Artigos de saúde
A cosmetologia atualmente vem ganhando notoriedade, pois o simples enfoque estético
começa a ganhar a ótica médica. Para a especialista em Controle de Qualidade de
Medicamentos e Cosméticos pela Universidade Federal de Minas Gerais, Renata Noronha
Silveira, o cosmético, tem como finalidade tratar a pele de maneira a prevenir a sua
deterioração e reestabelecer o seu equilíbrio fisiológico quando este for passível de
uma alteração. O cosmético deve limpar, corrigir, proteger e embelezar a pele e anexos.
A pele é o maior órgão do corpo humano e um dos mais complexos, exercendo uma função
principal de proteção e revestimento. A pele protege o corpo contra agressões do meio
ambiente e funções sensoriais (calor, frio, pressão, dor, tato), além de ter o seu
importante papel na regulação térmica, defesa orgânica e controle do fluxo sangüíneo.
Os pêlos, unhas e cabelos constituem os seus anexos. A epiderme é a unidade mais
superficial da pele exibindo a camada córnea, que se assenta sobre um tecido de
sustentação fibrilar chamado derme. A derme, por sua vez se repousa sobre uma camada
célulo-adiposa também conhecida como tecido subcutâneo ou hipoderme.
É importante lembrar que o termo cosmético deve se limitar aos produtos com ação
superficial, sem caráter terapêutico, não penetrando na estrutura celular ou fazendo
sinergia com o sistema circulatório. Qualquer ação em profundidade sobre a pele e
anexos, com produtos que alteram a estrutura celular, passa ao domínio médico e deve ser
visto como medicamento.
A camada córnea da pele contém aproximadamente de 10 a 20% de água e o seu grau de
hidratação decorre do equilíbrio entre a água fornecida (endógena ou exógena) e as
perdas por evaporação. A película hidrolipídica da superfície da pele, emulsão
formada pelo sebo cutâneo, suor e seus componentes, têm papel importante na retenção
da água. Certos produtos, devido aos seus componentes ou formulação, permitem diminuir
os problemas relacionados com a desidratação da pele. Quando saudável e hidratada, a
pele apresenta um aspecto brilhante e de plasticidade. Uma pele desidratada perde suas
propriedades biomecânicas, biológicas e sobretudo estéticas pois o seu aspecto torna-se
opaco, áspero, sem elasticidade e com tendência a descamação.
A desidratação da pele pode ser evitada diminuindo-se ou evitando-se as agressões
externas ou utilizando produtos que corrigem e restabelecem o equilíbrio biológico.
Novas Buscas
A busca de novas matérias-primas para o desenvolvimento de formulações cosméticas,
cada vez mais compatíveis e inócuas aos diferentes tipos de pele, bem como o avanço e a
perspectiva de novos ativos com finalidades dermocosméticas, têm sido uma constante por
parte dos farmacêuticos, químicos, dermatologistas e da indústria de cosméticos.
Segundo a farmacêutica industrial, os produtos de beleza e tratamento cosmético
dividiam-se tradicionalmente em dois grupos: os extraídos de fontes naturais e aqueles
obtidos por síntese. Hoje se sabe que a maior parte das substâncias utilizadas na
formulação de cosméticos pertence ao grupo dos "produtos naturais
modificados" que embora obtidos na natureza, foram modificados estruturalmente para
apresentar propriedades mais atenuantes ou menos tóxicas.
Inúmeras são as substâncias empregadas nas formulações cosméticas para atenuar ou
proteger a pele contra as agressões e envelhecimento mas a cosmetologia não passaria de
um álibi, uma mera ilusão, se os fatores intrínsecos e extrínsecos como exposição ao
sol, tabagismo, alimentação, sedentarismo físico e intelectual não forem controlados e
evitados. Além do envelhecimento cutâneo intrínseco, geneticamente determinado, os
fatores extrínsecos são determinantes, especialmente a radiação solar responsável
pelo fotoenvelhecimento.
