Artigos de saúde
A Internet colocou à disposição de milhões de pessoas informações sobre saúde que
antes só eram de conhecimento médico. Leia aqui a opinião de vários usuários e
profissionais sobre a saúde na rede e previna-se: nem tudo que está na web é verdade.
A febre dos sites de saúde na Internet nos
diz ao menos duas coisas: as pessoas carecem de informações, e os profissionais estão
ansiosos para dá-las. "A Internet, sem dúvida, abriu um canal de comunicação
entre profissionais e pacientes que antes inexistia", definiu um profissional que
mantém um site na rede. De acordo com este pequeno empreendedor, que não quis se
identificar, a Internet talvez seja mesmo um dos grandes fatores de democratização da
informação, tendo em vista que muitas pessoas que não teriam acesso à pesquisas mais
recentes ou à centros de medicina mais avançados podem dispor de ajuda através da
Internet. Inclusive com sigilo.
Para os tímidos de plantão, o anonimato que a Internet permite facilita a busca de
informações que muitas pessoas tem embaraço em solicitar. Sendo assim, a rede acabou
tornando-se uma promotora de saúde pública, sempre que abre espaço para a prevenção
de doenças e encaminhamento de pacientes, além da troca de informações e formação de
comunidades em torno de temas pouco comuns, como síndromes genéticas. São muitos os
pais em desespero que encontram na rede o consolo ou as alternativas de tratamento para
aquilo que lhes tinham dito ser impossível tratar.
O joio e o trigo
Da mesma forma, no entanto, que a Internet permite o amplo acesso às informações de
saúde, também possibilita que gente inescrupulosa dissemine falsas teorias e conselhos
errôneos. Em uma busca simples por "tratamento de câncer" em um mecanismo de
busca dos mais requisitados no Brasil, como o Cadê, por exemplo, nada mais nada menos do
que 47 registros são encontrados, muitos deles sugerindo tratamentos alternativos à base
de ervas, cogumelos e babosa, além de homeopatias, acupuntura e outras sugestões não
comprovadas cientificamente.
Em uma pesquisa americana, realizada por gastroenterologistas, concluiu-se que um em cada
dez sites que tratam de sua especialidade contém informações sobre "tratamentos
que não tem eficácia comprovada ou são charlatanismo puro". Na área de saúde
mental, por exemplo, outro estudo, realizado em 1999 pelo Ursinus College, no estado da
Pensilvânia, advertiu que muitos dos sites dirigidos ao público continham informações
preconceituosas e enganadoras sobre determinadas opções de tratamento, sem incluir um
exame objetivo de alternativas igualmente eficazes. Para Célia Boyer, da Fundação de
Saúde na Internet, organização com sede em Genebra criada para acompanhar e melhorar a
qualidade das informações sobre medicina na rede, o problema da qualidade torna-se
premente com o crescimento da Internet e as facilidades para se criar um site.
De acordo com Mário Persona, diretor de Comunicação do site Widesoft, o próprio
mercado deverá regular os sites úteis dos inúteis. "Ninguém sabe que um
refrigerante dá azia até todo mundo começar a reclamar que aquela marca dá azia.
Então ele desaparece. O mesmo é com Internet. Nunca encontramos tantos retornos de
endereços não existentes como nas buscas que fazemos hoje nos 'search engines'. São
empreendimentos que não resistiram às implacáveis leis de mercado. O mesmo acontece com
saúde".
No que diz respeito à saúde, no entanto, nem todos pensam da mesma forma, uma vez que um
engano pode significar uma vida. Para o Conselho Federal de Psicologia, o tratamento
psicológico pela Internet, por exemplo, ainda precisa de muita pesquisa para ser
regulamentado. Eles orientam seus associados a não prestarem atendimento mediado pelo
computador, sob risco de cassação do registro profissional. O Conselho Federal de
Psicologia só permite o atendimento psicológico via Internet se este estiver sendo feito
como pesquisa científica regulamentada por eles, com o atendido ciente de que está
participando de uma pesquisa. Além disso, o serviço psicológico via Internet não pode
ser remunerado.
