Artigos de saúde
Fitoterapia ou tratamento com ervas faz parte da Medicina Alternativa. A Medicina Alternativa compreende tratamentos não
ensinados nas escolas médicas e não utilizados em hospitais. A medicina alternativa
trata as pessoas de maneira holística, o que significa considerar a pessoa como um todo,
envolvendo características físicas, mentais, emocionais e espirituais.
O tratamento com ervas é muito utilizado em todo mundo, com destaque para os países
subdesenvolvidos. São inúmeros os medicamentos fitoterápicos e sua produção está
cada vez maior, ocupando importante espaço comercial. Em geral são tratados como
produtos dietéticos, fugindo ao controle rigoroso dos serviços de vigilância. São
vendidos com a imagem de produtos inofensivos à saúde.
A realidade é bem diferente. A substância derivada de planta não é inócua, bastando
lembrar que a maioria dos venenos conhecidos
derivam de vegetais. Uma substância pode ser terapêutica em uma determinada dose e
venenosa em outra.
A interação de produtos derivados
de plantas com medicamentos freqüentemente utilizados, tem sido matéria de grande interesse médico (Lancet 2000; 355: 134-38).
Têm sido observado com freqüência efeitos sinergísticos, isto é, o produto
derivado de erva aumentando a ação do medicamento que está sendo utilizado podendo
criar problemas de saúde.
O produto natural pode ter uma ação quando analisado em laboratório ("in vitro") e
ação diferente no organismo ("in vivo").
Outro problema muito comum é a venda de produtos com rótulo de produto derivado de
ervas, mas que contém na sua fórmula também substâncias químicas, como hormônio,
cortisona, antiinflamatórios, etc.
Recentemente a Organização Mundial de Saúde criou um centro que vai monitorar, testar e
aprovar medicamentos derivados de ervas. Há recomendação para que setores ligados à
medicina tradicional colaborem com os setores alternativos. A medicação que realmente
seja atuante e produza resultados positivos deve ser prestigiada. Estão sendo analisados
produtos peculiares utilizados alternativamente em diferentes países no sentido de se
verificar sua eficácia.
Neste artigo analisaremos quatro produtos muito difundidos em nosso meio: "Erva-de-São João", "Ginseng", "Gingko biloba" e
"Valeriana".
A Erva de São João, ou HIPÉRICO (hypericum perfuratum), é conhecida há
centenas de anos na Europa, sendo considerada no passado como capaz de espantar os maus
espíritos (do latim hypericum ). Atualmente é
utilizada como antidepressivo, apresentando bons resultados no tratamento da depressão
leve.
Durante séculos foi muito utilizada, inicialmente por sua capacidade de cicatrizar
feridas, úlceras de pele e queimaduras. Considerada
capaz de afastar maus espíritos, foi utilizada no tratamento de inúmeras doenças
mentais. Acredita-se que seu nome venha de John King, famoso e muito querido médico
inglês, que ficou conhecido por utilizar o
hipérico. Era indicada também no tratamento da enurese noturna, doença que acomete
preferencialmente crianças. Depois passou a ser conhecida como ansiolítica e útil no tratamento da melancolia. A homeopatia sempre
utilizou o hipérico, tendo sido considerado tão importante quanto a arnica, sendo
denominada a "arnica dos nervos".
Sua utilização como antidepressivo é recente e foi iniciada na Alemanha.
Recentemente foi submetida a estudo de meta-análise entre grande números de trabalhos
europeus e norte-americanos, quando foi
comprovada sua ação antidepressiva.
A substância básica é a hipericina e sua dose
diária deve ser de 300 mg-1000 mg. A sua ação se deve à inibição da monoamino oxidase (IMAO), enzima que atua sobre os neurotransmissores. Alguns pesquisadores indicam também uma ação na inibição da catecol-metil-transferase (COMT) e outros acreditam
que a hipericina tenha ação na recaptação
cerebral de serotonina. A ação cicatrizante da erva se deve a uma substância denominada
hiperforina, que tem ação bactericida. Sua ação cicatrizante está bem comprovada,
sendo sua tintura muito útil no tratamento de feridas e úlceras de pele.
Teria ação antiviral o que daria ao hipérico um espaço para o tratamento da infecção
herpética, da gripe e da AIDS, mas esta ação não está comprovada.
Alguns trabalhos aconselham a sua associação com a valeriana, substância sedativa
analisada neste trabalho.
A erva pode provocar problemas gastrointestinais (náuseas, gastrite, cólicas) e
fototoxicidade, facilitando o aparecimento da catarata. Observa-se sua interação com
antidepressivos recaptadores de serotonina (como a setralina), acentuando sua ação,
havendo casos de piora da depressão. Interfere com medicamentos como a digoxina e a
teofilina, diminuindo seus efeitos. Diminui a ação de drgas imunossupressoras como a
ciclosporina (Lancet 2000, 355,548-549).
O seu uso não está indicado no tratamento de depressão severa.
O GINSENG (panax ginseng) é nativo da Ásia
(China) onde é largamente cultivado, sendo a sua raiz a parte de onde é retirado o
produto fitoterápico. O nome "panax" vem do grego
"panakos" e quer dizer panacéia,
isto é, apresenta inúmeras ações terapêuticas, tendo sido considerada pelos chineses
uma substância miraculosa, que cura todas as doenças. A palavra ginseng significa "a maravilha do mundo". Posteriormente foi identificada na América do Norte,
onde também é nativa e recebe o nome de "garantoquen". A planta chinesa
(panax ginseng) é um pouco maior que a norte-americana (panax quinquefolius), mas com
as mesmas características.
O chá feito da raiz é um pouco amargo e sem cheiro.
