Artigos de saúde
Inúmeras pessoas são alheias em relação à existência de um documento
que lhes permite, de forma legal (estabelecido pela lei), aceitar ou recusar um
tipo de tratamento terapêutico que possa prolongar a sua vida, em caso de
doença grave ou estado terminal. Apesar disso, estas pessoas se mostram
bastante interessadas ao ouvir sobre esse assunto.
Em 1969, o advogado Louis Kutner, pela primeira vez, abordou o assunto
relacionado à tomada de decisão de uma pessoa, de manter a vida através de
intervenções terapêuticas, amparada pela lei.
Este advogado explicitou um anseio de que o desenvolvimento de tecnologia estava
conduzindo os médicos a manterem a vida de uma pessoa sustentada por
equipamentos, havendo o indivíduo consentido ou não com o procedimento; motivo
pelo qual foi instituído neste mesmo período,um tipo de documento, mais
especificamente um termo firmado por uma pessoa, em que a sua vontade seria
expressa e registrada, aceitando ou rejeitando um determinado tratamento. Este
tratamento consiste em terapias que poderiam prolongar a vida de um paciente,
como o uso de respiração artificial, medicamentos como antibióticos,
ressuscitação cardíaca, equipamentos de última geração, elaborados com
tecnologia de ponta, para o auxílio à saúde de um indivíduo.
Um estudo publicado pela revista British Medical Journal (BMJ), em junho de
2000, realizado por pesquisadores do Centro de Cuidados à Saúde dos Idosos
(Care of the Elderly),da Faculdade de Medicina (Imperial College School of
Medicine), Hospital Hammersmith, Londres, Inglaterra, concluiu que a maioria dos
idosos não deseja prolongar a sua vida por meio de intervenções médicas que
tenham ação de suporte à vida, como respiradores artificiais, antibióticos,
infusões venosas de fluidos ou ressuscitação cardiopulmonar.
Estudos anteriores, realizados por pesquisadores nos Estados Unidos, revelaram
que os indivíduos idosos possuem receios semelhantes aos encontrados neste
estudo realizado em Londres, quanto à decisão em relação ao recebimento ou
não, de suporte de vida quando em estágio terminal de alguma patologia.
O estudo
Neste trabalho, os pesquisadores ingleses verificaram que, nos dias atuais,
a grande maioria dos pacientes idosos ainda possui certa insegurança quanto ao
fato de poderem decidir sobre o seu futuro através de um termo (documento
redigido e registrado, como se fosse um testamento) em que determina sua vontade
de receber ou não terapêutica que poderia prolongar sua vida (mas por pouco
tempo e, talvez, às custas de muito sofrimento).
Os cientistas ingleses avaliaram pacientes idosos de dois hospitais de Londres,
totalizando um número de setenta e seis pacientes. Estes indivíduos foram
submetidos à aplicação de um questionário acerca da escolha de um seguro de
saúde e da decisão de fazer ou não um termo decidindo o tratamento que
desejariam em um período seguinte.
Todos os indivíduos avaliados tinham idade superior a sessenta e cinco anos,
sendo a idade média de 81 anos, além de possuírem um exame de consciência
(denominado Mini-Mental, aplicado em idosos com o objetivo de avaliar o grau de
demência destes indivíduos) absolutamente sem alterações. A maioria dos
idosos (93%) vivia em casas independentemente; outros (64%) viviam sozinhos ou
com algum membro da família (36%). A metade dos indivíduos participantes da
pesquisa recebia algum tipo de apoio de alguém, em sua casa, seja ele
financeiro ou de qualquer outra origem.
Dos setenta e quatro pacientes idosos que responderam ao questionário, a
maioria (95%) nunca havia ouvido falar do termo em que a sua vontade seria
expressa e registrada, aceitando ou rejeitando um determinado tratamento para
prolongar a sua vida, mesmo que às custas de muito sofrimento, seja ele físico
ou mental. Os demais pacientes já sabiam da existência deste tipo de
documento, mas, apesar disso, uma minoria deles sabia corretamente o significado
deste termo.
Em relação às pessoas que iriam decidir os cuidados de saúde, a maioria dos
idosos escolheu os familiares como procuradores dos cuidados de saúde: uma
parcela dos indivíduos (17%) escolheu o esposo ou esposa; outra parcela de
idosos (63%) escolheu alguns familiares; alguns (6%) optaram pelos amigos; e os
demais (22%), fizeram a escolha do médico.
Os idosos que participaram desta pesquisa explicitaram certa incapacidade em
aceitar determinadas situações. Por exemplo, ao escolherem outros familiares
distintos dos esposos para serem os procuradores do termo em que decidiriam o
tratamento ou não a ser adotado em situação de doenças em estágios
terminais ou quaisquer outras situações de risco de vida.
Resultados
Nos resultados, verificou-se que, em um estágio terminal de qualquer
doença, muitos idosos (94%) se mostraram contrários a um tratamento mais
agressivo, invasivo, se recusando a submeterem-se a qualquer tipo de cirurgia;
uma parcela deles (93%) recusou-se a receber respiração artificial
(oxigenioterapia por sonda nasal ou traqueostomia); aproximadamente 92% dos
idosos se mostrou contrários à ventilação mecânica; cerca de 90% dos
pacientes recusou-se a ser submetido à ressuscitação cardiopulmonar em caso
de parada cardio-respiratória; 86% recusou-se a receber por via venosa ou
subcutânea, a infusão de líquidos e, por fim, 82%, aproximadamente,
recusou-se a receber tratamento com antibióticos.
Os pesquisadores concluíram que a grande maioria dos idosos preferiu o cuidado
de saúde que lhe proporcionasse única e exclusivamente um conforto e bem-estar, quando estivessem na iminência de morte, e até mesmo a morte, a
tratamentos de última geração que visam a manutenção da vida. A situação
mais temida pelos idosos foi a demência (degeneração gradativa do sensório)
em estágios avançados. A situação mais aceitável pelos participantes foi a
incapacidade de deambular (movimentar os membros inferiores, andar), e a
necessidade de cadeira de rodas para locomoção. Em relação ao estudo da
diferença entre os dois sexos, as mulheres se mostraram menos prováveis de
aceitar um tratamento ativo (cirurgias, ventilação mecânica, antibióticos e
manobras de ressuscitação) quando em estágios terminais, do que os homens.
Os pesquisadores verificaram que grande porcentagem dos idosos avaliados neste
estudo explicitou interesse em redigir um documento, como este termo já há
algum tempo implantado nos Estados Unidos, em que a sua vontade seria expressa e
registrada, aceitando ou rejeitando um determinado tratamento, que consiste em
terapias que poderiam prolongar a sua vida. Este interesse dos idosos, segundo
os pesquisadores, se deve ao fato de que, desta maneira, eles estariam levando a
conhecimento das pessoas a sua decisão, sua visão quanto ao seu estado de
saúde. A conclusão foi de que, entre as mulheres e os homens, o interesse em
redigir um documento como este é igual entre os ingleses.
Fontes: BMJ 2000; 320: 1640-1641
BMJ 2000; 320: 1618-1619
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