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Efeitos do divórcio na criança podem durar anos, diz estudo

Por Andrew Quinn

SÃO FRANCISCO (Reuters) - Os efeitos traumáticos do divórcio afetam muitas crianças décadas depois da separação dos pais, criando dificuldades em formar suas próprias relações familiares, segundo um estudo feito nos Estados Unidos,.

"Nossas descobertas desafiam o mito de que o divórcio é uma crise transitória", disse na terça-feira Judith Wallerstein, conferencista-sênior da Universidade da Califórnia (Berkeley) e autora do estudo.

"Agora, vemos que o principal dano é na idade adulta, quando as imagens internalizadas da mãe, do pai e de suas relações vêm para o centro da cena e moldam as escolhas que estas crianças crescidas fazem", disse a pesquisadora.

As descobertas de Wallerstein estão sendo publicadas no livro "O Legado Inesperado do Divórcio: Um Estudo Referência de 25 anos", publicado pela Hyperion de Nova York em co-autoria com Julia Lewis, professora de psicologia da Universidade do Estado de São Francisco, e Sandra Blakeslee, escritora especializada em ciências do jornal The New York Times.

O trabalho de Wallerstein é baseado numa pesquisa feita com cerca de cem crianças na região da Baía de São Francisco, que teve início em 1971 e foi a primeira desse tipo a acompanhar filhos divorciados até a idade adulta.

Durante 25 anos, Wallerstein também entrevistou um grupo de 44 crianças de famílias em que não houve separação, que cresceram ao lado de filhos de pais separados e estudaram nas mesmas escolas.

Ao comparar as experiências de vida dos dois grupos, o estudo concluiu que o divórcio dos pais teve um impacto profundo e duradouro na vida emocional das crianças, especialmente em suas relações adultas.

Os filhos de divorciados experimentaram desde o medo da perda e de desastres, até maior uso de drogas e álcool durante a juventude. Também registraram menos casamentos, menos filhos e mais divórcios em relação às crianças de famílias em que não houve separação.

De acordo com Wallerstein, enquanto a maioria dos filhos de pais divorciados supera eventualmente suas dificuldades e leva uma vida normal, geralmente comete mais enganos ao longo da vida.

"A relação com os pais se corrói quase inevitavelmente no momento da separação e não se restaura por anos, talvez nunca. Durante os anos depois do divórcio, as crianças têm menos proteção e menos atenção", disse a pesquisadora.

O estudo revelou ainda que apenas 60 por cento dos filhos de pais divorciados haviam se casado, em comparação aos 80 por cento dos de famílias que permaneceram unidas.

Cerca de 38 por cento dos filhos de divorciados tiveram filhos, sendo que 17 por cento deles fora do casamento. Ao contrário, 61 por cento das pessoas do grupo de famílias sem divórcio tiveram seus filhos no contexto do casamento.

Os filhos de divorciados eram muito mais suscetíveis a se casar antes dos 25 anos de idade -- comparado a apenas 11 por cento do outro grupo -- e também a se divorciar. Cerca de 57 por cento dos casamentos prematuros terminaram, contra 25 por cento no grupo de comparação.

O divórcio também foi relacionado a impactos em outras áreas da vida. Apenas 29 por cento dos filhos de divorciados foram ajudados financeiramente pelos pais numa educação escolar mais completa, contra 88 por cento do outro grupo.

Em 25 por cento dos casos, os filhos de divorciados relataram o uso de drogas e álcool antes dos 14 anos de idade, contra apenas 9 por cento do grupo de comparação.

Para Wallerstein, ficou claro em seu estudo que, quanto mais jovens as crianças são quando ocorre o divórcio, maiores danos experimentam. Entretanto, a pesquisadora não defende que os casais fiquem juntos por causa dos filhos, independentemente do casamento que tenham.

"Em casos extremos, uma separação pode ser melhor para as crianças se um dos pais puder transformar sua vida e servir como exemplo. Mas, na maioria dos casos, a vida será mais dura para criança, porque a criação é mais difícil", concluiu Wallerstein.

Sinopse preparada por Reuters Health

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