Artigos de saúde
O aumento marcante da participação das mulheres em atividades esportivas competitivas nas últimas décadas
trouxe muitos benefícios. Entretanto, infelizmente, além dos aspectos positivos, alguns problemas inerentes à essa atividade têm se mostrado presentes. Tais situações adversas podem ocorrer com aquelas atletas que se dedicam de forma extraordinária
chegando o esporte a assumir um aspecto doentio, devido a uma diminuição da vida social
da atleta como um todo. Um distúrbio importante e com capacidade de, se não tratado, levar a uma intensa diminuição da qualidade de vida das mulheres é a chamada tríade da atleta feminina (TAF). Um estudo realizado pela Dra. Julie A. Hobart e pelo Dr. Douglas R. Smucker, ambos do Departamento de Medicina da Família da Faculdade de Medicina da
Universidade de Cincinnati - Ohio - EUA, reuniu uma ampla gama de informações sobre esse distúrbio, com a finalidade de uma maior conscientização médica a esse
respeito para que possa ser feita, através dos médicos generalistas, uma triagem mais
eficaz, prevenindo as formas avançadas da doença.
O que é a Tríade da Atleta Feminina (TAF)?
A TAF é definida como sendo a combinação de: desordem alimentar, amenorréia e osteoporose. É uma desordem muitas vezes não reconhecida, e suas complicações podem ser
devastadoras para a vida da atleta. Apesar de não se saber a prevalência exata deste distúrbio, vários estudos mostraram que cerca de 15% a 62% das atletas universitárias norte-americanas têm uma desordem alimentar. A amenorréia é encontrada em 3,4% a 66%
das atletas femininas enquanto em 2% a 5% das mulheres em geral. Muitas atletas femininas
passam despercebidas devido à natureza secreta dos distúrbios alimentares e pelo fato de
muitas considerarem como uma conseqüência normal a cessação menstrual durante as
atividades físicas competitivas.
Os distúrbios alimentares podem ser manifestados de diferentes formas, sendo a anorexia nervosa e a bulimia nervosa os dois extremos deste amplo espectro. Mesmo que muitas atletas não venham a apresentar
todos os sintomas necessários para o diagnóstico dessas duas entidades acima, elas apresentam com freqüência uma combinação de ambas. A anorexia nervosa é caracterizada por um medo intenso de ganhar peso mesmo quando magra, mantendo o peso em menos de 85% do
esperado. Há uma influência exagerada do peso e forma corporais na auto-avaliação da
pessoa, e uma negação da seriedade e da gravidade da perda de peso exagerada. Há, nas
mulheres que já começaram a menstruar, uma parada na menstruação por pelo menos três
ciclos consecutivos (amenorréia). Essas pacientes podem vir a ter momentos de compulsão
para alimetarem-se utilizando posteriormente, o vômito, diuréticos e laxantes para
expelirem o excesso de comida da qual fizeram uso. A bulimia nervosa por sua vez,
caracteriza-se por uma falta de controle alimentar, onde a pessoa come uma maior
quantidade de comida em um pequeno espaço de tempo (2/2hs). Há comportamentos
compensatórios inapropriados para prevenir o ganho de peso como indução de vômitos,
uso de diuréticos e laxantes, jejum prolongado e atividades físicas intensas.
A amenorréia pode ser primária (atraso da primeira menstruação) ou secundária (ausência de menstruação após ciclos anteriores). Quando relacionadas ao treinamento físico excessivo, são causadas por alterações hipotalâmicas (cerebrais), que levam a
uma diminuição de estrogênio circulante.
A osteoporose é definida como a perda de tecido ósseo diagnosticado através da diminuição da densidade óssea. Isso leva à fragilidade óssea, predispondo a fraturas de estresse (quando atletas) e a fraturas de coluna e quadril (quando mais velhas). No
caso da TAF, ela é causada pela diminuição do estrogênio circulante. A morbidade (grau
de lesão e desconforto) associada à osteoporose é significante e a perda óssea pode
ser irreparável.
