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As redes sociais e as notícias falsas: uma preocupação recente em Medicina

Equipe Editorial Bibliomed

Neste artigo:

- Introdução
- Pesquisas recentes
- Uso das redes sociais por Instituições Médicas
- Conclusões
- Referências

Introdução

As mídias sociais são uma fonte de notícias e informações para uma parcela crescente do público em geral, e também dos médicos. A eleição presidencial nos Estados Unidos no ano de 2016 foi um exemplo vívido de como a mídia social pode ser usada para a rápida disseminação de "notícias falsas", e que as postagens nas mídias sociais não estão sujeitas a checagem de fatos ou revisão editorial. Um exemplo recente são as informações falsas relativas a efeitos colaterais de vacinas, tendo como consequências que pais deixam de aplicar vacinas em seus filhos.

O campo médico é suscetível à propagação de desinformação, com pouca diferenciação entre informações autenticadas e errôneas. Devido à presença de "bolhas" sociais, os médicos podem não estar cientes da desinformação que os pacientes estão lendo e, portanto, pode ser difícil neutralizar a informação falsa que é vista pelo público em geral. Profissionais médicos também podem ser propensos a disseminação não reconhecida de informações erradas e devem ser diligentes para garantir que as informações que compartilham sejam precisas.

Assim é que a desinformação e a falsidade das notícias de saúde nas mídias sociais constituem uma ameaça potencial à saúde pública, mas o escopo dessa questão ainda não está totalmente claro. Recentes estudos buscaram medir várias das principais histórias de desinformação sobre saúde compartilhadas nas mídias sociais.

Pesquisas recentes

Por exemplo, na Polônia, pesquisadores usando o aplicativo BuzzSumo, avaliaram uma variedade dos principais links da Web de saúde compartilhada na mídia social em polonês foi avaliada durante o período entre 2012 e 2017. Foram usadas as seguintes palavras-chave relacionadas às doenças e causas mais comuns de morte: câncer, neoplasia, ataque cardíaco/ infarto, acidente vascular cerebral, hipertensão, diabetes, vacinas, HIV e AIDS. Cada link foi verificado para a presença de notícias falsas.

Neste estudo, verificou-se que 40% dos links compartilhados com mais frequência continham texto que foi classificado como sendo de notícias falsas. Estes foram compartilhados mais de 450.000 vezes. O conteúdo mais falacioso dizia respeito às vacinas, enquanto as notícias sobre doenças cardiovasculares eram, em geral, bem-vindas e informativas. Mais de 20% dos links perigosos deste material foram gerados por uma única fonte, o que indica a possibilidade de uma ampla divulgação de uma informação falsa através das redes sociais.

Em um outro exemplo recente, porém não especificamente na área médica, investigadores buscaram responder quais seriam as características estruturais e dinâmicas do núcleo da rede de difusão de desinformação e quem são seus principais fornecedores? Como reduzir a quantidade total de desinformação? Para explorar essas questões, construiu-se o Hoaxy, uma plataforma aberta que permite estudos sistemáticos e em grande escala sobre como a desinformação e a checagem de fatos se espalham e competem no Twitter. O Hoaxy captura tweets públicos que incluem links para artigos de fontes de baixa credibilidade e verificação de fatos. A pesquisa realizou a decomposição do k-core em uma rede de difusão obtida a partir de dois milhões de retweets produzidos por várias centenas de milhares de contas nos seis meses anteriores à eleição. À medida que se move da periferia para o centro da rede, a verificação de fatos quase desaparece, enquanto os robôs (bots) sociais proliferam. Assim, verificou-se nos EUA que o número de usuários no núcleo principal da rede alcança o equilíbrio na época da eleição, com usuários limitados e conexões cada vez mais densas. Essas descobertas fornecem uma primeira olhada na anatomia de uma rede massiva de difusão de informações incorretas online.

Os bots sociais são contas automatizadas que usam inteligência artificial para influenciar discussões e promover ideias ou produtos específicos. Na área de saúde, um exemplo refere-se ao uso de cigarros eletrônicos (e-cigarros). Pesquisadores da USC se concentraram em como esses bots promoveram a noção de que o uso de cigarros eletrônicos ajuda as pessoas a pararem de fumar, uma conclusão não apoiada definitivamente por sua pesquisa.

Uso das redes sociais por Instituições Médicas

Nada seria mais natural que as Instituições e Associações Médicas sérias passassem a também usar as mídias sociais para divulgar notícias e informações corretas, e se aproximar do público em geral. Mas seria o seu alcance adequado?

Para responder a tal questão, outro estudo usou dados abertos do Twitter ​​para caracterizar quatro redes: a American Medical Association (AMA), a Academia Americana de Médicos de Família (AAFP), a Academia Americana de Pediatria (AAP) e o American College of Physicians (ACP). Os dados foram coletados entre julho de 2012 e setembro de 2012. A visualização foi utilizada para entender a sobreposição de seguidor entre os grupos. O fluxo real dos tweets para cada grupo foi avaliado. Os tweets foram examinados usando o Topsy, um agregador de dados do Twitter.

Nos resultados, verificou-se que o potencial teórico de disseminação de informação para os grupos é grande. Uma comunidade coletiva está surgindo, onde grandes porcentagens de indivíduos estão seguindo mais de um dos grupos. A sobreposição entre os grupos é pequena, indicando uma quantidade limitada de coesão da comunidade e fertilização cruzada. A rede de seguidores da AMA não é tão ativa quanto as outras redes. A AMA publicou o maior número de tweets enquanto a AAP publicou o menor número. A observação mais preocupante foi que o número de retweets de cada organização foi baixo, indicando uma disseminação muito abaixo do seu potencial.

Conclusões

A análise das principais notícias compartilhadas na mídia social poderia contribuir para a identificação de informações médicas falsas que chegam à sociedade. Pode também encorajar as autoridades a tomarem medidas como colocar avisos em domínios tendenciosos ou avaliar cientificamente aqueles que geram notícias falsas sobre saúde (fazendo a checagem dos fatos).

Por outro lado, para aumentar o potencial de disseminação de informações corretas, os grupos médicos devem desenvolver uma comunidade mais coesa de seguidores compartilhados. O conteúdo do tweet deve ser atraente para fornecer um gancho para retweetar e alcançar público potencial. Os próximos passos exigem análise de conteúdo, avaliação do comportamento e das ações dos mensageiros e dos receptores e um estudo em maior escala que considere outros grupos médicos usando o Twitter.

Referências

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