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Pesquisa revela a associação entre a prevalência da AIDS e o comportamento sexual

A África do Sul está protagonizando um dos crescimentos mais rápidos da epidemia de HIV no mundo. Em 1990, a prevalência de infecção por HIV entre mulheres acompanhadas em clínicas de pré-natal era inferior a 1%. Ao fim de 1999, a prevalência havia alcançado 23%.

A maioria dos estudos que vêm sendo realizados na África sub-Sahara tem investigado fatores de risco para a infecção entre adultos. Mas os jovens, especialmente as mulheres jovens, têm um risco particularmente alto de serem infectadas em vários dos países em desenvolvimento.

Um grupo de pesquisadores franceses, dentre eles o Dr. Bertran Auvert, publicou recentemente um estudo relatando uma prevalência extremamente alta de HIV entre mulheres (34%) e homens (9%), de idade entre 14 e 24 anos, em uma cidade portuária, no distrito de Carletonville, África do Sul. A prevalência entre mulheres com idade de 24 anos foi 66%, uma das mais altas já documentadas na população em geral.

Os autores sugerem que este achado ocorra devido às altas taxas de transmissão do HIV dos homens para mulheres, e que o HSV-2 (Vírus Herpes Simples tipo 2) tenha um importante papel na disseminação do HIV nesta população.

Os pesquisadores informam que a alta prevalência da infecção por HIV entre jovens mulheres comparada à prevalência entre os homens neste estudo de Carletonville não se deve apenas a altas taxas de infecção entre os parceiros ou aos altos níveis de atividade sexual.

De fato, em quase todos os estudos realizados no Leste e no Sul da África pela Organização Mundial de Saúde, os homens relatam uma variedade de parceiros mais alta que as mulheres, antes do casamento, sendo que neste estudo a média do número de parceiros foi 4.7 para homens e 2.6 para mulheres.

Um motivo para esta discrepância na prevalência de HIV entre jovens homens e mulheres é que o HIV é transmitido mais facilmente do homem para a mulher que da mulher para o homem.

Estudos em países industrializados têm mostrado que, na ausência de outros fatores de risco, os homens têm uma probabilidade duas ou três vezes maior de transmitir o vírus para as mulheres que vice-versa.

Entretanto, as estimativas de transmissibilidade do HIV de homens para as mulheres no estudo de Carletonville são significativamente maiores que isso, mesmo contando com a possibilidade de que as mulheres tenham sub-relatado seu número de parceiros sexuais.

Os pesquisadores encontram várias explicações possíveis para este achado. Um estudo recente mostrou que a carga viral é um importante preditor do risco de transmissão heterossexual do HIV, e as cargas virais são provavelmente maiores na África do Sul que na Europa ou nos Estados Unidos, devido à menor disponibilidade de drogas efetivas e de tratamento. Outro fator poderia ser a alta prevalência de HSV- 2 nesta população, sendo que o HSV-2 pode facilitar a infecção pelo HIV.

No estudo de Carletonville, a infecção pelo HSV-2 foi o fator mais significativo associado à infecção por HIV tanto para homens quanto para mulheres. Homens infectados com HSV-2 tinham probabilidade sete vezes maior de terem infecção por HIV do que homens sem HSV-2.

O HSV-2 age como co-fator na transmissão do HIV por causar úlceras genitais que aumentam a susceptibilidade à infecção (naqueles não infectados) e por aumentar a infectabilidade (naqueles que já carregam o vírus).

Reduzir a transmissão do HIV nesta população é um importante desafio. No momento, o herpes genital pode apenas ser tratado a um custo considerável, e não há vacina disponível em circulação.

Logo, as melhores opções para reduzir a transmissão incluem campanhas de publicidade com o objetivo de alertar a população para as manifestações relativamente discretas do herpes genital e para a necessidade de se abster do contato sexual enquanto tais lesões persistem.

Além disso, é importante encontrar caminhos para persuadir os jovens a reduzirem o número de parceiros sexuais e, o mais importante de tudo, para aumentar substancialmente o uso da camisinha. Neste estudo, 41% dos homens e 42,5% das mulheres afirmaram nunca ter usado camisinha.

Como a maioria das pessoas neste estudo estava ainda na escola por ocasião da primeira experiência sexual, tentativas de limitar a expansão futura da epidemia por HIV deveriam envolver não apenas a prevenção na comunidade, mas também intervenções efetivas baseadas na escola, como uma parte essencial do currículo escolar.

Fonte: AIDS 2001, 15,Nº 7: 1461-1668

Copyright © 2001 Bibliomed, Inc.                 03 de Dezembro de 2001.