Artigos de saúde
A globalização econômica é uma realidade e as suas condições determinaram
profundas mudanças na vida das populações e principalmente sobre o mundo do trabalho,
níveis de emprego e saúde das populações e dos trabalhadores em particular.
As profundas mudanças observadas na organização dos processos de trabalho, visando o
aumento da produtividade e redução dos custos - e a relação trabalho-saúde dos
trabalhadores vem ganhando uma nova dimensão, o que geralmente não vêm acompanhadas de
melhorias das condições de trabalho. No que se refere à saúde dos trabalhadores, é
importante considerar, especificamente nos países do "terceiro mundo", a
persistência de antigas formas de produção, e processos artesanais ou mecanizados
convivendo com anacrônicas relações de trabalho.
A coexistência de um padrão duplo de produção se reflete no chamado perfil de
morbi-mortalidade. Antigas doenças profissionais como intoxicação por chumbo,
mercúrio, silicose e outras doenças pulmonares, altos índices de acidentes do trabalho
- convivem com uma alta incidência de Lesões por Esforços Repetitivos (LER), câncer e
sofrimento mental, entre outras.
Neste quadro deve ser salientado, hoje no Brasil, o papel desempenhado pelos cipeiros
(trabalhadores eleitos para de forma paritária -Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes, responsável pela prevenção no local de trabalho). A CIPA é uma
representação legalmente obrigatória, alvo da atuação da CUT, que tem buscado
melhorar a legislação (norma regulamentadora) de forma a equipará-la às normas
européias, possibilitando a ação dos trabalhadores a partir dos locais de trabalho. A
intervenção tem por objetivo democratizar os locais de trabalho, por meio do exercício
do direito universalizado à atenção, promoção e defesa daqueles que trabalham,
independentemente da sua forma de inserção no processo produtivo: direito à formação,
informação e ao conhecimento adequado a cada usuário e à participação efetiva nos
processos, tendo os princípios da solidariedade e da ética norteando as decisões e as
ações.
O Brasil disputa atualmente a dianteira dos países com alta incidência em acidentes no
trabalho. Segundo dados do anuário estatístico do INSS, foram registrados 368 mil
acidentes de trabalho em 1997, sendo 306 mil acidentes típicos, 32 mil de trajeto, 29 mil
doenças profissionais e mais de 2.500 óbitos. Os problemas de saúde no trabalho, em sua
grande maioria, devem-se ao descuido dos trabalhadores quanto às normas de segurança.
A importância das inter-relações entre trabalho e saúde, assim como seu impacto sobre
a qualidade de vida da população, tem sido cada vez mais explicitado, particularmente no
contexto da globalização e da reestruturação produtiva.
Existem várias instituições públicas federais, estaduais e municipais cujo papel é
zelar pela proteção e promoção da saúde no ambiente de trabalho e da qualidade do
meio ambiente. Vários desses órgãos apresentam dificuldades estruturais, como falta de
condições materiais e de pessoal. Acionar estas instituições, quando do surgimento de
problemas relacionado a condições de trabalho e meio ambiente, constitui um direito de
cidadania e fiscalizar sua competência é mais do que um direito, uma obrigação da
sociedade civil organizada.
Papel dos trabalhadores
A possibilidade dos trabalhadores assumirem papel ativo na defesa de sua própria saúde
não dispensa o resgate do saber sindical e técnico/científico acumulado, nem o relato
de sua memória e experiências de atuação em saúde no trabalho.
Entre outros aspectos, o patronato descaracteriza vínculos da doença ou acidente com o
trabalho realizado, manipula exames e dados, não informa os riscos a que os trabalhadores
estão expostos, corta gastos com segurança e manutenção, impõe produtividade a todo
custo e impede ao máximo a organização sindical no local de trabalho.
A Central Única dos Trabalhadores, desde a sua fundação, em 1983, luta por melhores
condições de vida, saúde e trabalho no Brasil, alicerçada fundamentalmente nas
organizações por local de trabalho.
Resultado de mais de dez anos de acúmulo na área sindical em defesa da saúde no
trabalho, o INST - órgão de assessoria técnica da CUT, tem se preocupado em fortalecer
nos trabalhadores uma concepção preventiva com ênfase na proteção coletiva da saúde,
subsidiando as entidades sindicais com instrumentos que permitam a intervenção na
melhoria das condições de trabalho.
São alguns dos princípios que têm norteado as ações da Central Única dos
Trabalhadores para buscar a autonomia do trabalhador na formulação do conhecimento sobre
o processo de trabalho no qual ele está envolvido, para construção de suportes
essenciais à modificação das condições insalubres; fortalecendo a noção de que
saúde não se vende e nem se delega, construindo uma política dirigida à prevenção.
Entre estas ações estão os incentivos ao desenvolvimento de projetos bilaterais de
cooperação entre países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, visando aproximar o
primeiro e o terceiro mundo através de normas que possibilitem melhorias nas condições
de trabalho nos países cooperantes. Regionalmente, como no caso do Mercosul, criar normas
comuns de forma a igualar os mesmos procedimentos já adotados na União Européia. Assim
é incentivar, através do intercâmbio, o investimento na preparação de recursos
humanos para construir e desenvolver estratégias conjuntas de ações sindicais,
instrumentos de intervenção e negociação para a melhoria das condições de trabalho,
saúde e defesa do emprego, reforçando a democracia nos locais de trabalho e a formação
de agentes de intervenção, como os cipistas, membros de comissão de fábrica e
delegados sindicais.