De acordo com Stephen Barret, M.D., conhecido inimigo do charlatanismo na Internet e autor
do site QuackWatch, onde denuncia as práticas que considera fraudulentas, a melhor
maneira de evitar ser enganado é rejeitar os promotores do charlatanismo. Ele lista em
seus sites alguns indicativos de que um site de saúde pode estar sendo charlatão: a
venda de ervas ou suplementos alimentares, a comercialização ou indicação de produtos
homeopáticos (segundo ele, estes produtos não comprovaram sua eficácia científica), a
promoção de métodos alternativos (ele considera que existem milhares de métodos
alternativos e que a maioria deles é inútil), e qualquer promoção de tratamentos
"não tóxicos", "naturais" ou "holísticos". Sua
recomendação é: "desconfie".
Saúde pública na Internet
Para o secretário adjunto de saúde do Estado de São Paulo, Dr. José Carlos Seixas,
médico sanitarista e doutor em saúde pública, a Internet no meio médico pode ser da
maior importância sob vários aspectos. "Eu vejo a Internet como uma possibilidade
de aumentar o espaço de liberdade e de diálogo", disse, em entrevista ao site
BoaSaúde. "Isso significa que enfrentaremos abusos e problemas, mas, historicamente,
liberdade significa ganhos de criatividade e de relacionamento humano, o que pode ser um
fator espetacular na promoção da saúde pública", declarou. Segundo o Dr. Seixas,
o advento da Internet, associado ao conhecimento do genoma, por exemplo, "seguramente
promoverá um crescimento na promoção da saúde, seja física, intelectual ou
emocional".
Como médico, o Dr. Seixas acredita que nem é muito importante saber quais são os
assuntos que mais interessam ao público, "porque o espaço de liberdade é tão
grande que o mais importante é tratar de todos os assuntos que houver interesse, pois
você entra no plano de relacionamento individual", explicou. "Na saúde
pública, por exemplo, os médicos tenderão a se interessar mais pelas informações de
alcance coletivo, técnicas-científicas", pensa. Ele imagina que, falando de saúde
pública, o público se beneficiaria mais em ter informações sobre educação
sanitária, da qual o médico deveria ser um provedor.
O ponto de vista do empreendedor
De acordo com um paralelo entre os livros convencionais de saúde e os sites de saúde,
estabelecido por Mário Persona, diretor de comunicação da Widesoft, "Livros
convencionais de saúde não têm sucesso nas livrarias. Os que vendem são os inovadores,
para emagrecer, alongar ou entreter. Informações de saúde servem para pesquisas, e isto
as universidades dão de graça. Propostas alternativas e inovadoras fazem a pessoa enfiar
a mão no bolso. Estes tem maiores chances de sucesso". Para Mario Persona, os sites
de saúde sempre serão úteis, "mas entre ser útil e ser viável existe o problema
do custo e manutenção de um projeto", alerta, lembrando que muitos empreendimentos
acabaram sendo fechados por falta de viabilidade comercial.
Persona acredita que "pouco a pouco a Internet irá se dividindo em bolsões. Sites
pessoais, de baixa credibilidade (difícil de checar a informação), sites institucionais
de média credibilidade (informação puxada para a sardinha da empresa), sites
acadêmicos, de alta credibilidade (e baixo índice de absorção), e sites comerciais, de
credibilidade discutível (com compromisso de qualidade para não perder clientela). Achar
onde se encaixar pode definir o sucesso do site, seja ele de saúde ou de qualquer
assunto", define.
Conforme Mario Persona, a solução comercial para os sites é oferecer informação
agregando-a a um produto. Ele acredita que isso resolve dois problemas, um comercial e um
cultural, "já que a Internet fez com que nos acostumássemos a ter informação de
graça". Outro problema que ele vê é o de legislação, pois argumenta que "um
site que dê tanta informação médica, que induza à automedicação, pode encontrar
problemas. Veja que hoje é possível criar softwares de diagnóstico via Internet, usando
praticamente toda informação médica disponível. Cria-se um modelo matemático para
analizar as 'n' variáveis e você consegue um certo grau de acerto. Seria seguro?
