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Alcoólatras podem se auto-medicar com doces

NEW YORK, (Reuters Health) – O hábito de beber entre os alcoólatras pode ser uma forma de aumentar os níveis corporais de uma substância química cerebral chamada serotonina, de acordo com resultados de um estudo recente, e baixos níveis desta substância pode também levá-los a desejar doces compulsivamente.

Em artigo publicado na revista Alcoholism: Clinical and Experimental Research, pesquisadores liderados pela Dra. Mona Moorhouse do Hospital Royal Ottawa em Ontário, Canadá, explicam que “o desejo por carboidrados pode ser uma pista importante no desenvolvimento de tratamentos mais diversificados para indivíduos dependentes de álcool”.A equipe relata que a dieta tem um efeito significativamente diferente em alcoólatras que têm alto desejo por doces comparados àqueles que relatam baixos níveis de ansiedade por doces.

O álcool e os carboidratos têm sido demonstrados como capazes de aumentar os níveis de serotonina no corpo, explicam os pesquisadores. Baixos níveis desta substância podem levar à depressão, ansiedade, agressividade e problemas de sono.

O estudo envolveu 21 alcoólatras que ficaram em abstinência por 2 semanas e 12 não alcoólatras como grupo de comparação (grupo controle). Os participantes completaram questionários a respeito de desejo por álcool e alimentos, humor, depressão e personalidade. Além dos questionários, os pesquisadores mediram indicadores sangüíneos de serotonina.

Dez dos participantes alcoólatras relataram aumento significativo no seu desejo por carboidratos quando estavam em abstinência do álcool, e 11 relataram aumento nos desejos por alimentos ricos em proteínas. Estes dois grupos foram então comparados após ingestão de dietas especiais. Os indivíduos alcoólatras, que estavam em um estabelecimento residencial de tratamento, receberam 2 dias de uma dieta rica em carboidratos e pobre em proteínas e 2 dias de uma dieta rica em proteínas e pobre em carboidratos. Os participantes “controles” foram instruídos a seguir sozinhos as mesmas dietas.

Após a dieta rica em carboidratos, os alcoólatras que relatavam desejos por carboidratos mostraram aumentos significativamente maiores nos sintomas de depressão do que os outros dois grupos, observam os pesquisadores. Os escores de depressão após a dieta rica em proteínas não foram alterados em nenhum dos grupos.

Os autores apontam que os doces parecem apresentar um efeito paradoxal em pacientes com altos níveis de desejo por doces: eles parecem fornecer uma breve melhora no humor seguida por um longo período de piora no humor. Resultados similares foram relatados em pacientes com depressão e bulimia.

Além disto, alcoólatras que têm fortes desejos por doces relataram ter desejos compulsivos significativamente maiores por álcool durante ambos os tipos de dieta do que os outros dois grupos. Este grupo também mostrou mais sintomas de distúrbios de personalidade do que os alcoólatras que não tinham desejos compulsivos.

Antes da fase da dieta do estudo, os pacientes alcoólatras mostraram níveis mais baixos de atividade de serotonina no sangue. A dieta rica em proteína, contudo, afetou de forma diferente os dois grupos de alcoólatras. A dieta aumentou a atividade da serotonina em pacientes que tinham desejos compulsivos por doces, enquanto diminuiu a atividade de serotonina nos pacientes que não tinham desejos e nos controles.

Morrhouse e colaboradores sugerem que os alcoólatras com fortes desejos compulsivos por carboidratos podem formar um subgrupo distinto de pacientes com esta doença. Este tipo de alcoólatra pode beber para aumentar os níveis de serotonina, e pode aumentar sua ingestão de carboidratos se não estiverem bebendo, para atingir o mesmo efeito, sugerem os pesquisadores.

“A resposta anormal da serotonina à dieta é específica para indivíduos que desejam doces compulsivamente”, observam os autores. “Esta resposta pode reforçar a ingestão de álcool ou de alimentos e perpetuar o abuso de substâncias”, acrescentam eles.

“Indivíduos dependentes de álcool com forte desejo compulsivo por carboidratos estão potencialmente sob risco mais alto de recaídas do que indivíduos dependentes de álcool com baixo desejo por carboidratos”, continuam Moorhouse e colaboradores, observando que os efeitos da dieta e álcool sobre os níveis de serotonina necessita de estudos adicionais.

FONTE: Alcoholism: Clinical and Experimental Research 2000;24:635-643.

Sinopse preparada por Reuters Health

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