A pele envelhecida intrinsicamente apresenta-se delgada, pouco elástica e finamente
enrugada, com acentuação das linhas de expressão do rosto. Já a pele fotoenvelhecida
se caracteriza histologicamente, pela displasia epidérmica, com vários graus de atipia
citológica, infiltrados inflamatórios, redução do colágeno e elastose (degradação
do material elástico). Portanto, o envelhecimento intrínseco da pele resulta em atrofia,
enquanto o fotoenvelhecimento em hipertrofia. Esta distinção nem sempre é clinicamente
evidente mas nos casos ideais nota-se um envelhecimento intrínseco da pele com rugas
finas, enquanto a pele fotoenvelhecida apresenta um enrugamento grosso e sulcado.
Necessidade de Proteção e os novos avanços
A especialista enfatiza que o reconhecimento de que a proteção solar pode reduzir ou
até reverter os efeitos do fotoenvelhecimento da pele levou à inclusão de filtros
solares nas preparações de bronzeadores, bases faciais, hidratantes, shampoos e batons.
O desempenho de um protetor solar depende da concentração do filtro solar e de sua
capacidade de permanecer na pele. Geralmente os filtros solares disponíveis não
bloqueiam a energia luminosa entre 320 e 400 nm, conhecidos como região de raios
ultravioleta-A (UVA). Os filtros solares entretanto absorvem 95% da radiação UV dentro
dos comprimentos de onda 290 a 320 nm (espectro dos raios ultravioleta-B / UVB), também
conhecido como região de queimadura solar, pois estes comprimentos de onda da energia
luminosa produzem eritema e enrugamento cutâneo.
Os retinóides, como por exemplo a tretinoína, também podem reverter as modificações
cutâneas fotoinduzidas. A tretinoína é um dos vários derivados da Vitamina A e
demonstrou transformar a epiderme atrófica trazendo uma melhora do aspecto cutâneo
rugoso. Entretanto não melhora o enrugamento associado às linhas de expressão facial. A
pele do rosto tratada com tretinoína também apresenta novas sínteses de colágeno das
papilas dérmicas, novas formações de vasos sanguíneos e esfoliação do estrato
córneo acumulado. Ainda se desconhecem os efeitos da tretinoína sobre o envelhecimento
intrínseco. Vários graus de eritema e dermatites são comuns em pacientes tratados com
tretinoína, nas primeiras duas a seis semanas. Este efeito irritante (ardor, prurido e
descamação) costuma desaparecer com o passar do tempo e com a descontinuidade da
aplicação. A tretinoína é fotoinativada e aumenta a fotossensibilidade cutânea, de
forma que a sua aplicação é recomendada à noite. Os pacientes também devem usar
protetores solares. Os resultados podem ser percebidos a partir de 4 meses em pacientes
que usam tretinoína tópica diariamente.
O rejuvenescimento facial é hoje uma realidade, alcançada através dos peelings
químicos e aplicação de Laser (Light accumulated by stimuleted eletron radiation) que
diferentemente da cirurgia plástica, que objetiva aumentar ou reduzir tecidos cutâneos,
promovem um aspecto jovem e mais natural para a pele.
O peeling pode ser definido como um processo no qual se utilizam diversos agentes capazes
de promover uma descamação das camadas superficiais da pele, ativando mecanismos
biológicos que estimulam a renovação e o crescimento celular desde as camadas mais
profundas da pele. Resultado disso é uma pele mais saudável, lisa, uniforme e
rejuvenescida.
O peeling químico, utilizando ácido glicólico ou retinóico tem mostrado resultados
muito satisfatórios na melhoria da textura e aparência da pele danificada pelo sol.
Outros produtos como ácido salicílico ou ácido tricloroacético também são utilizados
em peelings superficiais e de média profundidade, respectivamente.
Os alfa-hidroxiácidos são também chamados de ácidos frutais devido à sua obtenção a
partir de fontes naturais como a maçã, uva, cana-de-açúcar e frutas cítricas. Embora
utilizados há centenas de anos como agentes hidratantes e refrescantes da pele, os
alfa-hidroxiácidos foram recentemente empregados no tratamento da acne, pele
fotoenvelhecida, pigmentação e em rugas finas.