Depende. É seguro confiar em qualquer diagnóstico humano? Igualmente relativo",
raciocina.
O ponto de vista do consumidor
Segundo Marcos Martins, gerente de produtos da Patagon e usuário da rede, os bons
serviços de saúde na Internet são aqueles que não são impessoais e falam coisas do
dia-a-dia, com informações fáceis de encontrar. Esta opinião é compartilhada por
outros dois usuários da rede, também entrevistados, inclusive Ricardo Lisboa Leite, 20
anos, programador html da Euro RSCG Interaction, "Um bom site de saúde deve conter
informações úteis para o dia-a-dia". Para João Ricardo Cozac, psicólogo
esportivo e mantenedor do site CEPPE - Centro de Estudos em Psicologia do Esporte, um site
de saúde na rede precisa ser informativo e prestativo. "Deve ter dicas variadas de
saúde de forma globalizada", afirmou.
Para Ricardo Leite, "um site com informações de doenças raras só vai ter uso
acadêmico. Se o público for à classe média, que hoje acessa a WEB, dicas de saúde
(coisas do dia-a-dia) e uma seção com orientação e informação (descrição,
sintomas, causas e efeitos) sobre doenças mais específicas pode ser interessante, desde
que tenha uma chamada para esta parte do site logo na home page".
Ricardo acredita que sintetizar as matérias muito longas e colocar um "leia
mais" no final pode ser uma solução para evitar que o usuário desista da leitura.
"Afinal, se o usuário já chegou até lá, já leu o conteúdo principal. Se quer se
aprofundar, então clica. Se não... um menu estrategicamente colocado perto deste link,
aonde ele possa facilmente visualizar, ou outras opções de navegação". Ele pensa
que as pessoas estão mesmo atrás de esclarecimento e prevenção.
Já para Ricardo Lisboa Leite, em termos de design, um verdadeiro "pecado
mortal" para um portal de conteúdo é ter uma página de entrada. "Se o que o
site quer é expor seu conteúdo, deve seguir a tendência de hoje na web, que é o layout
meio jornal, com as informações sintetizadas, bem dispostas e com o destaque adequado
logo na home, poupando um click do usuário e prendendo-o logo no primeiro instante".
O ponto de vista do profissional
Como profissional de saúde, João pensa que a Web é útil ao informar e manter os
profissionais atualizados sobre as novidades em suas áreas de atuação, além de colocar
o leitor em contato com os profissionais que comandam os sites, o que, na sua opinião,
amplia o campo de conhecimento dos pesquisadores.
João Ricardo não acredita no atendimento psicológico através da Internet. "No
máximo um aconselhamento. Sou contra a terapia on-line", declara. Ele também acha
importante o uso da Internet para a troca de informações, principalmente os fóruns de
discussão e os grupos de apoio, que se reúnem para troca de experiências. No entanto,
ele não acredita nas muitas ferramentas que os sites apresentam, como as calculadoras e
os testes on-line. "Acho que isso é só para tontear o internauta e fazer com que o
mesmo seja atraído para o site. Acredito em ferramentas científicas aplicadas
pessoalmente", disse.
Para a classe médica, Ricardo Leite pensa que o interesse em colocar sites na internet é
o de conhecer melhor o perfil dos pacientes e personalizar o seu atendimento. "Assim
podem saber quais as preocupações mais freqüentes e focar mais o seu atendimento. Sobre
o atendimento on-line, ele pensa que é preciso ter critérios e muito cuidado. "O
limite seria uma pré-consulta, pois não acho que se possa ter margem de erro quando se
trata de saúde. Um diagnóstico rápido para 'segurar as pontas' do paciente e adiantar o
trabalho do médico seria bem aceito. Já um tratamento/diagnóstico completo, acho
arriscado", opina.
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