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Muitas cesarianas são realizadas cedo demais

NEW YORK – Médicos podem estar sendo rápidos demais na realização de partos cesarianos, quando o trabalho de parto parece estar muito lento, de acordo com os resultados de um estudo. Apesar de que os obstetras podem levar em conta muitos fatores antes de realizar uma parto cesariano, esta pressa não está de acordo com os protocolos profissionais, relatam pesquisadores.

Cerca de 1 milhão de partos cesarianos são realizados por anos nos EUA, e cerca de 300.000 são realizados como resultado de trabalho de parto retardado, ou em outras palavras, "sem progresso". O artigo sugere que em um quarto destes, ou cerca de 70.000 cesarianas devido à falta de progresso foram realizadas relativamente cedo no parto – o que é contrário aos protocolos da Sociedade Americana de Obstetrícia e Ginecologia (ACOG).

O nascimento da criança se dá em vários estágios, e o colo do útero deve se dilatar de 0 até 10 centímetros antes que a criança possa atravessar o canal de parto. A ACOG sugere que a "falta de progresso" apenas pode ser diagnosticada após a fase precoce (ou latente) do parto, o ponto no qual o colo do útero está dilatado em 3 cm nas mães que estão tendo o primeiro filho e 4 centímetros nas que já tiveram um filho antes.

No estudo, a Dra. Deidre Spelliscy Gifford da Escola de Medicina da Universidade Brown em Providence, Ilha de Rodes, e colaboradores observaram os arquivos médicos de 733 partos cesarianos não planejados, e entrevistaram as mães por telefone. Os pesquisadores compararam os motivos dos médicos para realizar a cirurgia com os dados dos arquivos médicos a respeito da duração do trabalho de parto e a dilatação do colo do útero.

Os pesquisadores relatam que a falta de progresso foi a razão para o parto cesariano em 69% dos casos que eles examinaram, e em 16% dos casos, as cesarianas foram realizadas quando o colo do útero estava dilatado em apenas 0 a 2 centímetros. Os autores estimam que 24% de todas as cesarianas devido à falta de progresso podem ter sido realizadas na fase latente do parto, de acordo com o artigo publicado na edição de abril da Obstetrics and Gynecology.

Entre mulheres que realizaram cesarianas quando o colo do útero estava dilatado entre 4 e 9.5cm, os arquivos médicos indicam que os critérios da ACOG para trabalho de parto retardado foram atingidos na maioria das vezes. Vinte e dois por cento das mulheres fizeram uma cesariana quando o colo do útero estava dilatado em 10cm, e, neste caso, 36% não atingiam os critérios para serem classificadas como trabalho de parto prolongado.

Existem várias razões pelas quais os médicos podem optar pela cesariana mesmo quando contrariam os protocolos profissionais, de acordo com Gifford e colaboradores. Por exemplo, quando os médicos vêm que um trabalho de parto progride lentamente, eles podem sentir que o risco de um parto cesariana é menor que o risco de esperar para ver o que acontece. Isto pode ser particularmente verdade em casos que existem outros complicadores além da falta de progresso do parto. Por exemplo, "não avaliação do estado fetal" foi listado como uma razão em 21% das cesárias analisadas no estudo.

Os pesquisadores observam que os médicos provavelmente estão cientes do protocolo para o diagnóstico de parto sem progresso. Eles podem "discordar dos critérios atuais e formular os seus próprios critérios para diagnóstico da falta de progresso do parto," escrevem Gifford e colaboradores.

Mais pesquisas sobre as anormalidades do parto poderiam ajudar a estabelecer quais fatores representam risco para a mãe e a criança e quais podem ser observados com segurança sem intervenção, concluem os autores.

FONTE: Obstetrics and Gynecology 2000;95:589-595.
Publicado em Bibliomed Saúde em 13/04/2000

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