Utilizada para o combate da fadiga, revitalizando as energias, e afastando os sintomas da
velhice é considerada como capaz de prolongar a vida, curando doenças dos pulmões e
tumores.
O ginseng contém como substância ativa o ginsenosídeo.
É utilizada na China, no tratamento da gastrite, de vômitos e de problemas nervosos.
Sua ação sobre o esgotamento
nervoso e o estresse é muito conhecida. Acredita-se que melhore o vigor sexual, o tônus
muscular e da pele.
Recentemente foi publicado na imprensa médica (Arch Intern Med. 2000;160:1009-1013) um artigo que
revela ser o GINSENG (Panax quinquefolius) útil no controle do Diabetes Mellitus tipo 2. A dose utilizada para o controle do diabetes é de 3 gramas de ginseng, junto com a alimentação, e com isto se consegue diminuir a glicose sanguínea em 20%. Não se sabe como a erva age, havendo uma sugestão que possa
retardar a absorção de carboidratos ao nível digestivo, ou mesmo modular a produção
de insulina. É importante que se saliente que há medidas muito simples que controlam com
segurança o diabetes tipo 2: como a perda de peso, a dieta pobre em carboidratos e
principalmente os exercícios físicos.
Pode provocar insônia e irritabilidade, sendo possível desencadear crises de pressão alta.
Acentua a ação do álcool e aumenta o efeito de anticoagulante (dicumarínico).
GINGKO BILOBA
A gingko é extraída de folhas de uma árvore muito comum na Europa e nos Estados Unidos, sendo muito popular na Alemanha, onde tem seu uso aprovado oficialmente. É conhecida há centenas de anos, tendo ampla gama de efeitos, atuando em problemas cardiovasculares, neurológicos e metabólicos.
É uma substância que atua na circulação
cerebral, sendo muito utilizada na velhice, com a finalidade de melhorar problemas de
memória, dificuldades de concentração e confusão mental. Tem sido utilizada nas fases
iniciais da Doença de Alzheimer, no combate aos problemas cognitivos próprios da
doença, melhorando o comportamento (The
Lancet, 350, 9086,27/10/97). Infelizmente esses
resultados são muito discutidos.
Não se sabe bem como age, mas parece ativar a circulação cerebral melhorando o
aproveitamento do oxigênio pelas células nervosas.
Tem ação positiva no tratamento das tonturas e do zumbido, principalmente quando devidos
à insuficiência circulatória.
Basicamente age como um tônico, sendo útil na terceira idade, podendo inclusive melhorar
o desempenho sexual.
A substância ativa é denominada ginkgosídeo, sendo
utilizada na dose de 40 mg, três vezes ao dia.
Seus efeitos colaterais se caracterizam por problemas de gastrite. Recentemente foi
observado que pode acentuar a ação anticoagulante de dicumarínicos e da aspirina,
medicamentos muito utilizados para tratamento de doenças cárdio-vasculares.
A utilização deste produto deve ser criteriosa e sempre com acompanhamento médico. Se a
pessoa utiliza outros medicamentos deve sempre procurar saber das possíveis interações.
Deve ser evitado o seu uso em pessoas saudáveis que queiram somente aumentar sua
capacidade cerebral.
A preocupação com a diminuição de nosso rendimento, de nossa capacidade intelectual e
de nossa memória, o combate à fadiga e ao estresse, são muito comuns em nosso meio. A
procura de medicamentos para o tratamento de tais sintomas não deve superar o que é
considerado o melhor método terapêutico: a
mudança de hábitos, com introdução de atividade física regular, relaxamento e ativação de nossas funções mentais com exercícios e jogos.
VALERIANA
É um produto obtido da raiz de uma planta muito difundida na Europa, a Valeriana officinalis. Foi o principal sedativo
usado tanto na Europa como na América, antes da descoberta do barbitúrico, nos anos
iniciais do século passado. Caracteristicamente possui um odor forte e desagradável. É
sem dúvida um importante sedativo, podendo ser usado como indutor do sono. Pode ser
utilizada como calmante durante o dia. Pode ser usada para sedação de crianças.
Não se conhece bem qual a sua substância ativa.
É utilizado na forma de tintura, em gotas ou medidas. A dose recomendada como indutor de
sono são 30 gotas de tintura, em água, ao deitar. Existe também em forma de cápsulas.
Como todo sedativo, tem ação
depressora sobre o sistema nervoso, podendo provocar depressão. Não causa dependência,
sendo menos potente do que os sedativos conhecidos. Pode aumentar a ação do álcool,
não devendo ser associada ao mesmo.
Pode não produzir efeito algum.
Ao tratarmos da ansiedade e dos problemas de sono devemos observar outras formas
terapêuticas que não a química ou a derivada de plantas. A tensão emocional responde
muito bem a técnicas de relaxamento e a psicoterapia corporal, por exemplo. Os problemas
de sono em geral são complexos e
freqüentemente estão relacionados a graves problemas psicológicos como a depressão,
por exemplo. Devemos sempre procurar orientação médica antes de utilizarmos medicamentos.
Antes de iniciarmos um tratamento devemos nos submeter a investigação profunda. Em geral
há um medicamento ideal para cada pessoa, que deve ser utilizado em dose correta e sempre
por um determinado tempo.
É muito comum em nosso meio a utilização de medicamentos sem orientação médica e por
longo tempo. Muitas vezes ao se dirigir à consulta médica o paciente esquece de
mencionar que está utilizando o produto. Um exemplo disto ocorre com laxantes naturais, muito utilizados e raramente citados.
É interessante lembrar que inclusive o uso de pomadas deve ser mencionado.
Ao consultarmos um médico, ao iniciarmos um tratamento, ao realizarmos um
procedimento cirúrgico, devemos informar sempre todos os medicamentos que estão sendo
utilizados.
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