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Alimentação infantil, qual é o ponto de equilibrio?

Belo Horizonte, 11 de Março de 2002 (Bibliomed). Parece paradoxal, mas é verdade. Pesquisadores descobriram que filhos de mães que se preocupam demais com o excesso de peso dos filhos têm maior tendência à obesidade do que filhos de mães que não se preocupam tanto.

Quando as mães, preocupadas com o excesso de peso, restringem ou proíbem alguns alimentos, isto parece tornar as crianças mais propensas ao excesso de peso. Ao contrário, mães que forçam seus filhos a comer tudo o que têm no prato não parecem expor seus filhos a risco semelhante.

É importante notar que esta diferença pode ser devido à compleição física dos próprios filhos: mães de filhos geralmente mais magros costumam se preocupar com a pouca quantidade de comida ingerida, forçando-os a comer mais. Logo, forçar a comer tudo pode não ser uma boa estratégia para reduzir o peso dos mais gordinhos.

A chave do problema parece ser a interferência das mães sobre o mecanismo auto-regulador da fome-saciedade; este mecanismo é o responsável pela sensação de fome e saciedade natural do indivíduo. À medida que a criança cresce, este mecanismo é substituído pelo controle externo, normalmente exercido pelas mães ou outros membros da família. A perda deste controle interno predispõe os indivíduos ao sobrepeso, já que eles perdem a hora de parar de comer e começam a comer por outros motivos, como ansiedade, raiva, vingança, prazer e frustração. Esta parece ser a chave para o sobrepeso na infância, adolescência e idade adulta.

A restrição de alimentos potencialmente causadores de sobrepeso, como frituras, bolachas, doces e chocolates, pode na verdade estimular as crianças a procurá-los: em locais e horas fora do controle das mães, as crianças tenderão a procurar estes alimentos, que são proibidos em outras horas do dia. A proibição pode na verdade estimular o consumo clandestino destes produtos, fazendo o tiro sair pela culatra.

Então, o que fazer? É papel dos pais controlar e moldar o hábito alimentar de seus filhos, suscitando a formação de bons hábitos dietéticos para a vida toda. Se a pressão excessiva é prejudicial, qual é a saída?

Possivelmente, a saída é o meio termo saudável. Os pais devem estimular as crianças a responder mais aos seus mecanismos internos de fome e saciedade do que às suas próprias expectativas sobre o que os pais acham que deveria ser ingerido. Ainda é preciso determinar uma forma pela qual isto possa ser feito.

Um bom começo pode ser nunca utilizar alimentos como fonte de recompensa ou punição das crianças. Usar alimentos como mercadoria de troca por bom ou mau comportamento provavelmente as estimula a ver os alimentos como algo bom ou ruim, independente da sensação de fome e saciedade. Outra forma seria manter sempre disponíveis alimentos saudáveis, que devem estar presentes à mesa em todas as refeições. Evitar o uso da força ou coerção também pode ser importante, já que as crianças tendem a reagir mal a estas estratégias, principalmente à medida que crescem. Uma criança que é forçada a comer este ou aquele alimento, provavelmente irá rejeitá-lo tão logo tenha meios para tal, principalmente na adolescência, onde o controle sobre o que se come fica menos estrito, e o indivíduo passa a fazer mais refeições fora de casa.

Mudar o comportamento dos pais em relação à educação alimentar dos filhos não é tarefa fácil. A preocupação quanto à saúde dos filhos é praticamente universal, e a alimentação é uma das principais fontes de saúde. Logo, a questão é bastante complexa e demanda mais estudos para que estas estratégias estejam bem estabelecidas. Por hora, é importante lembrar aos pais que mostrar excessiva preocupação com a alimentação dos filhos pode levá-los a utilizar os alimentos como forma de punir os pais e de chamar sua atenção, como forma de alívio de frustrações advindas de uma educação muito rígida e castradora, como forma de auto-afirmação quando consomem escondido o que lhes é proibido. É importante que os pais estejam atentos a estas questões para que possam cada vez mais construir uma relação saudável com seus filhos, onde os alimentos tenham o seu devido lugar de fonte de nutrientes, e não de fonte de prazer ou punição.

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