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Atividade Física e o Risco de Derrame Cerebral em Mulheres

Atividade Física

A atividade física regular é considerada um aspecto fundamental de um estilo de vida saudável. Entretanto, a vida moderna tem transformado o ser humano, de uma criatura ativa em um ser sedentário, sendo as mulheres ainda mais sedentárias do que os homens.

Vários estudos têm mostrado que o exercício físico induz adaptações em vários órgãos e sistemas que resulta em um aumento da aptidão física. Por outro lado, outros estudos têm demonstrado também que a atividade física continuada exerce um efeito protetor contra o infarto do coração, a hipertensão arterial, o diabetes melito, a osteoporose, o câncer de intestino, a ansiedade e depressão. E mais, estes estudos também indicam que indivíduos que se exercitam regularmente têm menor risco de morte por quaisquer outras causas. Esses trabalhos também apontam que as pessoas que iniciam a atividade física mesmo durante a meia idade podem obter essa proteção em relação ao risco de morte.

O Centers for Disease Control and Prevention and National Institutes of Health dos Estados Unidos recomenda cerca de 30 minutos diários de atividade física de moderada intensidade. Contudo, o papel de atividade física de baixa a moderada intensidade, como a caminhada, quando comparado com exercícios vigorosos, em relação à prevenção de doenças cardiovasculares, permanece controverso. Será extremamente importante determinar a eficiência da caminhada, tanto quanto a de exercícios físicos vigorosos, visto que essa é a atividade física mais popular, principalmente entre mulheres de meia idade e idosas.

Derrame Cerebral

Apesar de já ser conhecida a associação da atividade física com a diminuição de riscos em várias doenças, ainda não está bem estabelecida a sua relação com o derrame cerebral (acidente vascular cerebral, ou AVC). Todos os estudos têm sido inconsistentes, sendo que alguns demonstram que a atividade física exerce uma importante proteção, enquanto que outros não revelam essa relação. Além do mais, esses estudos prévios foram realizados com homens e não com mulheres.

O derrame cerebral está relacionado com hábitos de vida, como o fumo e a alimentação. É a terceira principal causa de morte, e a segunda causa de deficiência neurológica, nos países desenvolvidos. A raça negra é mais atingida do que a raça branca. Taxas aproximadamente semelhantes são observadas entre homens e mulheres, em contraste com o predomínio masculino para o infarto do coração. Além disso, verifica-se uma incidência maior em indivíduos acima de 75 anos.

O derrame cerebral pode ser classificado de acordo com o fato de afetar focal ou difusamente o suprimento de sangue ao cérebro. A expressão genérica "derrame cerebral", refere-se ao súbito comprometimento da função cerebral provocado por alterações envolvendo um ou vários vasos sangüíneos, dentro ou fora do cérebro. A maioria dos derrames cerebrais é causada por deficiência do fluxo sangüíneo (AVC isquêmico), decorrente da obstrução das artérias cerebrais por placas de gordura ou por trombos vindos do coração ou da artéria carótida. O restante é provocado por hemorragias (AVC hemorrágico), que podem ser devidos a rompimento de vasos sangüíneos ou de aneurismas e essas hemorragias podem ser dentro do tecido cerebral (parenquimatoso) ou dentro do espaço que circunda o cérebro (espaço subaracnóideo).

O Estudo

Diante do fato de não ser saber exatamente o índice de associação entre a atividade física e o risco de derrame cerebral, faz-se necessário a realização de novos estudos para se estabeler essa associação. Com este objetivo, um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos (do Harvard School of Public Health, do Harvard Medical School and Brigham and Women's Hospital, Boston, Mass), liderados pelo Dr. Frank B. Hu, conduziram um estudo para análise da atividade física em mulheres e o risco de derrame cerebral. Nesse estudo, os autores avaliaram também o papel da caminhada na prevenção do derrame cerebral, comparando-a com atividades físicas de alto impacto. Os resultados foram publicados na revista JAMA, Journal of the American Medical Association.

Eles acompanharam um grupo de 72.488 enfermeiras, com idade entre 40 e 65 anos, que não apresentavam diagnóstico prévio de doença cardiovascular ou de câncer. Elas responderam um questionário detalhado sobre o grau de atividade física de cada uma, nos anos de 1986, 1988 e 1992. O questionário requeria informações a respeito do tempo gasto com exercícios semanalmente, e qual era a atividade praticada. As mulheres que praticavam caminhada foram questionadas à respeito do rítmo (contínuo e intermitente ou casual) e da freqüência semanal da mesma. As atividades consideradas de alta intensidade foram o jogging, a corrida, o ciclismo, a aeróbica, a dança, a natação, a hidroginástica e o tênis. A caminhada foi classificada como atividade física de média intensidade, quando contínua e intermitente. Os pesquisadores analisaram o número de casos de derrame cerebral que ocorreram de 1986 até 1994, comparando o resultado com o nível de atividade física de cada enfermeira.

Resultados

Durante oito anos, foram documentados 407 casos de derrame cerebral, sendo 258 casos de AVC isquêmico, 67 casos de AVC hemorrágico subaracnóideo, 42 casos de AVC hemorrágico parenquimatoso e 40 casos de derrame com tipo indeterminado. Após o ajustamento em relação à idade, ao tabagismo, ao índice de massa corporal (que avalia obesidade), à história de hipertensão arterial e a outras variantes, um maior grau de atividade física se mostrou inversamente proporcional, ou seja, quanto maior o grau de atividade física, menor foi o número de derrame cerebral. Essa proporção foi vista principalmente em relação ao AVC isquêmico, não mostrando uma associação em relação aos derrames hemorrágicos. A principal atividade física relatada foi a caminhada, considerada uma atividade física de moderada intensidade e associada a um menor risco de derrame cerebral. A caminhada feita de forma contínua e intermitente, com agilidade e passos largos, se mostrou relacionada a um menor risco de derrame cerebral, em comparação a caminhadas casuais.

Conclusão

Os autores acreditam que este estudo provou que a prática de atividade física está associada a uma substancial redução no risco de derrame cerebral em mulheres. Eles observaram também que a magnitude do risco é similar em atividades de média ou alta intensidade, e que esses achados estão de acordo com as recomendações do Centers for Disease Control and Prevention and the National Institutes of Health, que estabelece a prática de atividade física de média intensidade, para prevenção de doenças crônicas.

Fonte: JAMA 2000;283:2961-2967

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