Este grupo de ácidos orgânicos, em especial o ácido glicólico, quando usado
regularmente, age como esfoliante, promovendo uma remoção de corneócitos (células
mortas) da camada superior da epiderme e permitindo que células mais jovens que emergem a
superfície, facilitando a penetração de outros princípios ativos associados a ele.
Existem diversos produtos no mercado contendo alfa-hidroxiácidos em baixas
concentrações e que são seguros para uso domiciliar. Soluções muito concentradas de
ácido glicólico no entanto só devem ser aplicadas pelo Dermatologista, com rigoroso
controle sobre o tempo de exposição à pele. Por se tratar de um leve esfoliante,
vários tratamentos podem ser requeridos até que se atinja os resultados esperados.
O peeling com ácido glicólico é bastante seguro, não requer afastamento do indivíduo
de suas atividades regulares e ao contrário do ácido retinóico, raramente causa
sensibilidade à luz solar, vermelhidão ou irritação na pele. Existem algumas
contra-indicações ao uso do peeling com ácido glicólico para os pacientes portadores
de herpes, eritemas persistentes, cicatrizes hipertróficas, gestantes e em pele negra.
Os efeitos secundários relacionados ao emprego de cosméticos e produtos para cuidados
pessoais são raros se considerarmos o grande número de pessoas que entram em contato com
as mais variadas substâncias utilizadas nestes produtos. A dermatite de contato
irritativa é o efeito colateral mais comum induzido por cosméticos. Manifesta-se por
eritemas que causam ardor e coceira à pele, podendo apresentar microvesículas e
escamação. Trata-se de um dano ao nível do estrato córneo, sem fenômenos
imunológicos. A irritação pode ser conseqüência do pH das formulações ou veículos
que dissolvem o sebo protetor da pele. Além disso, a fricção ou partículas abrasivas
dos cosméticos também podem causar irritação. Uma vez danificada a camada córnea,
esta deixa de exercer a função protetora e qualquer cosmético aplicado sobre a pele
poderá causar uma irritação.
A dermatite de contato alérgica é um fenômeno imunológico, que necessita da presença
de um antígeno e de células produtoras de antígenos, sem considerar a condição do
estrato córneo protetor. Portanto, um estrato córneo íntegro não evita o
desencadeamento de uma dermatite de contato alérgica nos indivíduos sensibilizados. As
causas mais comuns de dermatite alérgica induzida por cosméticos são as essências,
seguidas pelos conservantes. Uma outra manifestação ao uso de cosméticos pode ser a
urticária de contato, caracterizada por pápulas e rubor após aplicação tópica de um
produto químico, ou podendo ser generalizada com reação anafilática.
Relação causa e efeito
Segundo Renata Silveira, pode-se dizer então que a ação dos cosméticos sobre a pele
pode causar uma "irritação" caracterizada por um efeito cáustico, geralmente
proporcional à dose (concentração) e que se difere da "intolerância" aos
cosméticos, que é um fator individual e não depende da concentração do alergênico.
Um tipo de acne de baixo grau, caracterizada por comedões fechados foi descrito por
Kligman e Mills como acne cosmética, induzida por substâncias presentes nos cosméticos,
apresentando em alguns casos uma erupção pápulo-purulenta. Quando se avalia o potencial
comedogênico de um cosmético deve-se levar em conta sua concentração e seu potencial
comedogênico quando associado com outras substâncias. Sabe-se que nem todas as bases
oleosas necessariamente produzem comedões podendo ser acnegênicos e não comedogênicos.
Entretanto, recomenda-se para peles oleosas e com acnes, os géis, evitando-se o uso de
cremes com alto conteúdo lipídico.
Finalmente podemos concluir que tanto os cosméticos de superfície como os bioativos têm
seus limites de atuação e os resultados vão depender da quantidade e qualidade do manto
hidrolipídico. Apesar de grandes esforços e avanços na cosmetologia e no campo da
fisiologia da pele, é pequeno o conhecimento sobre as reais modificações de ordem
biológica do tecido cutâneo. "Muitas pessoas ainda acreditam em efeitos milagrosos
dos cosméticos esquecendo-se que os melhores resultados somente serão obtidos quando
aliado aos cosméticos encontrarmos hábitos saudáveis de vida", destaca.
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