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O ronco é um problema de saúde

Belo Horizonte, 12 de março de 2002 (Bibliomed). O ronco noturno não é apenas um problema que tem impacto social, já que o cônjuge de quem ronca costuma ser visto como a principal vítima desta condição. Dois novos estudos mostram que, na verdade, o ronco é um problema ligado a outras condições de saúde, e no mínimo deve ser um alerta às pessoas que sofrem deste mal para que procurem atenção médica.

Um dos estudos, feito em Harvard, mostrou ligação entre hábito de roncar e o desenvolvimento de diabetes, independente do peso do indivíduo. O estudo mostrou que o hábito de roncar pode aumentar o risco de desenvolver a doença em até duas vezes, independente de outros fatores de risco como a obesidade. Os pesquisadores suspeitam que a relação foi encontrada porque o ronco e a apnéia noturna, uma condição encontrada nos roncadores são problemas mais comuns em pessoas diabéticas do que em pessoas saudáveis.

A explicação para esta relação entre o ronco e o desenvolvimento do diabetes foi que, quando a pessoa ronca, ela pode estar tendo menos oxigênio disponível para o corpo durante a noite. Esta falta de oxigênio pode aumentar a liberação de compostos no sangue chamados catecolaminas. A elevação destas substâncias pode levar à resistência à ação da insulina. A insulina é o hormônio responsável, entre outras coisas, pelo controle do nível da glicose (o açúcar do sangue) no corpo. A resistência à insulina é tida como o primeiro sinal do diabetes.

Outro estudo, realizado em crianças, mostrou que o ronco noturno pode estar ligado à ocorrência de um distúrbio de comportamento chamado déficit de atenção e hiperatividade, uma condição em que a criança tem dificuldade de fixar a atenção por períodos relativamente curtos de tempo e que tem sido tratada com estimulantes. Esta condição piora o desenvolvimento escolar e social destas crianças, que não conseguem acompanhar bem o ensino formal e usualmente apresentam problemas familiares devido à sua hiperatividade. O uso de medicamentos estimulantes traz bons resultados para a maioria das crianças.

Neste segundo estudo, pesquisadores da Universidade de Michigan mostraram que crianças que roncam são duas vezes mais propensas a apresentar déficit de atenção e hiperatividade do que as que não roncam. Entre 7% e 12% de todas as crianças são roncadoras habituais. O estudo envolveu 866 crianças com idades entre 2 e 14 anos.

Além do risco do distúrbio de comportamento citado, crianças roncadoras são mais propensas a apresentar sonolência diurna. Os pesquisadores deste segundo estudo dizem que o mesmo não foi capaz de provar definitivamente uma ligação entre o ronco e o distúrbio do comportamento, dizendo que outros fatores que interferem no ciclo sono-vigília das crianças podem estar interferindo nas observações. Porém, é uma pista importante, mesmo não sendo possível, no momento, estabelecer relação definitiva entre as duas situações.

O importante é que o ronco tem sido cada vez mais visto como um problema de saúde e cada vez menos como simples hábito ou característica. Muitos estudos têm mostrado relação entre o ronco noturno e o desenvolvimento de várias doenças, e isto não pode ser desconsiderado. Mesmo não havendo comprovação de que o ronco cause estes problemas, é importante que os roncadores e seus familiares estejam atentos: mesmo não sendo causa, pode ser um sinal de alerta importante que provavelmente deve motivar uma avaliação clínica que possa diagnosticar estas situações.

Hoje existem vários tratamentos disponíveis para o ronco, variando de uso de próteses bucais a cirurgias que corrijam o defeito anatômico responsável pelo ronco.

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