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A Sensação de Dor é Diferente de Pessoa Para Pessoa

Um trabalho do professor Jeffrey Mogil da Universidade de Illinois, apresentado na Associação Americana de Ciências Avançadas em Washington, DC na semana passada mostra que a percepção da dor é altamente individualizada, e não fruto da fraqueza individual de cada um.

Em seu estudo em camundongos, ele demonstrou que os machos e as fêmeas apresentam vias de percepção de dor ligeiramente diferentes. Já é sabido a algum tempo que as mulheres são mais sensíveis a dor do que os homens, apesar de que estas diferenças não são grandes e que nem todos os estudos a confirmam. O trabalho do professor Mogil sugere que existem diferenças qualitativas assim como quantitativas entre os sexos.

Assim, pessoas que se queixam sempre de dores podem estar falando a verdade, uma vez que estas diferenças individuais parecem interferir no chamado limiar de dor – o ponto a partir do qual o indivíduo passa a perceber o estímulo como doloroso. Logo, algo que pode não causar dor em um indivíduo pode ser insuportável para outro.

As diferenças da percepção de dor entre os sexos podem ter aplicações importantes, como no desenvolvimento de analgésicos. A compreensão das diferenças sutis nos cérebros de homens e mulheres pode levar ao desenvolvimento de medicamentos que ajam especificamente nas vias masculinas ou femininas, tornando-os mais eficientes no alívio de dores persistentes.

Outro pesquisador, o professor Allan Basbaun da Universidade da Califórnia em San Francisco, em seu discurso de introdução ao trabalho do professor Mogil, disse ainda que trabalhos recentes têm demonstrado que o sistema de percepção da dor no cérebro é rico em moléculas exclusivas, que podem se tornar alvos terapêuticos no tratamento de dores crônicas.

O tratamento eficiente da dor tem se tornado cada vez mais importante, uma vez que a abordagem terapêutica de muitas doenças esbarra neste impasse. Por exemplo, muitos tipos de cânceres hoje tratados apresentam como sintoma importante a dor insuportável, o que limita a qualidade de vida do indivíduo, e o tratamento eficaz da dor crônica pode aumentar o tempo de vida e a qualidade de vida destes pacientes.

Fonte: British Medical Journal, 2000;320:536

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