Artigos de saúde

Determinantes Sócio-Econômicos da Saúde

O estresse e a desigualdade social

Está bem estabelecido que a saúde depende de circunstâncias sócio-econômicas, mas a biologia desta relação ainda não foi bem descrita. Fatores psico-sociais que atuam precocemente no curso da vida influenciam grande número de variáveis biológicas.

A qualidade da nutrição parece ter efeitos relevantes, a longo prazo, na desigualdade da saúde. A privação de uma boa nutrição na infância está relacionada com baixo desenvolvimento educacional e problemas de conduta tais como hiperatividade dentre outros. Isto poderia ser um precursor de insegurança emocional no adulto. Alguns estudos sugerem que os padrões de interação entre as crianças e seus pais podem contribuir para a transmissão da vulnerabilidade física e fisiológica entre gerações.

Uma criança com desvantagens sociais significa que ela já tem o primeiro antecedente de estresse.

Um estudo denominado "The Black report", concluiu que o tabagismo, a dieta e outros fatores comportamentais aliados a afeitos biológicos contribuem mas não explicam completamente a desigualdade na saúde.

Influências psicossociais como a auto-estima se relacionam com a distribuição social das condutas de risco.

Outros fatores de estresse, diretamente relacionados com o posicionamento social são a insegurança no trabalho, o trabalho monótono, um mau amparo social, auto-estima baixa e fatalismo.

Os estressores crônicos associados a um baixo posicionamento social podem produzir modificações neuro-endócrinas e no funcionamento fisiológico, com conseqüências posteriores na suscetibilidade a várias doenças.

O ser humano possui uma rápida capacidade de adaptação frente aos desafios externos potencialmente mortais a curto prazo.

A ativação freqüente e prolongada de reação de luta poderia produzir falhas de adaptação e seria fundamental na compreensão da distribuição social das doenças cardiovasculares dentre outras.

A instância principal da atividade neuroendócrina, o sistema simpático, o eixo hipotálamo-hipófise-pituitária coordenam qualquer mudança metabólica e fisiológica.

A rápida liberação de adrenalina a partir da medula adrenal e da noradrenalina a partir das sinapses simpáticas são capazes de produzir hemoconcentração, aumento da vigilância sensorial, aumento da pressão arterial, broncodilatação e otimização das funções cognitivas.

Contudo, a experimentação animal demonstrou que nem todos os indivíduos reagem da mesma maneira frente a uma situação de estresse. Isto poderia ter correlação com a história de estresse e ao condicionamento à posição social.

Em uma segunda fase, mais demorada, ocorre a liberação de cortisol o que também estaria relacionado a fatores psicossociais.

Uma resposta de liberação de cortisol exagerada seria característica da incapacidade de resolução da causa do estresse.

Os corticóides possuem alguns efeitos colaterais tal como a imunodepressão.

Apesar do hipocampo ser o órgão responsável pela liberação dos corticóides, a estimulação prolongada pode provocar a paranóia e/ou a depressão. Esta desordem neuro-hormonal afetaria de forma negativa a predisposição pessoal para ocorrência de algum evento coronário (infarto, morte súbita, etc.).

A síndrome metabólica que associa obesidade à hipertensão, intolerância à glicose, subseqüente à má função do eixo hipotálamo-hipófise, poderia representar os efeitos de um ambiente psicossocial com risco coronário aumentado.

Fonte: British Medical Journal 1997; 314: 1472(17 de Maio)

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