro, o sangue será realmente utilizado para este fim, pois os hospitais dependem de cada gota de sangue recebido através de doação.

Segundo, o doador não fica com ‘menos sangue’ no corpo, pois a fabricação do sangue é contínua e este é logo reposto, sem problemas.

E terceiro, ao doar sangue, você está salvando uma vida.

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