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Crise da Aids na África Permanece Ignorada

07 de Fevereiro de 2001 (Bibliomed). A África concentra cerca de 80 por cento da taxa mundial de mortes por Aids. Mesmo assim o mundo ainda não está analisando adequadamente a escala gigantesca do problema, segundo Kevin de Cock, do Centro para Prevenção e Controle de Doenças (CDC), em Atlanta (Geórgia).

"Sem dúvida, a Aids é a maior catástrofe social da África desde o comércio de escravos e ainda estamos respondendo a esta epidemia de uma forma extraordinariamente indiferente", disse Cock durante a 8a Conferência Anual sobre Retrovirais, no domingo.

No fim do ano 2000, o Unaids (Programa da ONU para HIV/Aids) estimava que havia 36,1 milhões de pessoas vivendo com HIV/Aids em todo o mundo. Em 2000, ocorreram 5,3 milhões de novas infecções e 3 milhões de pessoas morreram de Aids, mais que por qualquer outra doença infecciosa.

"Da população mundial que vive com HIV, 70 por cento é africana e 80 por cento é composta por mulheres e crianças", segundo Cock que atualmente trabalha em Nairóbi (Quênia).

"A África abriga 72 por cento da incidência do HIV" e a região contribui com 80 por cento das mortes em todo o mundo. Agora "temos mais de 12 milhões de órfãos" no continente como resultado do HIV/Aids.

"Acho que não temos enfatizado bastante a gravidade e a diferença da situação na África", comparado com o resto do mundo industrial e em desenvolvimento, disse Cock. "Apenas na África existe uma alta prevalência e uma epidemia generalizada na população", disse o especialista.

Em outras partes do mundo em desenvolvimento, exceto talvez no Caribe, a epidemia de HIV é bastante restrita a grupos específicos e pessoas muito próximas a esses grupos, especialmente usuários de drogas injetáveis, profissionais do sexo e seus clientes, explicou Cock.

Na África, "a epidemia de Aids ocorre em um cenário de colapso da estrutura pública de saúde", apontou o especialista.

"Na inexistência de uma vacina, temos de impedir as pessoas de ficarem expostas, temos de impedi-las de se infectar. Uma vez infectadas, temos de impedi-las de ficar doentes e temos de impedi-las de morrer", avaliou Cock.

"Não podemos nos esquivar do tema da terapia anti-retroviral", disse Cock. Apesar dos problemas óbvios da infra-estrutura de saúde pública africana "é simplesmente insustentável que a concentração da infecção seja no sul pobre e as drogas estejam restritas ao norte rico". Cock também apresentou algumas estatísticas sobre HIV/Aids nos Estados Unidos que, na sua opinião, "ilustram melhor que qualquer país o problema da Aids no mundo industrializado".

Uma característica importante da epidemia norte-americana é que "a incidência da Aids tem se estabilizado desde o fim de 1998. Acreditamos que existam cerca de 40 mil novos casos anuais de infecção, que tem ficado estável durante a maior parte da última década desde 1992".

Os Estados Unidos também são caracterizados por um grande aumento no número de casos entre minorias, além do ressurgimento de comportamentos não seguros entre homens que fazem sexo com homens.

"Realmente precisamos investir na vigilância para entender o que está acontecendo", disse Cock. "Em termos de prevenção, há uma necessidade maior de enfocar os infectados para propósitos de prevenção e para sua própria saúde".

"Acho que uma quantidade substancial da infecção é transmitida por pessoas que não estão conscientes sobre sua situação. Mais de 40 por cento dos novos casos de Aids nos Estados Unidos são de pessoas que apresentam doenças evitáveis e que não estão conscientes sobre sua situação sorológica", disse Cock.

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