Aids
O vírus HIV, surgido em 1980 nos países ricos, atingindo segmentos específicos, desenha
hoje um novo mapa, consolidando seu perfil epidemiológico na população economicamente
ativa, de baixa renda. O Brasil encontra-se entre os quatro primeiros países do mundo em
casos notificados.
Uma pesquisa do Datafolha revela que 81% das empresas não têm programas de prevenção e
assistência aos funcionários doentes, e desse total 94% nem pretende tê-la. De acordo
com esse contexto, em busca de uma melhoria na qualidade de vida da classe trabalhadora, a
CUT criou 1992, a Comissão Nacional de Prevenção à AIDS - CNPA - com o objetivo de
contribuir na reversão desse quadro. Formada em torno do Instituto Nacional de Saúde no
Trabalho, órgão de assessoria técnica da CUT, a comissão é formada por um núcleo de
entidades da sociedade civil e sindicatos preocupados em firmar a atuação sindical na
prevenção, na defesa dos direitos do portador do HIV e na educação dos trabalhadores.
No caso da Aids, os sindicatos buscam a divulgação de informações que levem à
prevenção e defesa dos direitos dos portadores do HIV em suas negociações coletivas.
Os sindicatos lutam hoje para que os planos de saúde nas empresas garantam assistência
médica dos trabalhadores nos casos de epidemias e doenças infecto-contagiosas, como a
Aids.
Trabalho e Saúde
As relações entre o trabalho e a saúde dos trabalhadores vêm ganhando, nos últimos
anos, uma dimensão nova dentro do processo de globalização. As profundas mudanças
observadas nos processos de trabalho, particularmente, na sua organização e no marco da
globalização, ainda não tem sido bem avaliadas na sua totalidade. Em alguns setores
produtivos, já são mais conhecidos ou têm sido mais estudados, como da informática, no
trabalho com vídeo terminais, processos automatizados e robótica.
As mudanças nos processos produtivos são orientadas pela busca do aumento da
produtividade e redução dos custos, geralmente, acompanhados da redução do número de
postos de trabalho e nos critérios de remuneração dos trabalhadores, e não são
necessariamente seguidas pela melhoria das condições de trabalho. Freqüentemente, o
aumento da produtividade é conseguido por uma combinação do aumento do ritmo do
trabalho, diminuição das pausas de descanso e do aumento da carga de responsabilidade dos
trabalhadores. No que se refere aos impactos sobre a saúde e segurança dos
trabalhadores, elas têm sido traduzidas em verdadeiras epidemias, observadas
universalmente, das doenças ocupacionais por movimentos repetitivos, incluídas no grupo
da LER (Lesões por Esforços Repetitivos).
Outras doenças pouco específicas e mal conhecidas têm aparecido, sob a forma discreta ou
graves de manifestações de stress ou de sofrimento mental, decorrentes das novas
exigências impostas aos trabalhadores e solicitação de mais atenção, disponibilidade
e responsabilidade por toda uma linha de produção.
Enquanto os processos mais antigos possuíam seus fatores de stress na forma da monotonia,
tarefas repetitivas, eliminando a capacidade de inovação e criação dos trabalhadores,
os novos sistemas de produção trazem outros incentivos, porém introduzem outros fatores
de stress, como a insegurança e a competição. Dessa maneira, tornam-se necessários
estudos mais abrangentes para entender esses processos e suas conseqüências para a
saúde-doença dos trabalhadores.
Hoje, entre os problemas de saúde-doença dos trabalhadores, estão relacionados às
condições de trabalho e meio ambiente, merece destaque devido a persistência de altos
índices de doenças relacionadas ao trabalho e de acidentes, socialmente distribuídos de
modo desigual.
Outra questão importante é o da qualidade das condições de trabalho e meio ambiente no
setor informal, que traz ainda uma dificuldade adicional para qualquer tipo de
intervenção, seja das condições de trabalho, seja sobre os trabalhadores descobertos
de qualquer registro ou garantias trabalhistas e previdenciárias, uma vez que os
serviços públicos de saúde se encontram despreparados e/ou inacessíveis.
O poder de negociação dos trabalhadores das pequenas empresas e do setor informal é
geralmente muito mais fraco do que nas grandes corporações, não apenas pela dificuldade
de mobilização e pela vulnerabilidade, agravada pela situação de clandestinidade. Hoje
no Brasil, através das ações de vários sindicatos de classe e da própria CUT, o papel
do trabalhador na promoção da saúde tem crescido significativamente.
Atualmente já são adotadas e reforçadas, as ampliações da circulação de
informações e ampliação de debate sobre o tema, com envolvimento social crescente,
além de uma participação da mídia, situações que paulatinamente estão contribuindo
para o surgimento de melhorias, ao lado de um processo irreversível de globalização que
está trazendo mudanças radicais no mundo do trabalho, com impactos positivos e negativos
sobre a saúde-doença dos trabalhadores.
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