Artigos de saúde

Ciúme

© Equipe Editorial Bibliomed

Neste Artigo:

- Introdução
- Características do Ciúme
- Síndrome de Otelo
- Tempero do Amor?

Introdução

O ciúme pode ser considerado uma das emoções mais comumente vivenciadas pelos seres humanos. Caracteristicamente, ele é desencadeado por uma sensação de ameaça a um relacionamento pessoal valorizado pelo indivíduo. Muitos autores consideram o ciúme uma reação de adaptação, que se desenvolveu juntamente com a evolução da espécie humana, como uma defesa contra ameaças de infidelidade e abandono.

Existem várias definições para o ciúme, sendo que em todas elas podemos identificar três importantes aspectos: (1) reação frente a uma ameaça percebida; (2) existência de um "outro", real ou imaginário; e (3) reação que tem como objetivo eliminar o risco de perda do objeto amado.

É dito popular que o ciúme é o tempero do amor, porém essa emoção pode muitas vezes ultrapassar os limites do que é considerado normal, sendo fonte de grande sofrimento para as duas pessoas envolvidas.

Características do Ciúme

O campo do ciúme é um terreno acidentado e instável, onde a diferenciação entre o que é real e o que é imaginário frequentemente não é muito simples. Primeiramente surgem as dúvidas, que podem transformar-se em idéias delirantes. A partir daí, a pessoa passa a buscar a confirmação dessas dúvidas. Para isso, ela faz telefonema surpresa, chega à casa sem avisar, segue o(a) companheiro(a), contrata detetives, examina bolsos, roupas íntimas, etc. Infelizmente, as dúvidas nunca são satisfeitas.

Apesar de o ciúme parecer ser uma tentativa inconsciente de preservar e proteger o sentimento "amor", ele frequentemente dá vazão a sentimentos extremamente desagradáveis, como a raiva, a vergonha, o medo da perda, explosões emocionais e até reações violentas. Segundo a terapeuta Marilandes Braga, o ciúme vem de dentro da pessoa e se liga à baixa de auto-estima e à insegurança. Em complementação, o psiquiatra Eduardo Santos afirma que o ciúme nada mais é que um sentimento voltado para a própria pessoa que o sente, representando o medo de perda do outro ou de sua exclusividade sobre ele.

Segundo o Dr. Eduardo, poderíamos classificar o ciúme em três tipos:

• O tipo normal é o mais comum. A pessoa sente-se enciumada naquelas situações nas quais ela se veja excluída ou ameaçada de exclusão na relação com o outro. Ela costuma até mesmo discutir esse sentimento com o(a) companheiro(a), podendo tirar algumas conclusões sobre seu jeito de ser.

• No segundo tipo, existe uma sensação constante de angústia e instabilidade, insegurança e fragilidade da relação. A pessoa fica em um "estado de tensão" permanente. Procura-se continuamente a comprovação das dúvidas, podendo-se adquirir uma postura agressiva e acusadora.

• O terceiro tipo é o "ciúme patológico", no qual a desconfiança do ciumento dá lugar a uma certeza infundada de que ele está realmente sendo traído ou abandonado. A pessoa pode cometer atos extremos de agressividade, podendo levar a homicídios passionais.

Síndrome de Otelo

A denominação de síndrome de Otelo, para os casos de ciúme patológico, faz alusão ao personagem do escritor inglês William Shakespeare. No conto, a personagem se vê imersa em um mar de dúvidas e pensamentos fantasiosos de que sua mulher o estaria traindo, alimentadas por uma outra pessoa, que acaba assassinando sua amada.

O ciúme patológico se caracteriza por um desejo intenso de controle total dos sentimentos e comportamento do(a) companheiro(a). A pessoa tem preocupação exagerada com os relacionamentos anteriores do outro, o que pode gerar idéias repetitivas e obsessivas, que não conseguem ser eliminadas. Esse medo desproporcional e irracional de perder o parceiro acaba levando a um comprometimento das relações. Alguns autores consideram que a característica principal desse tipo de ciúme seria o medo infundado, sem razão, e não na sua intensidade.

O indivíduo portador desse distúrbio experimenta diversas sensações, como a ansiedade, a depressão, a raiva, a vergonha, a humilhação, culpa, aumento do desejo sexual e o desejo de vingança. Acho interessante a comparação desse paciente com um vulcão emocional, que está prestes a entrar em erupção. Esses pacientes apresentam grande tendência a atitudes violentas. Segundo Palermo, a maioria dos casos de suicídio cometidos após um homicídio são devidos a ciúme patológico. Vale ressaltar que o ciúme patológico pode ser observado em associação a diversas doenças psiquiátricas.

O tratamento deve ser sempre buscado, já que esse ciúme é fonte de grande sentimento para o casal, inclusive para o ciumento.

Tempero do Amor?

Alguns autores consideram que, quando vivenciado de maneira equilibrada, o ciúme pode favorecer a relação, fortalecer a paixão e o compromisso. Eles alegam que a ausência de ciúmes seria muito pior, na medida em que poderia indicar indiferença e rejeição.

Uma atitude muito comum nos relacionamentos interpessoais é a provocação do ciúme por um dos parceiros. Homens e mulheres lançam mão de diferentes táticas, com o objetivo hipotético de se sentir seguro em uma relação. Entre essas táticas, podemos destacar: fingir indiferença; usar roupas provocantes; troca de olhares e demonstração de interesse por outro(a); entre outras. Se o(a) companheiro(a) reage com indiferença, decodifica-se que não existe amor.

Segundo o psicólogo David Buss, alguns sinais de ciúme podem ser encarados como atos de amor. Ao vivenciar o ciúme, vivencia-se também, inconscientemente, a intensidade do sentimento amoroso. Assim, reforça-se a hipótese de que o ciúme seria um mecanismo de proteção da relação a dois, na tentativa de afastar os rivais. Segundo Maria Clara Heise, a sensação do ciúme pode ser dolorosa, mas é um alerta para possíveis ameaças de abandono e traição.

Copyright © Bibliomed, Inc. Publicado em 12 de Junho de 2008. Revisado em 11 de junho de 2013.