Artigos de saúde

Uso, abuso e dependência do álcool

© Equipe Editorial Bibliomed

Neste artigo:

- Introdução
- Uso, abuso e dependência
- Estratificação dos riscos
- Efeitos da ingestão excessiva de álcool
- Recomendações
- O consumo de álcool associado a energéticos

Introdução

A ingestão de bebida alcoólica é uma prática comum em todo o mundo, mas deve-se tomar alguns cuidados para evitar os problemas relacionados com o álcool. O uso de álcool é um fator de risco principal para a carga global de doenças e os dados sobre a exposição ao álcool são cruciais para avaliar o progresso no alcance das metas globais de doenças não transmissíveis. É importante diferenciar os termos uso, abuso e dependência e identificar os padrões de uso que trazem riscos à saúde física e mental.

A Organização mundial da Saúde (OMS), através da Estrutura Global de Monitoramento para Doenças Não Transmissíveis inclui uma meta global ambiciosa de uma redução de 10% no uso nocivo de álcool até 2025. Contudo, um estudo realizado pela Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, e publicado em 2019, mostra que o consumo geral de álcool está diminuindo ou estagnado nos países ricos, mas tende a aumentar em países cujo padrão de vida cresce.

Uso, abuso e dependência

Quando se fala dos problemas relacionados com o álcool é importante distinguir os termos uso, abuso e dependência. A palavra uso se refere a qualquer ingestão de álcool. A Organização Mundial de Saúde (OMS) usa o termo baixo risco de uso de álcool para se referir à ingestão de álcool dentro dos parâmetros médicos e legais que geralmente não resulta em problemas relacionados ao álcool.

O abuso de álcool é um termo geral para qualquer nível de risco, desde a ingestão aumentada até a dependência do álcool. O abuso de álcool pode produzir danos físicos ou mentais à saúde sem a presença de dependência.

Já a dependência do álcool é uma síndrome que consiste em sintomas cognitivos, comportamentais e psicológicos. O diagnóstico da dependência do álcool dever ser feito apenas se três ou mais das seguintes situações foram experimentadas ou exibidas durante um período de 12 meses:

- Um forte desejo ou senso de compulsão para beber;

- Dificuldades em controlar a ingestão de álcool, em relação ao seu início, término, ou nível de uso;

- Alteração psicológica quando o uso de álcool é cessado ou reduzido, ou o uso de álcool para aliviar ou evitar sintomas de alterações psicológicas;

- Evidência de tolerância, como doses cada vez maiores para atingir os mesmos efeitos causados pelas doses menores anteriores;

- Perda progressiva de interesse por atividades antes realizadas ou por outras fontes de prazer devido ao uso do álcool;

- Uso contínuo mesmo com claras evidências das consequências danosas.

A dependência do álcool afeta uma pequena, mas significativa, proporção da população adulta em muitos países (cerca de 3 %-5%), mas o abuso e uso arriscado do álcool geralmente afeta uma grande proporção da população (15%-40%).

Estratificação do risco

Assim como a identificação da condição de uso prejudicial ou dependência, é igualmente importante a compreensão do padrão de uso do álcool que produz riscos. Algumas pessoas podem ingerir a quantidade de álcool recomendada, mas em ocasiões particulares bebem em excesso. Tal ingestão pode alcançar o ponto de intoxicação de forma aguda e levar ao risco de lesões, violência e perda do controle afetando outros e a si mesmo. Outras pessoas podem beber excessivamente de forma regular e, tendo estabelecido uma tolerância aumentada para o álcool, podem não apresentar um grande aumento nos níveis de álcool no sangue, mas o consumo excessivo crônico apresenta riscos a longo prazo, como lesões no fígado, certos cânceres e desordens psicológicas.

Foi elaborado um teste pela Organização Mundial de Saúde contendo dez questões para estratificar o risco do consumo de álcool, o AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test). Este teste identifica quatro zonas de risco. A zona I, se aplica a maioria das pessoas e indica um consumo de álcool de baixo risco ou pessoas que não ingerem álcool. A zona de risco II ocorre em uma proporção significativa. Consiste no uso de álcool em excesso, que corresponde a mais de 20g de álcool puro por dia, o que equivale aproximadamente a uma garrafa de cerveja ou duas taças de vinho. As pessoas que excedem esses níveis aumentam as chances de problemas de saúde relacionados ao álcool como acidentes, lesões, aumento da pressão arterial, doença do fígado, câncer, e doença do coração, assim como violência, problemas legais e sociais, baixo rendimento no trabalho devido a episódios de intoxicação aguda. A zona de risco III geralmente indica o uso prejudicial, mas pode também incluir pessoas já em dependência, essas pessoas já experimentaram os problemas relacionados com o excesso de álcool relatados acima. A zona IV é o nível mais alto de risco, e se refere a pessoas dependentes do álcool e que necessitam de atenção especial em centros especializados para a sua recuperação.

