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Neste Artigo:
- Introdução
- O Estudo
- Resultados
- Comentários e Conclusões
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A toxoplasmose congênita é uma causa estabelecida de morte intrauterina e de formas
graves de doença neonatal cujos efeitos tardios incluem dificuldades de aprendizagem e
doenças oculares. Um controle efetivo da toxoplasmose congênita depende da prevenção
do contágio durante a gestação.
Introdução
A infecção pela toxoplasmose é adquirida através da ingestão de algumas das
formas do parasita, que podem contaminar a carne, o solo, os vegetais, o leite ou a água.
Mas existem incertezas a respeito de quais grupos de mulheres estão mais sujeitas à
infecção, o que dificulta os meios de se evitar os vários fatores de risco. O
desenvolvimento de formas mais efetivas para o controle da doença requer um maior
conhecimento das formas mais prevalentes de contaminação nas diferentes regiões. A
prevalência de infecção prévia em mulheres grávidas varia de 10% na Inglaterra e na
Noruega a aproximadamente 50% na França e na Grécia.
Em vários países essas taxas estão decaindo rapidamente nas últimas três décadas.
Essas variações regionais vêm sendo atribuídas às diferenças climáticas e
culturais, principalmente em relação à ingestão de carnes cruas, ao aumento do consumo
de carne de animais criados confinados e de carne congelada. Contudo, a queda da
prevalência dessa doença na população em geral, não significa necessariamente a queda
da incidência de toxoplasmose adquirida durante a gestação. Mas, por outro lado, o
declínio da infecção durante a gravidez reflete, provavelmente, a redução da
incidência de toxoplasmose congênita.
Atualmente, muitas mulheres são susceptíveis à infecção e a freqüência de
exposição aos fatores de risco pode estar aumentando. Esse aumento pode dever-se às
alterações nos hábitos da população, como mudanças no consumo de carne de boi para
carne de porco e de aves domésticas e com o aumento da ingestão de hambúrgueres e de
outros produtos processados. Essas novas tendências podem estar provocando um aumento da
exposição ao Toxoplasma Gondii, visto que a carne de porco e a de carneiro possuem um
maior risco de contaminação do que a carne de boi e de aves e os animais que são
criados confinados possuem uma menor chance de contaminação.
Diante do aumento da infecção de mulheres grávidas, com conseqüente aumento do número
de crianças com toxoplasmose congênita, torna-se necessário uma nova avaliação dos
fatores de risco, acarretando a formulação de novas medidas para o controle da doença.
Com o intuito de analisar os fatores de risco mais prevalentes, um grupo de pesquisadores
europeus, liderados pelo Dr. A J C Cook (do Department of Farm Animal and Equin Medicine
and Surgery, Royal Veterinary College, Universidade de Londres), conduziu um estudo
caso-controle, no qual foram analisadas mulheres grávidas em várias regiões da Europa,
comparando os fatores de riscos presentes em gestantes contaminadas e não-contaminadas.
Este estudo foi publicado na revista British Medical Journal de julho de 2000.
O Estudo
Os países envolvidos no estudo foram: Itália, Suíça, Bélgica, Noruega e Dinamarca. As
gestantes infectadas (casos) foram diagnosticadas através de exames sorológicos entre
janeiro de 1994 e junho de 1995. O grupo controle foi constituído pelas próximas quatro
gestantes não-contaminadas, que foram testadas nos mesmos laboratórios que as pacientes
infectadas.
Os dados a respeito da forma de contágio foram coletados através de um questionário
padrão, que foi traduzido para os idiomas locais. Todas as mulheres e os pesquisadores
desconheciam os resultados dos exames sorológicos.
As mulheres foram questionadas a respeito da idade, do número de gestações, de viagens
internacionais, de profissões de alto risco de contaminação, da exposição ambiental,
do contato com gatos, da dieta e do consumo de água não-tratada. O consumo de carne crua
ou mal-passada, de salsicha crua, de carne curtida ou defumada, de salame e o hábito de
provar carne durante o cozimento foram divididos em 4 níveis: nada nos últimos quatro
meses, menos de uma vez por semana, semanalmente ou diariamente. Os mesmos critérios
foram usados em relação à limpeza de fezes de gatos e a trabalho em jardins ou no
campo, com as mãos em contato com a terra.
Resultados
Um total de 252 mulheres infectadas (casos) e 858 controles foram registrados,
sendo que 150 gestantes infectadas não participaram do estudo por motivos diversos.
Não foi significativa a associação entre a infecção e a presença de gatos em casa. O
contato com o solo foi associado ao dobro de chances de infecção, bem como as viagens
internacionais e o trabalho com animais, em fazendas, abatedores ou açougues. Casos de
infecção também foram associados à ingestão de água não-tratada.
O risco de infecção por toxoplasma foi maior em mulheres que apresentavam o hábito de
provar carne durante o cozimento, ou que tinham o costume de comer carne de boi, de
carneiro ou de caça, cruas ou mal-passadas, porém o mesmo não foi observado em
relação à carne de porco. Houve um risco muito maior de acordo com a freqüência do
consumo de carnes cruas (boi ou carneiro), de salame, carne defumada ou curada e salsicha
crua. O consumo de leite não pasteurizado também foi associado ao aumento do risco de
contágio.
Comentários e Conclusões
Estudos anteriores sugeriram que as carnes de carneiro, de porco e de caça são
mais susceptíveis à infecção do que as de boi e de frango. Mas os riscos de
contaminação dessas dependem da idade do animal, do tempo de confinação, do grau de
higiene dos criadouros, e da parte do animal consumida (carne ou vísceras).
Alguns argumentos científicos já estudados podem explicar os dados encontrados nesse
estudo. Primeiro, a maioria dos porcos é criada confinada e muitos são comercializados
congelados. O congelamento mata os cistos de toxoplasma gondii existentes na carne,
diminuindo dessa maneira as chances de infecção. Segundo, a carne de porco usada na
produção de salame e de salsichas envolve outros tecidos, como coração e vísceras e,
por outro lado, a defumação parece não matar os cistos existentes, explicando dessa
maneira, o maior risco de contágio com esses alimentos. Terceiro, o toxoplasma gondii
raramente é encontrado na carne de boi, mas como é uma carne muito consumida, pode
explicar o alto índice de infecção associado a esta.
O contágio através do leite não pôde ser explicado por dados científicos, uma vez
que, as formas de toxoplasma que por acaso podem ser encontradas no leite são rapidamente
destruídas pelo suco gástrico. Os autores acreditam que esse tipo de infecção se deva
principalmente, a outros fatores de confusão, que não puderam ser analisados pelo
presente estudo.
Ao fim do trabalho, os autores chegaram à conclusão que estratégias de promoção de
saúde, como palestras e informações por parte dos médicos, de maneira consistente e as
estratégias de proteção à saúde, como a classificação dos produtos e
industrialização das carnes (confinamento dos animais, congelamento e etc), são as
soluções para a redução da infecção em gestantes e, por conseguinte, a redução da
toxoplasmose congênita.
Fonte: BMJ 2000, 321:127-128.
Copyright © 2002 Bibliomed, Inc. 05 de Dezembro de 2002.
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