Artigos de saúde
Neste Artigo:
- Introdução
- O Estudo
- Resultados
- Comentários e Conclusão
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As viagens internacionais e as migrações estão aumentando a propagação de
doenças infecciosas, como a cólera, a dengue e a AIDS. A tuberculose (TBC), por se
tratar de uma doença endêmica em muitas partes do mundo, é uma doença com grandes
chances de espalhar-se para os países onde ela já foi praticamente erradicada. Os
viajantes que vão para as áreas com alta endemicidade podem ser os possíveis
carreadores da TBC e pouca atenção está sendo dada a esse grupo.
Introdução
Em muitos países, a vacina antituberculose não é dada rotineiramente e alguns
pesquisadores acreditam que, para se evitar a expansão da doença, devia ser aplicado o
PPD (teste que avalia a presença de TBC) em todos as pessoas oriundas de áreas
endêmicas, evitando assim que a doença se espalhe. Mas a relação risco-benefício
precisa ser avaliada e para isso é necessária uma melhor avaliação das chances de
infecção entre esses viajantes.
O risco de contaminação neste grupo é difícil de ser calculado, devido ao amplo
período de incubação (tempo entre o contágio e a manifestação da doença), ao alto
índice de portadores assintomáticos e à baixa especificidade do teste turbeculínico
(PPD). Dentro desse contexto, um grupo de pesquisadores holandeses (do Division of
Infectious Diseases, Tropical Medicine and AIDS, Academic Medical Center, Amsterdam, do
Department of Tuberculosis Control, Municipal Health Service, Amsterdan e do Department of
Tuberculosis Control, Municipal Health Service, Rotterdam), liderados pelo Dr. Frank G. J.
Cobelens conduziram um estudo no qual foi avaliado o risco de infecção entre holandeses
que viajaram para regiões com alta endemicidade. Este estudo foi publicado na revista
Lancet de agosto de 2000.
O Estudo
Todos os participantes do estudo nasceram na Holanda, depois de 1944, e tinham no
mínimo 15 anos de idade. Nenhum deles recebeu a vacina BCG e viajariam por um período de
3 a 12 meses, para países altamente endêmicos (aqueles com taxa de incidência maior ou
igual a 1% ao ano). Os seguintes pacientes foram excluídos: aqueles com história
pregressa de TBC ou com PPD positivo, com alguma imunodeficiência, diabetes melito,
infecção por HIV, em uso recente de corticóides, com história de rádio ou
quimioterapia, gestantes, com febre sem esclarecimento ou que receberam vacinas com vírus
atenuados recentemente.
O estudo foi realizado entre novembro de 1994 e outubro de 1996. Todos os pacientes
realizaram o PPD antes da viagem, mas somente os pacientes com reação menor que 1 mm
foram selecionados para fazer outro teste PPD após a viagem (o PPD é realizado através
da injeção de antígenos na pele, sendo que o tamanho da ferida é avaliado para se
confirmar o diagnóstico). O segundo PPD foi realizado entre 2 a 4 meses após o retorno,
e foram considerados positivos aqueles maiores de 10 mm. A infecção foi considerada
latente, quando não havia nenhum sinal ou sintomas da doença (tosse, febre ou dor
torácica) e considerada ativa na presença destes sintomas, com exame de escarro positivo
(cultura ou BAAR) ou constatação de lesão típica pelo RX.
Resultados
Foram escolhidos 1.072 pacientes, para realizarem o PPD antes da viagem. Destes, 988
foram selecionados para fazerem o segundo teste tuberculínico, mas apenas 656 foram
contatados para fazerem o segundo PPD. O principal motivo das desistências foi falta de
tempo ou viagem para outro lugar.
A média de idade dos pacientes foi de 27,2 anos e a média de duração da viagem foi de
23 semanas. Cerca de 60% já haviam viajado para regiões endêmicas anteriormente, 43%
viajaram para tirar férias, 16% viajaram a serviço, cerca de 40% para estudos e 2%
viajaram para visitar amigos ou familiares. Durante a viagem, 626 pessoas usaram
transporte público e 100 pacientes eram trabalhadores da área de saúde, sendo que 81
tiveram contato direto com pacientes com TBC. Os países mais visitados foram a África e
o sudeste da Ásia.
A infecção pelo micobacterium tuberculosis foi encontrada em 12 dos 656 indivíduos.
Destes 12 casos, 10 tinham radiografia de tórax normal e nenhum sintoma da doença. Dos
dois pacientes restantes, um tinha 19 anos de idade e viajara para o sudeste da Ásia
(Indonésia), apresentava tosse, febre e dor torácica, teve seu diagnóstico confirmado
com o exame do escarro. O outro caso, foi de uma mulher de 31 anos de idade, apresentando
tosse e uma imagem típica no RX de tórax, porém apresentava exames de escarro
negativos. Em ambos, os sintomas e os exames se normalizaram após 6 meses de terapia com
anti-turberculinicos.
A taxa de infecção foi maior entre os profissionais de saúde, sendo que o único fator
de risco para a infecção foi o contato direto com pacientes contaminados. Não houve
diferenças significativas de infecção em relação à idade, duração da viagem, ao
relato de viagem pregressa a regiões endêmicas, ao fato da viagem ter sido a trabalho ou
a estudos ou com outro propósito e ao uso ou não de transportes públicos.
Comentários e Conclusão
As pessoas que viajam para áreas endêmicas para TBC têm um grande risco de
infecção por M. tuberculosis, o que resulta em grandes chances de desenvolver a doença
e de introduzir a tuberculose dentro de seus países de origem. A prevenção poderia ser
conseguida através do uso da vacina BCG ou através da prevenção secundária, com o PPD
e o uso da isoniazida, para a profilaxia dos casos de doença latente, mas ambos os modos
de prevenção apresentam desvantagens. Como exemplo, a vacina BCG não protege
completamente contra a infecção e diminui a especificidade do PPD, o que dificulta a
seleção posterior dos pacientes realmente infectados. E a isoniazida como profilaxia
pode tornar-se ineficiente, devido ao alto índice de cepas resistentes em alguns países,
principalmente entre aqueles com alta endemicidade. Em relação aos viajantes, a
existência de infecções por bactérias resistentes pode ser bastante significativa,
principalmente entre os profissionais da área de saúde. Os pesquisadores acreditam que a
escolha do melhor método de prevenção depende, dentre outros fatores, da existência ou
não de vacinação de rotina ou do uso do PPD nos países de origem e dos países a serem
visitados, mas eles avaliam que especial atenção deva ser dada aos profissionais de
saúde que tiverem contato direto com doentes infectados.
Fonte: Lancet 2000; 356:461-65.
Copyright © 2000 eHealth Latin America 31
de Agosto de 2000
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