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Indignar-se. Ainda é possível?
Antes de tudo vamos pensar no significado dessa palavra: indignar-se é não sentir-se
digno. É ser desprezível, baixo, revoltado, colérico.
Quem de nós já não se sentiu assim e manifestou esse sentimento? Geralmente lidamos
com isso de duas formas: colocamos para fora a nossa indignação e pagamos a conseqüência disso.
Disfarçamos o que sentimos e então geramos um aperto no peito, um sentimento de
insatisfação que se manifesta nos momentos mais estranhos. Às vezes estamos numa praia
maravilhosa, de férias e tem algo dentro de nós que nos incomoda, que nos aperta o peito
e não sabemos dizer o que é. Então ficamos indignados.
Nas duas situações, percebe-se que há uma insatisfação consigo mesmo e isto fica
escondido, ou por manifestarmos nossa indignação ou por não tê-la colocado para fora.
Então, disfarçamos o que sentimos, usando "máscaras" para nos protegermos. Na verdade,
nossa vida é um grande teatro: temos uma máscara para o trabalho - onde nos comportamos
de determinada forma, temos outra máscara para o nosso papel de pai ou mãe - onde
incorporamos outro jeito de ser, temos uma máscara para a vida social, para as festas...
Isso não é de fato um problema. O problema é que nos apegamos mais a determinadas
máscaras e com freqüência são aquelas que manifestam valores, não tão
humanos, mas instintivos. Diz-se não humano, porque é a dignidade, a honra e as
virtudes o que nos fazem humanos.
Ao contrário da ação virtuosa, vivemos uma disseminação de que se deve criticar. E
assim nos detemos muito mais na crítica que na solução dos problemas. E a crítica, com
freqüência, não muda nada. Não faz a diferença no mundo. Faz para nós, que ficamos
ainda mais indignados com a falta de resultado.
Por isso, muitas vezes suprimimos a nossa possibilidade de indignar-se. Perdemos o
referencial que a história das grandes civilizações nos conta. De um homem virtuoso,
digno e com princípios fortes, que ao indignar-se fazia a diferença. Temos aí o exemplo
do filme Gladiador, recém lançado em PoA, que com sua indignação foi digno e partiu
para a ação. E porque fazia a diferença? Porque não ficava apegado a crítica, a
máscara da indignação, ou a máscara da vítima, ou a qualquer outra máscara que
usamos nos diferentes papéis que ocupamos ao longo da vida.
Nós nos apegamos muito a determinado sentimento e esquecemos que somos um universo. E
como um universo, há uma espécie de sol, que liga todas as nossas máscaras, que é a
nossa essência, o nosso Eu mais profundo, mais puro, mais nobre, mais digno. Aí está o
harmonizador de todas as máscaras. É do nosso Eu mais profundo, da nossa alma - como
dizia Platão, que devemos buscar inspiração para as nossas emoções e pensamentos.
O que fazemos com a indignação? No momento que nos desapegamos de uma determinada
máscara de raiva, de indignação e nos dispomos cultivar sentimentos mais nobres, a nos
inspirar no que o homem tem de mais puro e permitir a expressão destes sentimentos, há
uma transformação da indignação para o ato positivo. Começamos a lutar em nome de
algo maior: a dignidade humana. Isso não é receita de bolo e parece absurdo no contexto
atual, mas é o caminho da evolução humana apontado por dois grandes filósofos da
humanidade: Sócrates e Platão. Pela sabedoria que nos deixaram, vale uma reflexão.
Se buscarmos inspiração na natureza, eu diria que deveríamos ser como uma rosa, que
mesmo quando é colhida e se interrompe o seu alimento com a terra, não deixa de oferecer
a sua suavidade, a sua beleza, o seu perfume. Eis a essência humana: a manifestação de
sentimentos nobres que nos inspira para uma maior consciência do que somos.
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