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Neste artigo:
- Introdução
- O Estudo
- Resultados
"A bulimia nervosa consiste em episódios recorrentes do consumo de grandes quantidades de alimentos acompanhado por um sentimento de perda do controle. É significativamente mais comum em mulheres, mas seu início freqüentemente dá-se mais tarde, na adolescência ou na idade adulta jovem. Essa doença acomete aproximadamente 1 a 3% das mulheres jovens. Embora a bulimia nervosa freqüentemente esteja presente em mulheres jovens de peso normal, elas têm, ocasionalmente, uma história de obesidade."
Introdução
As características essenciais da bulimia nervosa são episódios recorrentes de
compulsão periódica (ingestão de uma quantidade de alimentos, definitivamente maior do
que a maioria das pessoas consumiria em um período de tempo); um sentimento de falta de
controle sobre o comportamento alimentar durante as comilanças; vômitos auto-induzidos
(provocados pelo próprio indivíduo), uso de laxantes (substâncias que causam um tipo de
diarréia) ou diuréticos (substâncias que aumentam a diurese - função renal de
produção de urina); regimes alimentares rígidos; jejum ou exercícios físicos
vigorosos, para evitar ganhos de peso; preocupação persistente e exagerada com a forma e
o peso do corpo.
O tratamento da bulimia nervosa consiste
de várias intervenções, incluindo psicoterapia individual de enfoque
cognitivo-comportamental, terapia de grupo, terapia familiar e farmacoterapia (uso de
medicamentos). A terapia cognitivo-comportamental tem como objetivo a extinção de
hábitos ou atitudes mal-adaptativas e sua substituição por novos padrões, apropriados
e não-provocadores de ansiedade. Este tipo de tratamento fundamenta-se nos princípios da
aprendizagem. A psicoterapia interpessoal consiste em uma terapia de grupo psicodinâmica.
Vários estudos verificaram que a terapia cognitivo-comportamental é o tratamento
psicoterapêutico mais eficaz para a bulimia
nervosa. Outro estudo, considerado uma exceção, mostrou que a psicoterapia interpessoal
poderia ser tão eficaz quanto a terapia cognitivo-comportamental, apesar do maior espaço
de tempo para a verificação dos seus efeitos. Esta informação foi recentemente
corroborada por pesquisadores, em um estudo realizado com o objetivo de analisar essa
importante comparação entre os tipos de tratamento da bulimia nervosa.
O Estudo
Para estabelecer uma comparação entre estes dois tipos de tratamento psicoterapêuticos
diferentes, cientistas avaliaram 120 pacientes que se enquadravam nos critérios do
DSM-III-R (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders-Manual para o
diagnóstico de doenças mentais) para bulimia
nervosa. Os resultados do estudo foram publicados na revistaArchives of General
Psychiatry, de maio de 2000. A idade média dos participantes era 28 anos. Todos
apresentavam quadro de alterações alimentares, como ingestão excessiva de alimentos e
remoção destes através de vômitos provocados intencionalmente. Além disso, usavam
laxantes e diuréticos. Os pacientes estudados apresentavam, também, outros aspectos
psicopatológicos (doentios) relacionados à bulimia
nervosa, como episódios de depressão, distúrbio de personalidade e abuso de drogas.
Aproximadamente um quarto dos pacientes tinha uma história de anorexia nervosa (distúrbio caracterizado
por perturbação da imagem corporal e busca incessante de magreza, freqüentemente a
ponto da inanição).
Essa avaliação, que consiste em um estudo multicêntrico, aconteceu um ano após estes
pacientes terem sido submetidos à psicoterapia, como forma de tratamento da bulimia nervosa. Esses pacientes foram,
anteriormente, selecionados de maneira randômica e divididos em dois grupos, estudados e
tratados em locais diferentes, Nova Iorque e Oxford. Um dos grupos foi submetido a
sessões de terapia cognitivo-comportamental e o outro, a sessões de psicoterapia
interpessoal, por um período de vinte semanas. As áreas de avaliação desse estudo
comparativo incluíram a psicopatologia geral, desordens dos hábitos alimentares e valor
das terapias em relação ao sucesso do tratamento.
O tratamento consistiu em 19 sessões individuais, conduzidas por um período de 20
semanas. Cada sessão durava cerca de 50 minutos, sendo duas por semana, nas doze
primeiras semanas e, então, intervalos de duas semanas nas últimas sessões. Durante o
estudo, nenhum paciente recebeu outro tipo de tratamento além da psicoterapia. As
sessões foram gravadas em vídeo e, aleatoriamente, foram selecionados os pacientes
tratados com as duas formas de terapia. A eficácia destas foi avaliada, posteriormente,
pelos pesquisadores.
Resultados
Os pesquisadores analisaram inicialmente, a proporção de recuperação dos
pacientes, definida como a não ocorrência de episódio de comer compulsivamente, ou
provocar vômitos, durante vinte e oito dias. Depois, a proporção de pacientes que
apresentaram episódios de comer compulsivamente e provocar vômitos, menos de duas vezes
por semana, durante o mesmo período. A análise secundária ocorreu um ano após o fim do
tratamento dos pacientes, em que houve uma investigação da taxa de recuperação entre
os dois tipos de terapia estudados.
A psicoterapia interpessoal consiste em um tipo de tratamento em que os resultados são
alcançados mais lentamente, mas, apesar disso, é a primeira terapia que demonstrou
efeitos equivalentes aos da terapia cognitivo-comportamental em se tratando da bulimia nervosa. Assim, pode ser uma
alternativa a ser usada em algumas circunstâncias.
A terapia cognitivo-comportamental compreende três fases sobrepostas. Na primeira fase, o
objetivo principal é educar o paciente sobre a bulimia
nervosa e os processos que a mantém. Os pacientes são auxiliados a regularizarem sua
alimentação. Na segunda e na terceira fases, os procedimentos objetivam, principalmente,
a manutenção da mudança do hábito alimentar. A psicoterapia interpessoal, desenvolvida
por Klerman e colaboradores, foi aplicada à bulimia nervosa, compondo-se de três fases
distintas.
A análise comparativa dos dois tipos de tratamento não evidenciou nenhuma diferença
significativa entre eles. Em relação à recuperação dos pacientes após o período de
tratamento, a terapia cognitivo-comportamental apresentou-se mais eficaz. Uma grande
parcela (29%) dos pacientes tratados com esse tipo de terapia recuperou-se, enquanto
pequena (6%) parcela dos pacientes tratados com a psicoterapia interpessoal obteve o mesmo
resultado.
Nesse estudo, uma vantagem significativa do ponto de vista clínico e estatístico, da
terapia cognitivo-comportamental sobre a psicoterapia interpessoal foi observada ao final
do tratamento.
A conclusão final dos pesquisadores é que a terapia cognitivo-comportamental constitui
uma alternativa de tratamento da bulimia
nervosa que apresenta resultados mais rápidos e eficientes do que a psicoterapia
interpessoal. Isto sugere que a terapia cognitivo-comportamental deve ser considerada
tratamento psicoterapêutico de escolha para esse distúrbio de alimentação.
Fonte: Arch Gen Psychiatry.
Copyright © 2005 Bibliomed, Inc. 23 de Maio de 2005
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