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Transplante de Órgãos: Uma Tarefa Difícil na América Latina

A doação de órgãos é um ato solidário, por meio do qual implanta-se um tecido orgânico procedente de um doador em um receptor.

Existem dois grandes grupos de transplantes: os transplantes de órgãos (rim, fígado, pulmões, pâncreas, córnea, coração, ossos, tubo digestivo) e os transplantes de tecidos (medula óssea, células endócrinas).

Enquanto os primeiros precisam de intervenções cirúrgicas complexas, realizando-se ligações vasculares e de condutores excretores entre outras estruturas, nos transplantes de tecidos o procedimento é mais simples, injetando-se as células suspensas (na medula óssea injeta-se na corrente sangüínea) e deixando que estas implantem-se em seu destino.

Segundo o Dr. Jorge de Luca, especializado em Transplante de Órgãos Sólidos, de Buenos Aires –Argentina, fala-se de alotransplante quando o órgão procede de outro organismo da mesma espécie, autotransplante quando procede do próprio paciente e xenotransplante, quando o órgão procede de um animal de outra espécie.

Um dos principais problemas a ser resolvido é o controle dos mecanismos de rejeição. Com esta finalidade estudam-se os sistemas de histocompatibilidade, tanto do doador como do receptor, para que estes sejam o mais compatível possível.

Para De Luca, na América Latina há um instituto líder neste campo que é o I.N.C.U.C.A.I da Argentina, onde não somente orienta-se e efetua-se os transplantes como também valoriza-se a doação de órgãos fundamentando-se em dois aspectos.

Por um lado, a necessidade de contar com uma maior presença institucional da sociedade, e por outro lado, sustentado nesta presença, promover o caminho da reflexão em torno da doação de órgãos, através da qual cada indivíduo poderá estabelecer uma postura frente a esta problemática.

Quem pode doar os órgãos?

Os requerimentos exigidos e trâmites estabelecidos são quase iguais em todos os países onde efetuam-se este procedimento. Toda pessoa maior de 18 anos e legalmente capaz, pode fazer uso deste princípio humanitário universal.

De acordo com o que foi estabelecido pela lei de transplantes na maior parte das nações, a expressão da vontade de ser doador depois da morte pode realizar-se mediante dois procedimentos:

1. Através da assinatura de uma ata de doação, mediante a qual autoriza-se a ablação ou extração de órgãos (coração, pulmão, rins, fígado e pâncreas) ou os materiais anatômicos (válvulas cardíacas, ossos) de seu próprio corpo e onde especifica-se com que fim, seja para transplante e/ou investigação.

Para manifestar esta decisão, somente é necessário anexar à ata a cópia do documento de identidade, nos principais estabelecimentos hospitalares e diversas dependências habilitadas da área de saúde tanto nacional, estadual e municipal. Esta ata de manifestação efetuada pelo doador será resguardada pelos institutos onde houver interesse do doador, enquanto o indivíduo recebe o carne de doador, onde certifica-se sua vontade.

2. Expressar a vontade de autorizar a extração de órgãos depois da morte. A dita manisfestação será recebida por todo funcionário do registro de Estado Civil e capacidade de pessoas.

América Latina: Começando o trabalho

Na América Latina realizam-se todo o tipo de transplantes de órgãos, com uma ênfase especial em órgãos sólidos e em medula (órgãos brandos).

Apesar disso, o acesso à tecnologia e a pouca educação que existe a respeito deste tema, têm feito da região uma zona onde ainda a quantidade das intervenções é limitada para a demanda existente, sustenta o Dr. Humberto Bohórquez, chefe do Departamento de Transplantes do Seguro Social (ISS), na Colômbia.

Segundo o especialista, na Colômbia ainda “se trabalha com as unhas” por falta de recursos, porém alguns centros estão se especializando em transplantes específicos que permitem que o país realize procedimentos renais, de córneas e coração.

Os transplantes renais são realizados no ISS em Bogotá, especificamente em pacientes que sofrem de diabetes de alto risco. O transplante de córnea é realizado pela Clínica Barraquer, uma das mais prestigiadas entidades deste gênero no mundo.

Finalmente, em Medellín lideram-se programas para tratar dos transplantes em pacientes que sofrem de insuficiência cardíaca, e não responderam de maneira satisfatória ao tratamento farmacológico.

Da mesma forma, países como o México, Argentina e Chile estão especializando-se em algumas áreas de transplantes, porém nenhum dos países têm capacidade de cobrir uma gama suficiente de intervenções. Desta forma, o resultado mais freqüente é que as operações de transplantes realizem-se com acordos entre clínicas e hospitais de diversos países.

O Tráfico de Órgãos

Segundo Bohórquez, a complexidade de um transplante e a dificuldade de encontrar doadores têm pressionado – desafortunadamente - a existência de um mercado negro de órgãos, que longe de resolver os problemas dos pacientes, os prejudicam.

Além disto, os transplantes requerem uma infra-estrutura tão complexa que realizar operações clandestinas é, na prática, impossível. Para realizá-la, precisaria de uma associação ilícita composta por vários profissionais somada a uma infra-estrutura que somente pode ser oferecida por um grande hospital ou uma clínica, estatal ou privado, e falar em investimentos miliomários em equipamentos e profissionais que estariam arriscando-se em um delito facilmente detectável.

Para ter uma idéia sobre a magnitude destas operações, devemos levar em consideração que um transplante de fígado requer em média 12 horas de cirurgia. Tratam-se de técnicas cirúrgicas de alta especialização e portanto, aplicadas por um pequeno grupo de especialistas muito conhecidos, o que torna perigosa e até ridícula a prática ilegal.

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