Como reconhecer fatores de risco?
Os ricos são multifatoriais, estando geralmente associados com a pressão social de se
manter um corpo perfeito e a pressão competitiva de vitória a qualquer custo. Associado a isso tem-se o isolamento social devido aos treinos ininterruptos. Dessa forma, percebe-se a grande importância dos
treinadores, familiares e sociedade como um todo no direcionamento dessas atletas, que
muitas vezes são ainda imaturas o suficiente para não conseguirem uma opinião própria sobre si mesmas e sobre seu futuro profissional.
Como prevenir?
A prevenção através da educação é crucial! Treinadores, professores e pais geralmente não têm consciência do seu impacto nas atletas. Durante a adolescência, essas atletas podem ter recebido instruções que desencadearam comportamentos
incongruentes com relação à dieta e exercícios físicos. Não só o médico, mas os
familiares, amigos e colegas podem reconhecer tais tipos de comportamento e alertar as
atletas.
A melhor forma de se antecipar tais distúrbios é uma boa triagem no momento do exame médico inicial, realizado antes
de se começar uma atividade atlética. O médico poderá também pesquisar a TAF em
consultas por fraturas, contusões, mudança de peso, amenorréia, depressão e para
realização do teste preventivo de câncer de colo uterino.
A amenorréia é uma das formas mais fáceis de detecção da TAF. Estudos mostram uma
íntima relação da amenorréia com a mensuração da densidade óssea. Não se deve
considerar normal a amenorréia em atletas, visto que muitos médicos a consideram.
Como se diagnostica?
No início, os sintomas podem ser sutis o bastante para passarem despercebidos. Entretanto sintomas de fadiga ou depressão, alterações laboratoriais compatíveis com anemia e distúrbios hidroeletrolíticos (sódio, potássio, cloro, cálcio, etc) devem alertar o médico. A
amenorréia causada por excesso de exercícios é sempre um diagnóstico de exclusão
visto haver uma imensa gama de distúrbios responsáveis por tal quadro. Deve-se fazer uma
densitometria óssea para determinação da densidade óssea em atletas com mais de seis
meses de amenorréia.
Como a TAF é tratada?
É muito importante que se obtenha a colaboração de todas as pessoas
responsáveis pela atividade física da atleta, ou seja, treinadores, familiares e pessoas
próximas. Deve ser sempre ressaltado que se trata de um problema cuja base estrutural se
encontra na subjetividade da mente da atleta ou seja, nas suas expectativas, desejos,
necessidades e valores de vida. Devido a isso, soma-se a importância de um acompanhamento
psicológico e talvez psiquiátrico caso seja necessária a utilização de drogas
psicoativas devido a um quadro mais intenso de anorexia ou bulimia. Por se tratar de um
distúrbio multifatorial, é importante que se tenha a ajuda de um nutricionista para
fazer a reeducação dietética adequada. Assim, utilizando as mudanças no estilo de
vida, tem-se como alvo, um ganho de peso de 200g a 450g por semana e uma diminuição de
10% a 20% das atividades físicas.
Pode ser necessário a terapia de reposição hormonal que se dirige não somente ao retorno menstrual mas sim à reposição de cálcio na massa óssea. Esta
se torna prudente quando a amenorréia durar mais que seis meses visto que a perda óssea irreversível poderá ocorrer com apenas três anos de amenorréia. É importante enfatisar que o maior objetivo é a reestruturação menstrual através da dieta adequada.
É muito importante que haja empenho e participação da família especialmente nas adolescentes. Essa é a base necessária de conforto na qual a atleta precisa se suportar com o intuito de reestabelecer sua própria identidade e assim um melhor equilíbrio e
saúde vital.
Fonte: Am Family Physician, June 1rst, 2000, page 3357
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