Artigos de saúde

Sistemas de Saúde: Uma Análise das Experiências

A melhora do atendimento ambulatorial

Serviços melhor organizados para pacientes que não estejam internados (ambulatoriais) poderiam trazer os maiores ganhos imediatos de saúde para os pobres na maioria dos países em desenvolvimento do mundo, segundo um artigo publicado em junho de 2000 no The Bulletin of World Health Organization (Boletim da Organização Mundial de Saúde), o qual é dedicado aos sistemas de saúde.

Em países de baixa renda, a maioria das pessoas se dirige a estes serviços ambulatoriais para a prevenção ou tratamento da maioria das doenças comuns, incluindo diarréia infantil, infecções respiratórias comuns, tuberculose, doenças sexualmente transmissíveis e malária aguda. Estas estão entre as dez maiores condições responsáveis pela carga global de doença nos países em desenvolvimento: os serviços de atendimento à pacientes não hospitalizados, ou ambulatoriais, lidam com 80% da carga de doença causada por estas condições. Estes também contabilizam a maior porção do total de gastos com a saúde na maioria dos países em desenvolvimento. No entanto, o médico é freqüentemente dispendioso, está freqüentemente do padrão técnico desejável, e impõe uma carga financeira pesada em lares pobres. O autor do artigo, Professor Peter Berman da Harvard School of Public Health, onde é professor associado da economia de saúde internacional e diretor do International Health Systems Group, diz que uma razão é que os governantes vêem prestando muito pouca atenção à organização destes serviços de saúde ambulatorial. Mas, melhorá-los através de um melhor financiamento, regulamentação e informação é provavelmente o melhor caminho para se melhorar a atuação dos sistemas de saúde na maioria das nações em desenvolvimento.

"Para fazer isto sensatamente, uma informação bem melhor nas organizações de primeiros cuidados será necessária tanto quanto mais experiência com as diversas maneiras para melhorar a atuação. Esta pauta tem tornado-se ainda mais urgente com o crescimento da atenção global para os problemas clínicos complexos tais como saúde reprodutiva, gerenciamento integrado das doenças infantis e tratamento do HIV/AIDS," diz o Professor Berman.

"Durante as últimas duas décadas, os países OECD têm introduzido inovações excitantes em governo, incentivos, organização e informação para melhorar o gerenciamento público dos cuidados com a saúde. Poucas destas inovações têm migrado para países de baixa renda", diz o professor.

Qual a qualidade de seu sistema de saúde?

Muitos países, ricos e pobres, estão empenhando-se em avaliar quão bem seus sistemas de saúde estão atuando, e como fazê-los atuarem melhor. Mas sistemas de saúde são complexos e têm um grande grau de desafio para uma avaliação precisa.

Uma estrutura conceitual para avaliar a efetividade dos componentes essenciais de um sistema de saúde, associados a sugestões para fazer com que a tarefa de medir sua atuação seja menos difícil, foram apresentadas recentemente no International Journal of Public Health, publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Os autores, Christopher Murray e Julio Frenk, ambos da OMS, acreditam que a estrutura de saúde deva começar pela demarcação das fronteiras do sistema que são baseadas em sua atividade definida, por exemplo, ações de saúde, pretendidas inicialmente para melhorar ou manter a saúde. Isto, então, identifica as metas principais do sistema: melhor saúde, responsabilidade sobre as expectativas da população, e financiamento de mercado. Ligando o conjunto de trabalhos do sistema estão quatro funções-chave: "relações de administração", financiamento, provisão de serviços e geração de recursos. A estrutura está ainda em desenvolvimento, mas seu potencial como uma ferramenta de policiamento já está ilustrada em uma análise comparativa da atuação dos sistemas de saúde de todos os 191 países membros da OMS (Organização Mundial de Saúde)

Os infortúnios da prosperidade

A vida nem sempre é um mar-de-rosas para os saudáveis e prósperos. Uma população que está envelhecendo e que faz, desproporcionalmente, demandas pesadas no sistema de saúde, é uma característica dos países ricos. Além disso, a riqueza geralmente ocorre par-a-par com um estilo de vida não saudável; com uma medicina de alta tecnologia que pode fazer "milagres" mas que é dispendiosa e que aumenta as expectativas da população, o que nem sempre o governo pode preencher. Nos Estados Unidos observa-se o máximo de gastos com saúde, mas não necessariamente com o melhor sistema de saúde ativo, para não mencionar o desemprego e os grupos pobres da população, sem acesso ao sistema. Alguns observadores prevêem que com uma nova onda esperada de medicina de alta tecnologia vinda através do horizonte, muitos governos de países ricos não estarão aptos para gastarem seus fundos públicos com sistemas de cuidado com a saúde por muito tempo. No entanto, não há sinal de que algum dos países com seguro universal de saúde esteja abandonando o seu prêmio - tudo aponta para uma necessidade de maior eficiência.

Caos gerenciado

Nos Estados Unidos, nove entre dez empregados estão inscritos em um plano de gerenciamento da saúde - um sistema através do qual um assegurado contrata médicos, hospitais, etc, para transmitir aos inscritos no plano um determinado conjunto de serviços à saúde por um preço estabelecido. Introduzido nas décadas de 80 e 90 para diminuir os custos da saúde e para impor alguma ordem dentro da cena fragmentada da saúde, o cuidado gerenciado (managed care) tem provocado nos últimos anos a crítica de que este sistema tem produzido não apenas uma queda nos custos, mas mais propriamente, na qualidade do serviço. Algumas análises isentas, publicadas pela própria OMS, revelam que o cuidado gerenciado tem diminuído o crescimento dos gastos com a saúde sem diminuir a qualidade. Mas nos Estados Unidos o sistema se encontra no momento sob ataque cerrado tanto por parte de pacientes como de prestadores de serviço (Médicos, Hospitais, Laboratórios, etc). De qualquer modo, o managed care tem o mérito de ter criado ferramentas capazes de serem utilizadas em outros países, inclusive em planos de saúde pública. Neste outros países, particularmente aqueles com uma possível incontrolável mistura de serviço de saúde pública e privada, devem ver na experiência dos Estados Unidos elementos que eles poderiam aplicar em suas próprias tentativas de reforma da saúde.

Fonte: Bulletin of the World Health Organization, 2000, 78 (6)

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