Efeitos da ingestão excessiva do álcool

O abuso do álcool pode trazer inúmeros efeitos em todo o corpo, incluindo alteração do comportamento e várias doenças graves como:

- Agressividade, irritação, violência, depressão e nervosismo;

- Dependência do álcool;

- Perda de memória;

- Envelhecimento precoce;

- Câncer de boca e garganta;

- Resfriados frequentes, risco aumentado de pneumonia e outras infecções;

- Fraqueza do músculo cardíaco, insuficiência cardíaca, anemia;

- Câncer de mama;

- Doença do fígado, deficiência de vitamina, sangramentos intestinais, inflamação do estômago e pâncreas, úlceras, vômitos, diarreia e desnutrição;

- Tremor nas mãos, nervos dolorosos;

- Impotência sexual nos homens;

- Risco de malformação e bebês de baixo peso em mulheres grávidas.

Recomendações

É recomendado não ingerir mais de dois drinks por dia, e até menos se há uma tendência de sentir os efeitos do álcool com um ou dois drinks. Um drink padrão equivale a aproximadamente uma latinha de cerveja (330ml a 5%), uma dose de whisk, gin ou vodka (40ml a 40%), uma taça de vinho (140ml a 12%) ou uma pequena taça de licor ou aperitivo (70ml a 25%). E para minimizar o risco de desenvolver dependência, deve-se sempre evitar ingerir bebida alcoólica pelo menos dois dias na semana, mesmo que em pequenas quantidades. Deve-se sempre evitar a intoxicação aguda, que pode resultar de apenas dois ou três drinks em uma única ocasião.

É importante lembrar que existem situações que mesmo um ou dois drinks já podem ser muito, como por exemplo quando se vai dirigir ou operar uma máquina e durante a gravidez ou aleitamento.

É recomendada a abstinência total para pessoas com as seguintes condições:

- História de dependência de álcool ou drogas no passado;

- Pessoas com doença mental séria atual ou passada;

- Mulheres grávidas;

- Pessoas em uso de medicamentos que requerem abstinência;

- Falhas na tentativa de reduzir o consumo de álcool;

- Doença do fígado ou pressão alta;

- Presença de tremores pela manhã durante os períodos de ingestão excessiva.

Existem situações que podem levar a pessoa a ingerir grandes quantidades de álcool, como situações em que outras pessoas estão bebendo e esperam que ela também beba (festas, saídas após o trabalho, etc); sentir-se entediado ou deprimido, especialmente nos finais de semana; após uma briga de família; sentir-se sozinho em casa. É importante identificar as situações que o levam a ingerir grande quantidade de álcool e tomar algumas medidas para evitá-las, como encontrar outras atividades (por exemplo exercícios físicos), limitar o número das saídas após o trabalho para beber com os amigos, e procurar sempre ingerir a quantidade recomendada.

O consumo de álcool associado a energéticos

Por fim, uma constante discussão acerca do consumo de álcool está na sua associação com bebidas energéticas.

O uso de bebidas energéticas, que contêm cafeína e outros estimulantes, tem ganhado grande popularidade nos últimos anos. O principal objetivo com essa combinação tem sido aumentar o efeito estimulante do álcool, como alegria, euforia, extroversão e vigor. Um grande número de estudos estimulou a teoria de que as bebidas energéticas poderiam retardar o efeito depressor do álcool. Mas de acordo com uma pesquisa recente da Universidade Federal de São Paulo, essas bebidas não possuem quantidade suficiente de cafeína para causar tal efeito. A combinação das bebidas energéticas com vodka, whisk, ou outras bebidas alcoólicas podem apenas dar a sensação de menor efeito do álcool, mas parece não alterar seu efeito final.

Deve-se evitar o uso de bebidas alcoólicas associadas a energéticos até que se tenham mais evidências científicas.

Copyright ©  Bibliomed, Inc.      12 de agosto de 2020.